A Bolsa brasileira fechou no maior nível em quatro meses nesta sexta-feira (17), diante dos avanços das discussões da reforma tributária, com a perspectiva de que o governo envie seu texto ao Congresso na semana que vem, e das privatizações. Ao mesmo tempo, pesaram apostas maiores de corte de juros em agosto pelo Banco Central sobre o dólar, que subiu.
O principal índice da B3, o Ibovespa, subiu 2,32%, aos 102.888 pontos. Foi o maior nível de fechamento desde 4 de março, então a 107.224,22 pontos. Na semana, a bolsa brasileira acumulou valorização de 2,86%. No mês de julho, avança 8,24%.
Já o dólar comercial fechou negociado em R$ 5,3824, subindo 1,02%.
Ontem, o índice fechou com forte queda de 1,22%, voltando aos 100.553 pontos, enquanto o dólar comercial terminou o dia negociado a R$ 5,3279, caindo 1,038%. A sessão foi marcada ainda pelos balanços norte-americanos e os dados chineses, que não convenceram os investidores de uma retomada do consumo interno.
Alguma animação em torno da retomada da reforma tributária no Congresso, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometendo ontem à noite entregar proposta da equipe econômica na próxima terça-feira, contribuiu para que o mercado brasileiro se destacasse do exterior na sessão, onde os dados sobre a confiança do consumidor americano, da Universidade de Michigan, deixaram Nova York sem direção única. N
o índice brasileiro, os ganhos se distribuíram por diversos segmentos, entre os quais o de bancos, ainda retardatário no ano em relação ao Ibovespa. Guedes também fez comentários favoráveis a privatizações, o que impulsionou estatais como a Eletrobras.
Para Márcio Gomes, analista da Necton, com a progressão acumulada desde abril pelo Ibovespa, a tendência é de que ações mais atrasadas e que ofereçam perspectiva relativamente favorável ganhem atenção, na medida em que seletividade será cada vez mais importante para as compras.
“Hoje os bancos, com grande peso no índice, contribuíram para puxar o Ibovespa, em um dia que se mostrava misto ou moderadamente negativo no exterior, em razão dos dados sobre a confiança do consumidor nos EUA”, diz. “Com o Ibovespa se sustentando a 102 mil, a tendência é de que passe a buscar os 105 mil pontos”, acrescenta Gomes, referindo-se ao fluxo disponível para a Bolsa, em cenário de juros muito reduzidos no Brasil e no exterior.
Contudo, analistas e gestores têm chamado atenção para o descolamento entre o preço dos ativos, em um contexto de farta liquidez global, e os fundamentos, ante uma recuperação econômica incerta e ainda sujeita a reveses. Desde o exterior, o otimismo do mercado tem se concentrado nos sinais animadores quanto ao desenvolvimento de vacinas e nos resultados da retomada de atividade, mais concentrados na China.
Por outro lado, os dados sobre a pandemia nos EUA mostram grau acentuado de novos casos de covid-19, em patamar recorde diário agora na casa de 77 mil, segundo a Universidade Johns Hopkins.
Destaques da Bolsa
Nesta sexta-feira, o avanço da doença na maior economia do mundo contribuiu para alimentar dúvidas sobre o consumo de petróleo, colocando o Brent e o WTI em terreno levemente negativo – Petrobras virou no fim, encerrando praticamente estável a sessão, em alta de 0,09% na preferencial (PETR4) e de 0,08% na ordinária (PETR3), avançando respectivamente 1,02% e 2,83% no período. No Brasil, a doença mostra estabilização em nível alto no Estado de São Paulo, e interiorização para as regiões Sul e Centro-Oeste, também importantes para a economia brasileira.
Na ponta positiva do Ibovespa, o destaque foi para Eletrobras, em alta respectivamente de 14,35% nas ordinárias (ELET3) e 11,84% (ELET6), seguidas por Cielo (CIEL3, +9,13%). No lado oposto, três empresas diretamente afetadas pelo avanço do dólar na sessão, em alta de 1,02%, a R$ 5,3805 no fechamento: CVC (CVCB3, -1,80%) , Azul (AZUL4, -1,13%) e Gol (GOLL4, -1,09%).
Entre as blue chips, Vale (VALE3) ganhou 1,53% na sessão, avançando 7,14% na semana e 9,16% no mês. Entre os bancos, Banco do Brasil (BBSA3) subiu hoje 3,08% e Bradesco (BBDC3), 1,91%, acumulando ganho de 10,30% e 9,74% em julho, mas ainda cedendo respectivamente 32,06% e 32,43% no ano, enquanto o Ibovespa perde 11,03% em 2020.
Cenário internacional
Uma Pesquisa trimestral do Banco Central Europeu (BCE) junto a economistas mostrou que a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro deverá sofrer contração de 8,3% este ano em função da crise do novo coronavírus. No levantamento anterior, ha três meses, a previsão era de queda de 5,5%.
Para 2021, por outro lado, a projeção de crescimento econômico do bloco subiu de 4,3% para 5,7%. Em relação à inflação da zona do euro, economistas preveem taxa de 0,4% em 2020, a mesma da pesquisa anterior.
Os contratos futuros do petróleo operam em baixa moderada nesta sexta, dando continuidade ao movimento de depreciação visto ontem.
Pesa, além das incertezas sobre o impacto da covid-19 na demanda pela commodity, a expectativa de que a Opep+ relaxe os cortes na produção do grupo a partir de agosto.
Assim como a recuperação econômica da China, a dos EUA também desperta incertezas. Ontem, os números do varejo americano surpreenderam positivamente, mas o volume de novos pedidos de auxílio-desemprego da última semana ficou acima do esperado. Além disso, os EUA enfrentam uma segunda onda de infecções por covid-19, que veio após a reversão de medidas de confinamento motivadas pela doença.
Já tensões entre EUA e China, que ganharam força após Pequim adotar uma nova lei de segurança nacional para Hong Kong, permanecem no radar. Ontem, circulou notícia de que a Casa Branca considera proibir que membros do Partido Comunista chinês e suas famílias viajem para os EUA.
Bolsas globais
As bolsas da Europa encerraram o pregão desta sexta-feira (17) sem direção única, com uma série de incertezas prejudicando a tomada de risco. Dúvidas sobre as negociações do fundo de recuperação europeu neste fim de semana pesaram nos negócios, tal como o persistente avanço da covid-19 e as tensões sino-americanas que não dão trégua.
Logo pela manhã, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou que as tratativas para a aprovação do fundo de recuperação serão “muito difíceis”. Líderes da União Europeia (UE) vão se encontrar neste fim de semana para discutir esse pacote fiscal, que visa amortecer os impactos do coronavírus sobre a economia, mas o plano conta com resistência de alguns países.
As bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em alta nesta sexta-feira, recuperando-se em parte das perdas de ontem, embora persistam dúvidas sobre a perspectiva da economia global em meio à disseminação do coronavírus.
Na China continental, o índice Xangai Composto teve modesto ganho de 0,13%, a 3.214,13 pontos e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,69%, a 2.158,94.
No pregão de ontem, o Xangai e o Shenzhen sofreram tombos de 4,5% e 5,2%, respectivamente, após uma inesperada queda nas vendas do setor varejista chinês em junho e apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) da segunda maior economia do mundo ter crescido mais do que o esperado no segundo trimestre. A decepção com a fraqueza no consumo gerou dúvidas sobre o ritmo de recuperação da China após o violento choque da pandemia de coronavírus.
*Com Estadão Conteúdo