Embora a projeção do Boletim Focus da última semana tenha mantido a projeção para o câmbio em R$ 4,95 ao término de 2023, nos últimos dias o dólar chegou a passar da casa dos R$ 5,22, puxado pelas expectativas de juros mais altos nos Estados Unidos. A poucos meses do final do ano, no entanto, especialistas afirmam que as próximas projeções para a moeda dependem de mais dados da economia norte-americana.
Nesta sexta-feira, o dólar terminou o dia em R$ 5,16, após chegar a R$ 5,22 na máxima do dia, com investidores repercutindo os dados do mercado de trabalho no relatório conhecido como payroll. Com números bem mais fortes que o esperado, a expectativa de que o Federal Reserve (Fed) mantenha os juros altos por mais tempo que o esperado inicialmente ganhou força.
Juros mais altos nos Estados Unidos tendem a atrair investidores para o mercado norte-americano, considerado mais seguro – especialmente em momentos em que praças consideradas mais arriscadas, como o Brasil, cortam suas taxas. A estratégia é conhecida como “carry trade”.
Há algumas semanas, especialistas diziam que esse aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos não estava fazendo tanto preço no mercado de câmbio, que já havia precificado a movimentação das taxas. A avaliação, no entanto, veio antes da surpresa do último comunicado do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), mais duro que o esperado.
Na sequência, dados da economia norte-americana reforçaram os temores. Agora, para Anilson Moretti, head de câmbio na HCI Invest, “tudo vai depender das próximas informações de inflação nos EUA”, incluindo o índice de preços ao consumidor a ser divulgado no próximo dia 12.
Ele cita ainda as expectativas para os anúncios do Fed e do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central Brasileiro no dia 1º de novembro. “Essas informações serão cruciais para uma decisão acertada do Copom em manter e não diminuir os juros no Brasil. Nosso país precisa continuar atrativo para investimentos estrangeiros, princípio que não vem ocorrendo desde agosto de 2023”, opina Moretti.
Nesse cenário, Guilherme Sahadi, CEO da BullSide Capital, diz que a “expectativa para o dólar é de que permaneça acima da casa dos R$ 5 por um bom tempo”.
“Não existe razão, na nossa visão, para um alívio no curto e médio prazo. Eu diria que nos próximos 3 meses, pelo menos, porque está claro que o Fed deve manter as taxas de juros mais altas e deve haver um aumento enquanto o Brasil está num movimento contrário, de cortes, tendo em vista que o BC daqui atuou um pouco à frente do BC americano, e houve um controle inflacionário.”
Guilherme Sahadi, CEO da BullSide Capital
Ele cita ainda que já “existe uma entrada de capital institucional nos EUA, buscando esses juros mais altos”, o que pressiona a demanda por dólar.
Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, acredita que “enquanto esse movimento de alta nos juros futuros americanos perdurar, é bem provável que o dólar continue se valorizando frente a outras moedas”. Mas ele também comenta que “não dá pra prever quando o dólar melhora ou piora, dependemos muito da divulgação dos próximos dados nos EUA”.
Mariane Vas, coordenadora de economic research do Gorila, lembra que “a disparada do dólar não é algo de recente, desde julho deste ano o dólar subiu 7% ante uma cesta de moedas, impulsionado por uma combinação de um crescimento ainda forte do PIB nos EUA, perspectiva de manutenção de juros restritivos por mais tempo, enfraquecimento da economia da zona do euro e incertezas sobre a economia chinesa”.
No entanto, no acumulado de 2023 até agora, a moeda norte-americana acumula queda de 2,21%, apesar de estar diminuindo esse recuo. Somente nos primeiros dias de outubro, já houve avanço de 2,68%. A expectativa fica, então, sobre a reação do mercado à divulgação dos próximos números.
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