‘1001 utilidades’: Bombril faz acordo milionário para renegociar dívidas

A Bombril, que se consagrou com as propagandas sobre suas “1001 utilidades” e se transformou em um verdadeiro ícone para as esponjas de aço, anunciou nesta quarta-feira (29) um acordo com um fundo de direitos creditórios (FIDC) para concessão de linhas de crédito no montante de R$ 300 milhões.

O acordo, segundo fato relevante ao mercado, envolve contrato de promessa de transmissão e aquisição de direitos creditórios, acertado pela Bombril com o Fundo Bs Factoring. A ideia é que a companhia use os recursos levantados para quitar dívidas recentes. A amortização da nova dívida será feita no decorrer de quatro anos em parcelas mensais por meio de direitos creditórios de recebíveis de clientes da marca, a exemplo de atacadistas e distribuidores.

“No momento, as partes já acordaram que as linhas de crédito a serem desembolsadas pelo Fidc serão amortizadas no prazo 48 meses, com remuneração de 2,21% ao mês”.

fato relevante da bombril

A Bombril também afirmou que os recursos vão ser usados para “reperfilamento de estrutura de capital de terceiros, melhorando seus índices e indicadores com redução em suas taxas de empréstimos e financiamentos”. Traduzindo: vai alongar seu endividamento e reduzir o custo da dívida.

Desempenho das ações BOBR4

Apesar de todo o sucesso da marca no passado, investidores comprados na companhia não estão colhendo bons resultados. No ano até esta quarta, as ações da Bombril (BOBR4) acumulam queda de 7,94%. Nos últimos cinco anos, a desvalorização é de 79%.

Os papeis estavam sendo negociados a R$ 1,16 no início da tarde deste pregão. Em maio de 2007, chegaram a atingir a máxima de R$ 18,80. Logo, o que explica tamanha queda?

Endividamento

A dívida bruta da Bombril é de R$ 401 milhões a um custo médio de 24% ao ano. A maior parte desse montante (77%) vence em 12 meses, sendo este o maior desafio da companhia.

Com a recente captação de R$ 300 milhões junto ao fundo Bs Factoring, a empresa espera poder administrar melhor o prazo da dívida.

Segundo auditoria da PricewaterhouseCoopers em relatório de resultados do 4º trimestre, há dúvidas sobre a continuidade operacional da marca caso não haja um alinhamento entre fluxos de pagamentos, redução nos juros do custo da dívida e um maior prazo para o pagamento destas.

“A companhia apresentou prejuízo acumulado em 31 de dezembro de 2022 de R$ 1,120 bilhão, excesso de passivos sobre ativos circulantes no encerramento do exercício no montante de R$ 224,8 milhões na controladora e R$ 219,4 milhões no consolidado, além de passivo a descoberto no valor de R$ 155, 672 milhões. Parte substancial desse passivo a descoberto se refere a empréstimos e financiamentos, os quais precisam ter  seus prazos de pagamento renovados para permitir um alinhamento entre os fluxos de pagamentos de principal e juros com a disponibilidade e a geração de caixa da Companhia. Essa situação, entre outras indicam a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa sobre sua continuidade operacional. Nossa opinião não está ressalvada em relação a esse assunto“.

Balanço do 4º trimestre

Segundo a Bombril, seu Ebitda (resultado operacional) registrou o maior patamar histórico da companhia em 2022 puxado pelo resultado do segundo semestre (R$ 137,1 milhões). Nos 12 meses do ano passado, o Ebitda foi de R$ 189,7 milhões, o que é 3,8 vezes maior que os R$ 50 milhões registrados em 2021. A receita bruta foi de R$ 2,140 bilhões.

Aos 75 anos e com valor de mercado de pouco mais de R$ 312 milhões nesta quarta-feira, a Bombril coleciona 16 marcas, entre elas, Limpol, Pinho Bril e Mon Bijou. A companhia foi listada na bolsa em 1984, mas suas ações têm pouca liquidez: a negociação média diária é de R$ 24.475.

Segundo o TradeMap, fundos de investimento são os maiores detentores das ações em free-float. No entanto, como as carteiras podem ser “escondidas” por até três meses devido as normas da CVM, os gestores destes fundos podem ter alterado suas posições até a presente data. Veja abaixo os fundos comprados em BOBR4:

Em carta aos acionistas referente ao último reporte da companhia, o CEO agradeceu colaboradores, consumidores, acionistas e credores pelo voto de confiança na tentativa da companhia manter os negócios de pé.

“Os movimentos assertivos realizados até aqui, não nos acomodam, mas, sim, nos desafiam a buscar novas soluções para obtermos, consistentemente, melhores resultados. […] deixo aqui um agradecimento muito especial aos nossos consumidores pela preferência […] e aos nossos credores e acionistas pelo apoio e confiança em nosso desempenho e potencial”.

Ronie Borges da Mota, ceo da bombril, em carta aos acionistas

Mas de acordo com o TradeMap, não há até o momento recomendação de compra para as ações da Bombril entre bancos e casas de análise.