Finanças
12 ações para fugir no segundo semestre de 2021, segundo analistas
IRB Brasil foi uma das empresas escolhidas como ‘micos’ da bolsa brasileira; confira quais são as outras companhias.
No primeiro semestre de 2021, os setores de varejo, construção civil e seguros lideraram as maiores quedas de ações do Ibovespa. O principal índice da B3, a bolsa brasileira, valorizou 6,54% e fechou junho em 126.802 pontos. Para o segundo semestre, o mercado ainda vê espaço para valorização, mas analistas recomendam cautela com aquelas ações que podem causar “dor de cabeça” para o investidor.
Para a segunda metade do ano, a bolsa brasileira deve ser impulsionada por uma demanda econômica aquecida que deve favorecer as empresas listadas, mesmo que pressionadas pelos juros e inflação, aponta Antonyo Giannini, analista da Inversa Publicações.
Mesmo com a projeção do último Boletim Focus do Banco Central, de uma taxa de juros Selic em 6,5% ao ano até o final de 2021 e 6,75% para 2022, o analista explica que considerando a inflação prevista de 6,07% até dezembro, a rentabilidade real dos investimentos ainda deixa a renda variável convidativa.
Neste cenário, alguns setores se beneficiam destes indicadores macroeconômicos e da reabertura da economia brasileira, ações que ficaram bastante descontadas na pandemia surgem como oportunidades para os investidores.
Contudo, existem ainda algumas companhias que já apresentavam problemas financeiros, de governança ou no seu modelo de negócios, conflitos que só se agravaram durante a crise. Conhecidas como os “micos da bolsa“, estas empresas não devem se recuperar tão cedo , sequer no segundo semestre de 2021, acreditam agentes do mercado.
O InvestNews conversou com analistas da Levante Investimentos, Nord Research e Inversa para entender quais ações são vistas por eles como roubadas da bolsa brasileira em 2021, e quais o investidor deve manter certa cautela no segundo semestre. Veja a lista a seguir:
1 – IRB Brasil (IRBR3)
Eleita por unanimidade pelas três casas de análise consultadas pela reportagem, o maior mico da bolsa em 2021 é a IRB Brasil (IRBR3), a companhia acumulou queda de 29,46% no primeiro semestre do ano.
No passado, conhecida como uma ótima pagadora de dividendos, a resseguradora viu sua imagem se deteriorar por uma crise de governança que perdura até hoje.
A IRB enfrentou uma crise de transparência, que começou no dia 2 de fevereiro de 2020, quando a gestora Squadra divulgou uma carta questionando os lucros extraordinários da companhia. As ações da IRBR3 vinham de um passado glorioso, com valorizações surpreendentes, mas após a gestora apostar na queda do papel e divulgar a carta, as ações viraram pó saindo do patamar dos R$ 44,90 para R$ 7 em março de 2020.
Desde então os papéis da companhia oscilam entre idas e vindas mas sem recuperar seu fôlego do passado. Ainda em maio de 2020, a companhia enfrentou uma fiscalização da Susep (Superintendência de Seguros Privados) por insuficiência de provisões, processo que só encerrou em abril deste ano.
Com diversas trocas na sua diretoria, a companhia parece estar investindo em um processo de “limpeza” para dar força ao seu processo de turnaround. Contudo para Danielle Lopes, analista da Nord Research, recuperar a confiança do investidor é um processo que pode levar muito mais do que seis meses. “Um bom turnaround pode levar anos e não será no segundo semestre que a companhia deve melhorar”, explica.
Danielle explica que, muitas vezes, as ações acabam surfando em um movimento especulativo, fruto de alguma notícia positiva da companhia, mas não necessariamente isso reflete que os fundamentos da empresa tiveram melhorias. “Mesmo com futuros resultados trimestrais positivos, recuperar a confiança do investidor e conquistar uma boa governança vai levar tempo”, esclarece.
