Segundo levantamento do TradeMap, o valor dos dividendos distribuídos nos nove primeiros meses de 2022 (último dado mais recente) pela Americanas (AMER3) é o segundo maior já pago na última década e o maior da companhia. A varejista rival Via (VIIA3) assume o posto do primeiro lugar, de acordo com a análise.
De janeiro a setembro de 2022, foram distribuídos R$ 333 milhões em dividendos pela Americanas aos seus acionistas, sendo este o maior valor pago até então. A nível de comparação, a Via pagou R$ 394 milhões em 2013, enquanto a maior cifra distribuída por Magazine Luiza (MGLU3) foi em 2020, no montante de R$ 299,4 milhões.
Analisando os proventos pagos pelas Americanas e as duas concorrentes na última década, Magazine Luiza não distribuiu dividendos em dois anos (2013 e 2016); a Via em cinco anos (2014, 2019, 2020, 2021 e 2022); já a Lojas Americanas (e a antiga B2W que é dona do CNPJ que hoje representa a atual Americanas) pagou proventos em todos os anos, segundo a provedora de dados. O montante total foi de R$ 1,9 bilhão, sendo a maior parte paga pelas Lojas Americanas que concentrava as operações das lojas físicas.
Veja abaixo valor distribuído pelas companhias:
O levantamento considera o valor correspondente aos proventos já retirados do caixa da empresa. Logo, com o rombo contábil descoberto pelo agora ex-CEO Sergio Rial na casa dos R$ 20 bilhões, mas cujo valor pode dobrar, como a companhia distribuiu lucros a sua base de acionistas? E os bônus por desempenho dos executivos ou pagamento em ações?
Segundo apurou o Pipeline, coluna do “Valor Econômico”, em 10 anos foram desembolsados em remuneração aos executivos da varejista cerca de R$ 700 milhões. A cifra inclui bônus, salários e pagamento em ações ou opções.
Considerando a média de 18 diretores, foram quase R$ 40 milhões por cabeça ao decorrer de dez anos. Apesar desta ser uma média praticada no setor, a questão é que parte dos pagamentos estavam atrelados a meta de resultados – sendo estes inconsistentes, conforme veio a público nos últimos sete dias.
Dividendos, apesar de rombo
Segundo Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, a inconsistência contábil dos últimos dez anos inflou os lucros da empresa e as despesas foram reduzidas, e por isso, a companhia pode distribuir dividendos maiores. Logo, não seria possível distribuir esses dividendos se fosse conhecida a realidade do balanço das Americanas.
“A perícia que deverá ser feita é que vai apontar se foi tudo feito de caso pensado e se o recorde de dividendos em 2022 foi com os executivos tendo ciência; mas como a empresa reportava um endividamento de 3x a dívida líquida/Ebitda, era mais fácil a varejista divulgar um dividendos robusto – como fez. Caso ela tivesse reportado a realidade, não daria para pagar esse dividendo recorde, ainda mais porque o mercado reagiria muito mal”.
Flavio Conde, analista da Levante, faz coro com Ferrer ao dizer que não dá para cravar que o dividendo recorde em 2022 foi de caso pensado. “O foco agora é encontrar onde está o rombo dos R$ 20 bi que olhamos nos balanços e não vemos onde está este número. Inclusive, em muitos grupos de auditores há essa pergunta”, aponta.
Segundo Conde, é preciso que seja republicado os balanços dos últimos anos além da convocação dos antigos CEOs e CFOs no período apurado para apontarem onde estão os números descobertos por Sergio Rial.
“Nem auditor experiente ou professores de contabilidade com livros publicados estão conseguindo encontrar o rombo nos balanços”.
Flavio conde, analista da levante
Varejistas são aposta de dividendos?
Ambos os analistas consultados apontam que as varejistas não são reconhecidas por serem boas pagadoras de proventos aos seus acionistas por ser um setor que busca crescimento com margem apertada, exige capital de giro e tem investimento alto em tecnologia, centro de distribuição e logística. No entanto, é esperado que o o investidor tenha ganho de capital quando exposto ao setor.
“Essas empresas são voltadas para o crescimento e pagam o mínimo exigido na Lei das SAS. O investidor focado em renda passiva deve buscar companhias que estejam investindo menos e que tenham um negócio sólido e resiliente, como elétricas, bancos e empresas de saneamento”.
fernando ferrer, analista da empiricus
Como o confinamento causado pela pandemia de covid-19 fez despontar o e-commerce gerando receitas recordes no período, se alguma companhia fez uma distribuição de dividendos ou Juros Sobre Capital Próprio (JCP) alta no meio do caminho, “foi pontual já que não é o normal”, reiterou o analista da Levante.
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