A bolsa de valores brasileira fechou a semana em forte queda, com preocupações em relação ao pacote de estímulos nos Estados Unidos. Internamente, pesou sobre o mercado a decepção em relação aos últimos resultados das vendas do varejo, além de preocupações em relação ao agravamento da pandemia da covid-19. Já o dólar fechou em alta em relação ao real nesta sexta-feira (15), depois de três quedas consecutivas.
O principal índice da B3, o Ibovespa, caiu 2,54%, aos 120.348 pontos neste pregão. Na semana, o recuo foi de 3,78% – o pior desempenho desde o final de outubro.
Já o dólar subiu 1,81% nesta sexta, a R$ 5,3042. Na semana, no entanto, a moeda acumulou queda de 2,07% em relação ao real.
As dúvidas em relação ao calendário de vacinação contra a covid-19 no Brasil seguem pesam sobre o mercado financeiro, especialmente diante do agravamento da situação da pandemia no país. Em Manaus, o sistema de saúde entrou em colapso, com pacientes morrendo por falta de oxigênio.
O analista José Falcão, da Easynvest, avalia que “a má gestão da pandemia traz insegurança e falta de credibilidade, não é de hoje, mas a correção de desta sexta especificamente é muito de realização de lucro dos últimos dias”. Ele comenta ainda a forte entrada de recursos na bolsa recentemente e o movimento global.
Analistas de mercado comentaram que o componente político voltou a mexer com os preços, com a escalada do embate público entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e novas declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), alimentando debates sobre a possibilidade de a Câmara retomar atividades antes do fim do recesso.
“Isso fortaleceria Maia e poderia trazer de volta discussões sobre mais auxílio emergencial”, disse à Reuters Luiz Eduardo Portella, sócio-fundador da Novus Capital. “A gente precisava ter a aprovação da vacina pela Anvisa neste fim de semana para podermos começar a próxima semana com temperatura mais baixa”, completou.
O comportamento do presidente Bolsonaro no combate à pandemia de covid-19 talvez fosse considerado genocídio em um outro país, disse Doria nesta sexta-feira. Em entrevista posterior, Bolsonaro rebateu o governador paulista e citou Rodrigo Maia, que em entrevista na sequência falou em “um certo descaso” com a questão das vacinas no entorno do presidente da República.
Do cenário econômico, o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) anunciou que as vendas no varejo brasileiro recuaram 0,1% em novembro na comparação com o mês anterior. A expectativa, segundo pesquisa da Reuters, era de alta de 0,4%.
Cenário externo
Em notas a clientes, bancos e gestoras de recursos observavam que o otimismo do dia anterior antes de um plano de estímulo econômico nos Estados Unidos, de US$ 1,9 trilhão, rapidamente se desvaneceu após o anúncio do pacote pelo presidente eleito Joe Biden ser formalmente anunciado. Isso porque investidores passaram a ver problemas para aprovação no Congresso do país, além dos possíveis efeitos inflacionários e aumento de impostos.
Destaques da Bolsa
PETROBRAS (PETR4), novamente um dos alvos principais de realização de lucros, caiu 4,5%, também na esteira da queda das cotações internacionais do petróleo.
VALE (VALE3) recuou 4,35%. Assim como com Petrobras, a ação da mineradora foi um dos motores de alta do Ibovespa nos últimos dois meses. E os papéis estão no centro da disputa pelos contratos de opções sobre ações, que vencem na próxima segunda-feira. Também no setor de metais, USIMINAS (USIM5) cedeu 4,7%. CSN (CSNA3) caiu 8,1% e GERDAU (GGBR4) recuou 5,9%.
LOCALIZA (RENT3) teve baixa de 4,36%, com o setor de locação de veículos e gestão de frotas todo no vermelho em meio às preocupações com novas medidas de isolamento social que atingiram o setor no ano passado. LOCAMERICA (LCAM3) se desvalorizou em 5,9%.
SUZANO (SUZB3) cresceu 2,5%. KLABIN (KLBN4) avançou 0,45%. Em relatório a clientes, o BTG Pactual manteve visão positiva para ambos os papéis, dado o cenário de alta de preços da celulose na China.
*Com Reuters