Já para Flávio Conde, head de análise fundamentalista da Levante Investimentos, a IRB está conseguindo sobreviver aos eventos do passado, mas o investidor ainda precisa ficar cauteloso e atento aos resultados trimestrais antes de acreditar na recuperação das ações.
“Isso não significa que as ações vão cair no segundo semestre, elas podem subir, mas a companhia precisa se provar cada vez mais a cada trimestre”, defende.
Conde também destaca que a rentabilidade da IRB Brasil que conhecíamos no passado não existe mais. Resta ao investidor a responsabilidade de descobrir quem é essa nova IRB e o que restará dela após o turnaround, diz ele. “Após a transformação da companhia o mercado conseguirá reprecificar melhor seu real valor”.
Até então, a recomendação de Conde não é de se afastar porém sim ficar atento com a ação, principalmente no curto prazo. Enquanto Danielle, recomenda que os investidores olhem outras alternativas da bolsa até ter garantia que o turnaround foi concluído.
2 – B2W (BTOW3)
Ainda sobre conflitos de governança, outra companhia considerada um “mico da bolsa”, segundo Danielle, da Nord Research, é a B2W (BTOW3). A ação acumulou perda de 12,37% no primeiro semestre.
Segundo a analista, a fusão das operações entre B2W e Lojas Americanas pode ser considerada problemática, principalmente no que tange a governança corporativa, por se tratar de duas companhias com os mesmos controladores.
“Não acho interessante para o acionista, a fusão é boa apenas para o controlador que vai unificar as operações da Ame digital, com a B2W e Lojas Americanas”, explica.
A B2W é atualmente controlada pela Lojas Americanas em 62,5%. A companhia possui alguns dos principais sites de comércio eletrônico do país, como Submarino e Americanas.com, além de uma relevante operação digital de pagamentos, a Ame.
Com a fusão das operações, as Lojas Americanas continuam existindo por meio do controle da B2W. As ações de ambas as empresas seguirão listadas em seus respectivos segmentos na B3.
Para Danielle, esta fusão não deve destravar valor nas ações da B2W (BTOW3) e existem outras oportunidades no varejo, sem problema de governança duvidosa, que podem entregar retornos maiores ao investidor. “Uma fusão com empresas da mesma família não é bem vista pelo mercado”, reforça.
Segundo a analista, considerando o histórico de resultados de ambas as companhias, não há grandes expectativas no curto ou médio prazo.
3 – Eztec (EZTC3) e Cyrela (CYRE3)
Na terceira posição entre as companhias que o investidor deve fugir neste segundo semestre, Conde da Levante Investimentos aponta o setor de construção civil, com foco principal em Eztec (EZTC3) e Cyrela (CYRE3), companhias que recuaram 26,53% e 17,3% no primeiro semestre de 2021.
Segundo ele, as construtoras avançaram bastante em 2019 e 2020 e agora entram em um ciclo de desaceleração, principalmente puxado pelo aumento da taxa de juros que deve fechar o ano em 6,5%.
Conde explica que historicamente uma taxa de juros acima de 6% é ruim para o setor de construção civil porque encarece as parcelas do crédito imobiliário pesando no bolso dos consumidores.
Apesar de se tratar de companhias com bons fundamentos, Conde aconselha o investidor se afastar delas no segundo semestre e em 2022, quando a taxa de juros deve continuar subindo para o patamar de 6,75% ao ano. “Com juros subindo e a economia ainda em recuperação os brasileiros terão menor capacidade financeira para comprar imóveis”, explica.
Ele também cita outro impacto negativo para as construtoras: o encarecimento dos materiais de construção, como aço, cimento, cerâmica, que subiram em 2021 pelo choque entre oferta e demanda.
Segundo Conde, com um preço maior destes materiais, os lucros das construtoras diminuem, principalmente aquelas que não tem sua receita atrelada a financiamentos do governo, como o Minha Casa Minha Vida.
