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Economia

Trabalhadores pretos e pardos ganham 70% menos do que os brancos

Neste domingo (20) é comemorado o Dia da Consciência Negra. Levantamento mostra que diferenças econômicas continuam grandes entre negros e brancos no Brasil.

Em busca de uma vida mais próspera, Anderson Pinheiro, de 28 anos, trocou sua vida em Barcarena, município paraense banhado pelo Rio Tocantins, pela cidade de São Paulo, há 7 anos.

Após perder o emprego de segurança, ele mudou-se para a Zona Norte da capital paulista com sua mulher e três filhos. Com o Ensino Médio concluído, ele teve que abandonar o sonho de estudar Direito para sustentar sua família. Atualmente, ele vende frutas em uma barraquinha na periferia de São Paulo.

“Quando cheguei aqui não tinha nem o dinheiro da passagem pra ir até a casa da minha mãe. Hoje pago R$ 600 de aluguel, no lugar mais em conta que achei. Vira e mexe tem uma conta atrasada pra pagar”

Anderson Pinheiro, vendedor ambulante

Com um rendimento de menos de dois salários mínimos por mês, Anderson não desanima e com um sorriso no rosto tenta cativar possíveis compradores. E assim como milhares de brasileiros, ele integra a lista de trabalhadores informais e rendimento médio abaixo de R$ 2 mil.

Vendedor ambulante Anderson Pinheiro, de 28 anos, integra a lista do trabalho informal no país. (Foto: Tatiana Santiago/InvestNews)

O ambulante também contou ao InvestNews que já sofreu preconceito e enfrentou dificuldades em encontrar um trabalho formal, com uma melhor remuneração, por causa da cor da sua pele.

Neste domingo (20), Dia da Consciência Negra, vemos que a população negra brasileira continua enfrentando grande desigualdade econômica e no mercado de trabalho.

O rendimento médio dos trabalhadores brancos chega a ser 70% superior do que da população negra no Brasil. Em 2021, o salário médio dos branco foi de R$ 3.099, enquanto dos pretos era R$1.764, e dos pardos, R$1.814. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) fazem parte do levantamento Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, divulgado na última semana.

Os brancos receberam em média R$ 19 por hora de trabalho no Brasil, um valor que superou em cerca de 74% o rendimento dos pretos de R$ 10,90, e em 68% a hora dos pardos de R$ 11,30.

“O estudo aponta que os rendimentos são maiores entre aqueles que têm maiores níveis de instrução, mas as diferenças por cor ou raça permanecem nesse recorte. As pessoas brancas com ensino superior completo ou mais ganharam em média 50% a mais do que as pretas e cerca de 40% a mais do que as pardas”

IBGE

Já no caso dos trabalhadores com ensino superior completo ou mais, o rendimento médio por hora dos brancos (R$ 34,40) foi em torno de 50% maior do que o dos pretos (R$ 22,90) e cerca de 40% superior ao dos pardos (R$ 24,80).

A informalidade também atinge mais pretos e pardos do que brancos no país. Em 2021, a taxa de informalidade era 40,1%, mas os brancos tinham uma taxa menor (32,7%), e os pretos (43,4%) e pardos (47%), maior que a média nacional.

Desigualdade no mercado de trabalho

A desocupação, a subutilização e a informalidade continuam atingindo mais pretos e pardos do que os brancos.

Se considerarmos a linha de pobreza monetária proposta pelo Banco Mundial, a proporção de pessoas pobres no país era de 18,6% entre os brancos e praticamente o dobro entre os pretos (34,5%) e entre os pardos (38,4%).

Para o jornalista Maurício Pestana, ex-secretário municipal de Igualdade Racial de São Paulo e CEO da Revista Raça, a disparidade tem um motivo histórico.

“As diferenças e desigualdades permanecem por uma razão muito simples, é uma questão estrutural, que ocorre desde a educação. E, mesmo com aumento da escolaridade, normalmente, os negros não conseguem alcançar os cargos que possuem os maiores salários, como os gerenciais, por falta de indicação.”

Maurício Pestana, ex-secretário municipal de Igualdade Racial de São Paulo

No ano passado, as taxas de desocupação foram de 11,3% para os brancos, de 16,5% para os pretos e de 16,2% para os pardos. Em 2020, esses percentuais foram de 11,1%, 17,4% e 15,5%, respectivamente. 

A taxa de subutilização era de 22,5% entre os brancos, enquanto era de 32% entre os pretos e 33,4% entre os pardos. O termo subutilizado compreende desempregados, pessoas que trabalham menos horas do que gostariam e os trabalhadores que não buscam emprego, mas gostariam de trabalhar.

Enquanto os brancos representavam 43,8% da força de trabalho (soma de ocupados e desocupados), os pretos eram 10,2% e os pardos, 45%. Mas os percentuais de pretos e pardos são mais altos entre os desocupados: 12% e 52%, respectivamente. Já os brancos eram 35,2% dos desocupados em 2021.

Cargos gerenciais

Os ocupados pretos ou pardos eram maioria, o equivalente a 53,8% do total no mercado de trabalho em 2021. No entanto, a população negra ocupava somente 29,5% dos cargos gerenciais, enquanto os brancos ocupavam 69% deles.

Na classe de rendimento mais elevada, somente 14,6% dos ocupados nesses cargos eram pretos ou pardos, enquanto entre os brancos essa proporção era de 84,4%.

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