Finanças
Crise no Afeganistão: 5 pontos de atenção sobre o impacto no mercado financeiro
Tomada de poder pelo Talibã no Afeganistão ajuda a puxar mercado para baixo nos últimos dias.
Se a tomada do poder no Afeganistão pelo grupo extremista Talibã deu origem a preocupações humanitárias no mundo todo, no mercado financeiro os impactos ainda não são tão claros. Analistas ouvidos pelo InvestNews apontam que os efeitos sobre a bolsa de valores e o câmbio devem ser limitados, mas indicam 5 pontos nos quais o investidor deve ficar de olho.
Neste fim de semana, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, deixou o país após combatentes do Talibã chegarem à capital, Cabul, consolidando o retorno do grupo ao poder, duas décadas após ter sido retirado por forças militares lideradas pelos Estados Unidos. O movimento veio na esteira da decisão norte-americana pela retirada das tropas do país.
No mercado financeiro, as notícias sobre o Afeganistão se juntam a uma série de preocupações que vêm puxando para baixo as bolsas de valores no mundo todo (incluindo o Brasil): preocupações sobre a variante delta do coronavírus, dados decepcionantes sobre a economia da China e dos Estados Unidos.
No Brasil, o ambiente externo desfavorável soma-se às questões internas que já vinham puxando para baixo o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, a B3, como as incertezas políticas e as preocupações fiscais.
Nesse cenário, especialistas apontam que a crise no Afeganistão não deve ter impactos tão diretos sobre o mercado brasileiro na comparação com todos esses outros fatores. Mas isso não significa que não haja pontos de atenção para o investidor. Veja abaixo 5 deles, citados pelos analistas ouvidos pelo InvestNews:
Quais mercados sofrem mais com a crise no Afeganistão?
Os principais efeitos negativos para o mercado financeiro partem das incertezas de uma crise geopolítica envolvendo potências importantes como Estados Unidos e China – e como isso pode atingir a economia. E, nesse ambiente de incertezas, a tendência é que os mercados emergentes como o Brasil sofram mais.
“O mercado financeiro gosta de mar calmo, e uma instabilidade político-econômica com certeza trará volatilidade aos mercados”, diz Antonio Marcos Samad Júnior, sócio e gestor da mesa proprietária Axia Investing.
“Obviamente, quando você tem um mundo com um risco mais elevado, você sai de países que tendem e podem apresentar maior oscilação, que são os emergentes”, complementa Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, citando o Brasil.
Impacto para os Estados Unidos
Diante da crise no Afeganistão, a aprovação do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, caiu em 7 pontos percentuais, para o nível mais baixo até agora, de acordo com uma pesquisa Reuters/Ipsos.
Franchini diz que a tomada de poder pelo Talibã implica em “desdobramentos políticos sérios” para o mercado, e “esse é o maior deles”. “O presidente Joe Biden inevitavelmente perde poder político, base para, por exemplo, fazer uma aprovação de mais um pacote de infraestrutura de US$ 3 trilhões para continuar acelerando a economia americana, principalmente no último trimestre e início de 2022”, diz.
Incertezas sobre a retomada da economia norte-americana vêm influenciado negativamente o mercado nos últimos dias, em meio à divulgação de números fracos sobre a confiança do consumidor e o setor de varejo, por exemplo. Nesse contexto, dúvidas sobre a possibilidade de aprovação de medidas de estímulo poderiam piorar as expectativas.
Preço do petróleo
A tomada do poder pelo Talibã no Afeganistão, somada a outros fatores como preocupações sobre a retomada da economia global, foi seguida de uma queda das cotações do barril de petróleo no mercado internacional.
Em dois dias, tanto o Brent (uma das principais referências do mercado) quanto o WTI (petróleo nos EUA) acumularam queda de mais de 2%. No Brasil, a ação preferencial da Petrobras (PETR4) acumulou perdas de 2,47% nos dois primeiros pregões da semana, ajudando a puxar o Ibovespa para baixo devido ao peso importante que o papel tem sobre a composição do índice.
“A verdade é que a economia do Afeganistão representa pouco ou quase nada no mercado global, motivo pelo qual ‘diretamente’ não há o que se preocupar. O problema é que ‘indiretamente’ essas tensões no Oriente Médio podem pressionar os preços das commodities – principalmente o petróleo”, comenta Samad.
Possíveis vantagens para a China
Enquanto diversos países ocidentais correram para acelerar a retirada de funcionários de embaixadas e cidadãos do Afeganistão após a tomada do poder pelo Talibã, a China adotou postura diferente. A porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, afirmou que a embaixada, localizada na capital Cabul, seguiria com seu funcionamento normal, e que a China quer continuar mantendo relações amistosas e de cooperação com o Afeganistão.
Especialistas apontam que a China pode sair ganhando na crise entre Afeganistão e Estados Unidos – o que poderia alterar dinâmicas geopolíticas, econômicas e, consequentemente, impactar o mercado.
“No meu ponto de vista, os Estados Unidos perdem espaço como a grande potencial mundial, aquele que sempre se comportou como o ‘guardião da estabilidade mundial’ e abre espaço para que a China preencha essa lacuna deixada por eles. Geopoliticamente falando, acho que a China sai ganhando nesse episódio”, diz Samad.
“A possibilidade de uma instabilidade política pode afetar o cenário econômico e, consequentemente, o Brasil, já que o país possui negócios diretos com os Estados Unidos e China”, comenta Sidney Lima, analista da Top Gain.
Efeitos duradouros ou passageiros?
Para os especialistas, a expectativa é de que possíveis impactos no mercado financeiro fiquem restritos ao curto prazo. “Isso acabou também sendo presenciado com os acontecimentos de 11 de setembro, mas afetando o curto prazo”, lembra Lima. Então, ele acredita que, apesar de o evento trazer “uma série de incertezas no lado geopolítico do mundo”, o efeito sobre os mercados deve ser “passageiro”.
De maneira semelhante, Bruno Komura, estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos, comenta que “no curto prazo, (a questão afegã) tem um impacto bastante limitado”. “É muito mais uma questão humanitária e geopolítica”, diz.
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