Nesse cenário e com menos compradores Cyrela e Eztec sofrem mais.
Contudo, Conde destaca que conforme a economia for retomando, o emprego aumentando alguns brasileiros podem se sentir mais seguros para comprar um imóvel, o que seria um ponto positivo. Em contrapartida, ainda devem pesar os juros em alta, principalmente em 2022, quando teremos mais oscilações do mercado por causa do ano eleitoral.
4 – MRV (MRVE3) e Direcional (DIRR3)
Aparentemente, a alta Selic deve impactar ainda outras construtoras, segundo Antonyo Giannini, analista da Inversa Publicações. É o caso de MRV (MRVE3) que acumulou queda de 11,57% no primeiro semestre, enquanto a Direcional (DIRR3) avançou 12,39% no período.
Segundo o analista, as ações destas empresas, que possuem parte significante da sua receita fora do programa Minha Casa Minha vida também devem sofrer com o aumento nas taxas de juros.
Mesmo com a desaceleração da inflação, Giannini aponta que é esperado pelo menos uma alta de 75 pontos percentuais na reunião do Copom em agosto, o que impactaria também nas taxas de financiamento imobiliário destas companhias.
Ainda falando em construtoras, Danielle, da Nord Research, lembra que muitas companhias abriram capital no setor em 2020, e o investidor terá um verdadeiro trabalho de Stock picking para conseguir separar as boas companhias do setor daquelas que são verdadeiros micos ou enfrentam até recuperação judicial.
“É muito difícil avaliar o desempenho de uma construtora com menos de 5 anos de história”, defende.
5 – Cesp (CESP3), Cemig (CMIG4), Engie (EGIE3) e Sabesp (SBSP3)
Ainda entre as companhias que o investidor deve ficar longe, Giannini cita as empresas de geração e distribuição de energia elétrica, com maior parte das suas operações atreladas ao recurso hídrico. É o caso de Cesp (CESP3), Cemig (CMIG4) e Engie Brasil (EGIE3).
No primeiro semestre do ano, as ações da CESP subiram 8%, enquanto Cemig e Engie Brasil caíram 1,17% e 9,21%, respectivamente.
Segundo Giannini, da Inversa, a crise hídrica e energética deve ficar no radar dos investidores nos próximos meses, considerando que ela vai reduzir a capacidade da indústria e aumentar a inflação, fazendo com que o governo tome medidas mais populistas para ganhar apoio em um cenário pré-eleitoral.
Ainda entre o ‘pacote crise hídrica’, ele cita empresa de saneamento Sabesp (SBSP3), como uma companhia para o investidor ficar longe na segunda metade do ano. “A Sabesp vai sofrer com a escassez de água”, afirma.
No primeiro semestre do ano, as ações da Sabesp acumularam queda de 17,03%
6.- Azul (AZUL4) e GOL (GOLL4)
Para finalizar a lista dos “micos” apontados por especialistas no segundo semestre, Danielle da Nord Research cita as companhias aéreas Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4).
As ações da Gol fecharam o primeiro semestre em queda de 7,94%, já os papéis da Azul subiram 11,68% na primeira metade do ano.
Mesmo com a possibilidade de reabertura, a analista aponta que as companhias já apresentavam um patrimônio negativo muito antes da crise. “As aéreas eram companhias endividadas, com muitos passivos e que não geram um valor para os acionistas”, aponta.
Segundo Danielle, com a reabertura o mercado pode até antecipar a retomada do setor acelerando a alta das ações, contudo ela ainda está cética com a volta dos voos internacionais e acredita que o maior fluxo de receita destas empresas deve estar focado no âmbito nacional.
No entanto, Danielle não considera um bom negócio investir no setor. “Estas companhias sempre receberam investimento externo, seja do governo ou privado, não vejo fundamentos sólidos, acho que o mercado vai especular”, defende.
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