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Finanças

63% dos fundos de ações brasileiros operam alavancados, diz levantamento

Especialistas recomendam atenção com a exposição líquida e estratégia do fundo, além da própria alavancagem.

Recentemente, um fundo do Pátria Investimentos trouxe preocupação aos investidores, com a cota passando de R$ 10,55 para R$ 301,04 negativos, após uma operação para se desfazer de portfólio. O fato trouxe alerta para operações de fundos, em especial aos alavancados.

Dos 2.069 fundos de ações disponíveis para investimentos no Brasil em 31 de julho de 2023, 63% deles operavam alavancados. É o que mostra levantamento feito por TC/Economatica a pedido do InvestNews. Para especialistas, trata-se de um cenário que exige cuidado do cotista com a exposição líquida do fundo, o quanto possui de alavancagem e qual é a estratégia do fundo.

De acordo com o levantamento, em 31 de julho de 2023, eram 1.304 fundos de ações alavancados no Brasil. Na mesma data de 2022, eram 1.284 de 2.059 disponíveis. Confira:

*Na amostra foram considerados fundos cadastrados como alavancados na Anbima e com o valor alocado (sem contar disponibilidades e obrigações) que seja mais do que 100% do patrimônio.

Paola Mello, sócia da GTI Administração de Recursos, explica que alavancagem de tem a ver com mandato e estratégia de cada produto. 

“São fundos mais alavancados pelo fato de terem mais liquidez e, na maioria das vezes, são operações casadas. A alavancagem pode se dar por operações long & shorts. Então, essa parte short, a posição vendida pode estar explorando algum valor relativo, seja entre setores ou entre empresas. E a alavancagem também pode se dar por operações com derivativos e futuros e opções” 

Paola Mello, sócia da GTI Administração de Recursos

Marcelo Boragini, sócio e especialista de renda variável da Davos Investimentos, destaca que um dos fundos de ações alavancados no Brasil são os fundos denominados long biased. Eles têm um mandato de gestão mais flexível, ou seja, que pode operar mais de 100% com posição comprada em ações, mas, ao mesmo tempo, pode ter posição relevante vendida em outras ações ou até mesmo no próprio índice de referência. 

“O indicador que precisamos analisar é o que chamamos de exposição líquida do fundo, ou seja, precisamos somar a parte comprada e subtrair a parte vendida”

Marcelo Boragini, sócio e especialista de renda variável da Davos Investimentos

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, afirma que o fundo alavancado, quando dá certo, chama atenção de mais cotistas. Porém, tem mais risco. “Tem que ter muito cuidado de quanto alavancado está”, diz Brasil.

Por dentro dos fundos alavancados

A XP Investimentos explica que, no universo dos fundos de investimento, alavancagem é o ato de se ter, em determinada operação, exposição financeira maior do que o patrimônio líquido e que, adicionalmente, a alavancagem se dá quando é movimentado um volume financeiro maior do que o valor desembolsado.

“Assim, por meio da alavancagem, os gestores conseguem variar o nível de risco dos fundos, regulando a exposição financeira aos ativos do portfólio”, destaca a XP.

(Foto: Shutterstock / Phongphan)
(Foto: Shutterstock / Phongphan)

A XP alerta, no entanto que, intuitivamente, os ganhos diários do fundo alavancado são maiores do que os de sua versão de menor risco, assim como as perdas diárias são maiores. Por outro lado, a relação entre os retornos, em determinada janela, não é igual à relação entre os níveis de risco. 

“Um risco duas vezes maior em um fundo não reflete uma performance duas vezes maior no longo prazo. Isso ocorre devido ao efeito da volatilidade na consolidação dos retornos diários do fundo”, aponta a XP.

Uma das mudanças na Resolução CVM 175, que deverá vigorar a partir do mês de outubro, limitará a responsabilidade do cotista ao valor subscrito por ele. Assim, caso uma aplicação colapse, o investidor não será obrigado a cobrir o resultado negativo.

Tendência?

Um cenário de queda da taxa básica de juros eleva, de forma geral, a atratividade de investimentos em renda variável. No último Boletim Focus, de 7 de agosto, o mercado passou a estimar Selic ainda menor para para o final de 2023, de 11,75% ao ano.

