É cada vez mais comum incluir todos os tipos de contas no cartão de crédito – do aluguel aos serviços de streaming. Além dos benefícios de programas de milhas e de cashback disponíveis, a possibilidade de concentrar o pagamento dos boletos em uma única data também é vista como um ponto positivo para os especialistas. “O risco de esquecer de pagar alguma conta acaba sendo menor, porque os vencimentos ficam concentrados em um único dia”, explica Cláudio Parisotto, planejador financeiro e sócio da assessoria de investimentos iHub.
Com o “dinheiro de plástico” também é possível tirar melhor proveito da rentabilidade das aplicações em renda fixa, por exemplo. “Em vez de fazer várias retiradas, é possível deixar o dinheiro rendendo o mês inteiro e resgatar de uma única vez para pagar a fatura”, reitera o especialista.
Entretanto, aquela velha máxima continua válida: o cartão de crédito só é indicado para quem tem disciplina. “Não se pode achar que é um cheque em branco, porque a fatura vai chegar”, orienta Parisotto. E quem paga a conta atrasada se depara com a taxa de juros mais salgada do mercado.
Segundo a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), quem usou o rotativo do cartão de crédito, ou seja, atrasou a fatura ou pagou um valor inferior ao total, arcou com uma taxa de 271,63% nos últimos 12 meses. Significa, por exemplo, que se um cliente pagou somente R$ 500 de um total de R$ 1 mil, ele terá ao fim de um ano uma dívida de R$ 1.858,15.
Para efeito de comparação, a quantia é quase seis vezes maior que a taxa cobrada de quem contrata um empréstimo pessoal, que está em 46,79% ao ano, em média.
Para ajudar a inserir os gastos do cartão de crédito no seu planejamento financeiro sem se perder no orçamento, o InvestNews conversou com especialistas em finanças pessoais que elencaram 4 passos fundamentais nesse processo. Veja a seguir:
Categorize as despesas do cartão
Se você é daqueles que somam o valor final da fatura de cartão do crédito aos demais gastos sem descriminar cada item, saiba que este não é o caminho indicado. “É importante dividir por tipos de gastos para saber quanto pagamos de despesas obrigatórias e supérfluas”, orienta Maria Paula Cicogna, professora de matemática e finanças no curso de economia da Facamp (Faculdades de Campinas).
De acordo com Maria Paula, ao dividir os grupos fica mais fácil identificar os gastos que estão pesando no orçamento, caso seja necessário fazer algum corte. Nesta situação, de acordo com a especialista, os gastos supérfluos, aqueles que não são primordiais para a sobrevivência, devem ser os primeiros a serem cortados; depois os itens não essenciais relacionados à mercado, farmácia e transporte e, por último, os obrigatórios, que são aquelas despesas recorrentes que são mais difíceis de reduzir, como aluguel, água e luz.
Para Cláudio Parisotto, entretanto, não é preciso radicalismo na hora de colocar as contas na ponta do lápis, mas é fundamental saber para onde está indo o grosso do dinheiro. “Costumo dizer que 80% dos gastos, em geral, estão relacionados a 20% dos itens, como aluguel, condomínio e supermercado. Ou seja, geralmente poucos itens é que geram a maior parte dos gastos, e estes sim são importantes classificar”, explica Parisotto.
Além disso, é importante lembrar que os produtos e serviços pagos com cartão de crédito devem ser adicionados ao orçamento financeiro do mês seguinte. “É quando o dinheiro da conta corrente será efetivamente destinado ao pagamento da fatura”, complementa Liliam Carrete, professora de Finanças da FEA-USP.
Defina valores máximos
Os especialistas recomendam ainda definir um valor máximo para gastar em cada categoria, como farmácia, supermercado, transporte, lazer, dentre outros. Aplicativos que ajudam a separar os gastos do cartão de crédito por tipo e ainda estipular a quantia limite que pode ser desembolsada são bons aliados.
Além disso, o ideal é estabelecer um teto para o valor total da fatura e acompanhar pelo próprio internet banking se o valor já foi atingido. Mas atenção: as compras feitas por meio do crédito nem sempre são lançadas pelas instituições financeiras no mesmo dia. É fundamental, portanto, adotar ferramentas adicionais de controle. (Veja mais informações abaixo). “É importante também que o cartão tenha um limite que seja condizente com o valor que pode ser gasto no mês”, complementa Liliam Carrete.
Some compras parceladas às dívidas existentes
Quando o assunto é compra parcelada o ideal é analisar antes da compra o quanto a nova dívida irá comprometer o orçamento futuro. “Se vou parcelar em 12 vezes, devo considerar que é uma obrigação financeira que irá comprometer meu salário por um ano”, explica Liliam Carrete.
Além disso, é primordial somar a nova parcela às dívidas recorrentes já existentes. Quem tem uma renda familiar líquida de R$ 5.000, por exemplo, e vai pagar R$ 100 de parcela após a compra de um celular, comprometerá 2% do salário.
Se 25% da renda já está comprometida com outras prestações (como imóvel e automóvel por exemplo), a nova compra irá elevar o índice de endividamento para 27%. Na avaliação de Liliam, essa fatia não deve ser superior a 30% do salário. “Acima disso já se compromete a capacidade de se alimentar, se vestir e se locomover. É um risco de ruína financeira”, alerta.
É a partir desta análise que é possível também programar novos gastos. “É uma forma de identificar também em que momento haverá espaço para fazer uma nova compra”, explica a professora da FEA.
Estabeleça uma rotina de controle
É fundamental estabelecer uma rotina para incluir os gastos em uma planilha financeira ou em outra ferramenta que ajude a controlar as despesas. A maior parte das pessoas não tem tempo hábil para inserir diariamente os gastos em uma planilha. A orientação dos especialistas, portanto, é programar um dia da semana para lançá-los.
Uma alternativa é usar aplicativos que sincronizam os rendimentos e os gastos com cartão de diferentes bancos em um único local. Dentre eles estão Mobills; Minhas Economias; Organizze e Guia Bolso.
Entretanto, mesmo diante das facilidades trazidas pelo open banking, que possibilita o compartilhamento das informações financeiras de um mesmo cliente entre as instituições financeiras, a dica é evitar ter mais de um cartão de crédito.
“Resista às ofertas de cartão por parte das lojas, que tem se tornado uma tendência por oferecerem compras com muitas parcelas sem juros. O melhor é ter um cartão só e fazer o número de parcelas que cabem no seu bolso”, conclui Maria Paula Cicogna, professora da Facamp.
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