*ARTIGO
No mais recente sinal de adoção de uma tecnologia que ocupa uma área cinzenta nas rígidas leis sobre criptomoedas da China, o governo comunista do país asiático anunciou que está lançando seu próprio marketplace estatal de tokens não-fungíveis (NFT).
Criada pelas estatais Chinese Technology Exchange e Art Exhibitions China em parceria com a empresa privada Huban Digital Copyrights Ltd, a plataforma será usada para negociar tanto NFTs quanto propriedades intelectuais e direitos sobre outros tipos de ativos digitais – mas não criptos.
Em geral, um marketplace de NFT é um espaço em que os usuários podem comprar, vender e negociar tokens de propriedade não-fungíveis, aqueles itens digitais únicos que não são substituíveis e podem ser negociados livremente.
Contudo — e como era de se esperar —, a plataforma chinesa foge dessas regras, pois vai funcionar através de um blockchain próprio chamado de “cadeia de proteção cultural da China”, que é altamente centralizado e regulamentado pelo governo chinês.
“A única plataforma de serviço de depósito confiável para ativos digitais negociáveis, fornecendo registro de ativos digitais, confirmação de direitos, depósito, monitoramento de proteção de direitos e serviços de proteção de direitos autorais para instituições e usuários individuais”
Pronunciamento oficial do governo chinês
Além disso, todos os criptoativos vinculados à blockchain têm direitos de propriedade semelhantes aos itens vendidos em marketplaces convencionais e permitirá apenas o “yuan digital”, a CBDC (moeda digital do banco central) do país, para efetuar o pagamento dos NFTs e taxas da plataforma.
Sendo assim, tal lançamento pode ser um cavalo de troia para a população, visto que nada tem a ver com os marketplaces de NFTs tradicionais, como OpenSea, SuperRare, Ejin e Rarible.
A história da China com as criptos é mais longa que ‘Faroeste Caboclo’
A China tem sido um ator importante no mercado global de criptomoedas desde o surgimento do bitcoin (BTC). Até 2020, por exemplo, o país era um dos mais importantes centros de mineração de BTC do planeta.
Por outro lado, a China chama a atenção do mundo pelo seu amplo histórico de atitudes repreensivas à tecnologia das criptomoedas ao longo dos anos.
- Em 2013, o Banco Popular da China (BPC) emitiu uma declaração proibindo as instituições financeiras de usar ou aceitar BTC.
- Em 2017, o BPC fez novas regulamentações que proibiam as ofertas iniciais de moedas (ICO). No entanto, as ICOs foram permitidas novamente em 2018.
- Em 2019, o governo trouxe normas que barraram as exchanges de oferecer serviços de margem de negociação e proibiu as empresas de pagamento de processar transações de criptos.
- Em 2021, o país iniciou uma nova saga de restrição total à tecnologia, proibindo mineradores e trading de criptomoedas em seu território.
- Em 2022, de acordo com a conta do jornalista Colin, os reguladores chineses da internet fecharam 105 sites envolvidos na negociação e mineração de criptos.
Apesar dos movimentos fortes para impedir que cidadãos comprem, minerem e comercializam criptomoedas no país, quanto ao metaverso, a China possui posicionamento oposto ao que adota e adotou com as moedas digitais no decorrer dos anos.
Em mais uma atitude que soa como contraditória, o governo chinês anunciou que pretende investir cerca de R$ 1,1 trilhão no metaverso e outras tecnologias correlacionadas até 2025 — o que, obviamente, também devem vir repletos de centralização.
Mayara é co-autora do livro “Trends – Mkt na Era Digital”, publicado pela editora Gente. Multidisciplinar, apaixonada por tecnologia, inovação, negócios e comportamento humano. |
*As informações, análises e opiniões contidas neste artigo são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews.
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