Neste sentido, como a rentabilidade de variados investimentos recua, a mudança nos ganhos acaba levando investidores a buscar por aplicações que ofereçam retornos maiores, e fundos de investimentos se tornam uma das possibilidades.

Em meio às projeções para a economia do país e perspectivas para a bolsa de valores brasileira, Mello defende que não é somente isso que pode fazer com que um fundo siga alavancado. Segundo ela, fundos que exploram valores relativos entre empresas, por exemplo, podem estar comprados em uma determinada empresa que seja tida como barata e serem vendidos em uma empresa do mesmo segmento que seja considerada cara. 

“Podem ter outros cenários para alavancagem. Por exemplo: se um gestor está apostando na alta da bolsa como um todo, de um setor e, às vezes, ele quer alavancar para potencializar aquele movimento. Seria alavancagem com outra finalidade”, explica a sócia da GTI Administração de Recursos.

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Boragini lembra que, no caso dos fundos long biased, que têm um mandato de sempre operarem alavancados, com um cenário de queda de juros e maior possibilidade de alta da bolsa, pode-se esperar que gestores irão se posicionar de forma mais comprada do que vendida na média do que foi visto nos últimos dois anos.

Já para Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, fundos não devem seguir alavancados.

“Não é questão de perspectiva ou não. É questão que, se está alavancado e tem uma pandemia no meio do caminho, quebra. Não acho que se alavancar seja uma coisa tão boa. Talvez, se alavancar seja para day trade, parte do fundo ser day trade. Em horas, ele fica desenquadrado, 100% acima do patrimônio dele. Fora isso, não acho razoável”

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos

Vantagens e desvantagens

Marcelo Boragini, sócio e especialista de renda variável da Davos Investimentos, explica que, dentre as vantagens, considerando que um fundo alavancado é um long biased, existem dois cenários:

  • Se a bolsa de valores subir e o gestor estiver posicionado para isso, o investidor pode ganhar mais do que o índice Ibovespa;
  • Se a bolsa cair e o gestor não estiver tão animado, o fundo deve cair menos que o Ibovespa, pois ele consegue se proteger parcialmente com as posições vendidas.

Paola Mello destaca que, no caso de uma operação vendida de ações, a vantagem de um fundo alavancado é poder extrair retornos mesmo de ações que estão caindo. 

“Se fosse uma operação, por exemplo, de valor relativo, às vezes, reduz um pouco a volatilidade do fundo fazendo operações de long & short. E se você está tentando potencializar um movimento e acertá-lo, bem como a alavancagem, você terá ganhos maiores aos que teria sem a alavancagem”, detalha Mello. 

Já Ricardo Brasil alerta que a vantagem de um fundo alavancado é estar multiplicando dinheiro, mas que o inverso também é verdade.

“A vantagem é que, quando você ganha, ganha-se dobrado, triplicado, quadruplicado, dependendo da alavancagem, mas quando perde, se perde bastante. Eu, particularmente, não acho justo com o cotista. Uma parte nem sabe que o fundo é alavancado. Eu não acho uma coisa tão saudável”.

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos

O que considerar antes de investir

Boragini explica que, antes de investir em um fundo alavancado, é importante analisar a equipe de gestão, a performance histórica do fundo relativa ao índice, nível de volatilidade relativo ao benchmark, patrimônio líquido do fundo, prazo de resgate, taxa de administração e performance.

Mello afirma, que, particularmente, não gosta de fundos muito alavancados, por eles acabarem expondo o cotista a um risco excessivo, principalmente se as alavancagens se derem com derivativos, mas para quem tem interesse em investir, a sócia da GTI Administração de Recursos faz alertas do que considerar previamente.

“É importante o investidor entender o mandato de investimentos daquele produto, estudar os históricos que a gestora entregou, avaliar muito bem, principalmente, as crises, ver qual é a volatilidade do produto nos piores momentos e ver se ela é compatível com o nível de risco que o investidor tolere enquanto cotista”.

Paola Mello, sócia da GTI Administração de Recursos.

Ricardo Brasil acrescenta que é importante também o investidor observar a própria alavancagem do fundo. “Se for alavancagem com travas ou renda fixa, particularmente, não vejo problema. Existem alavancagens que são saudáveis. Por outro lado, a depender de qual for e tiver qualquer problema, o cotista pode perder todo seu capital”, alerta ele.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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