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Finanças

Coronavírus: 5 questões para entender o pânico nos mercados

Medo em torno da epidemia chinesa derrubou bolsas no mundo todo e fez investidores correrem para portos mais seguros.

O crescente contágio da epidemia do coronavírus para outras partes do mundo vem abalando a confiança dos mercados desde o início da semana. Forte queda nas bolsas, disparada do dólar e temor de desaceleração global acenderam o alerta de que a disseminação da doença chinesa pode tomar proporções maiores.

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O número de mortos em decorrência da epidemia chegou a 81 até segunda-feira (27). Cerca de 2700 pessoas já foram diagnosticadas com a pneumonia causada pelo vírus e casos já foram confirmados na Europa e na América do Norte, além de outros países asiáticos.

Após minimizar o grau de perigo do contágio, a OMS corrigiu sua avaliação e passou a considerar o risco “alto” para todo o mundo. Uma das preocupações é que o vírus se espalhe de forma parecida ao SARS, epidemia asiática que matou centenas de pessoas de pessoas e infectou milhares em 2003.

Para José Falcão de Castro, analista de investimentos da Easynvest, a reação imediata do mercado a notícias deste tipo nem sempre é racional. “Os investidores agem muito por expectativa diante de um fato cujo tamanho ainda não é possível entender”, afirma. Por tratar-se de um evento sistêmico, a recomendação é manter a calma, mas permaneça atento aos seus desdobramentos.

Em relatório a clientes, o banco holandês Rabobank chamou atenção para o risco de mais casos aparecerem pelo mundo. “Há evidências de que o vírus tem um período de incubação de cerca de duas semanas antes dos infectados começarem a apresentar sintomas. Isso implica que o número das pessoas afetadas provavelmente aumentará ainda mais”, diz o banco.

Veja abaixo os principais pontos que elevaram o pânico dos mercados esta semana com a epidemia do coronavírus:

1 – Desaceleração da economia chinesa

Mesmo com os esforços para conter o vírus, autoridades chinesas admitiram que a epidemia pode estar fora de controle. Segundo a mídia chinesa, autoridades de Wuhan, de onde surgiu a doença, colocaram o cargo à disposição após críticas de que houve lentidão nas informações sobre o novo vírus. O prefeito afirmou que mais de 5 milhões de pessoas deixaram a região antes do fechamento da cidade. 

A China decidiu estender o feriado do ano-novo Lunar em mais três dias, para evitar deslocamentos, diante do temor de que as festividades agravassem ainda mais a disseminação da doença.

Teme-se que a proibição de viagens e o bloqueio de regiões na China prejudique a atividade econômica da segunda maior economia do mundo. O receio vem em um momento no qual o país começou a reagir após crescer mais de 6% nos três primeiros trimestres de 2019. Especialistas chegaram a considerar o risco de uma queda de um ponto percentual no PIB chinês.

2 – Abalo no setor de commodities

Os papéis das grandes exportadoras de matérias-primas foram as que mais sofreram na Bolsa brasileira, apesar da queda generalizada do seu principal índice, que cedeu 3,29%, aos 114.481 pontos, devolvendo boa parte dos ganhos recentes.

As ações da Vale e Petrobras perderam, juntas, R$ 33,6 bilhões em valor de mercado na sessão. Elas são grandes exportadoras de commodities para a China, seu principal mercado consumidor. Previsões de que o surto também poderia reduzir a demanda por petróleo afetaram os papéis preferenciais da Petrobras (PN), que perdeu 4,66%. 

No radar, esteve a notícia de fontes de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) discute ampliar os cortes de produção da commodity visando possíveis impactos da disseminação do coronavírus. O Goldman Sachs calculou que a doença poderia reduzir essa demanda em 260.000 barris por dia e cortar os preços em US$ 3 por barril.

O analista de energia Carsten Fritsch, do Commerzbank, disse à agência Estadão Conteúdo que o coronavírus alimenta “temores de um resfriamento da demanda de petróleo, o que significaria que o mercado global de petróleo estaria com excesso de oferta se não forem tomadas outras medidas”.

3 – Restrição a viagens derruba turismo

Companhias aéreas e de turismo estão entre as possíveis prejudicadas pelos desdobramentos do surto na China. O receio é que muitas pessoas desistam de viajar nas próximas semanas e cancelem a compra de passagens aéreas. Além disso, a alta do dólar acaba prejudicando as empresas do segmento.

Tanto que as ações do segmento desabaram na Bolsa brasileira e no exterior. As brasileiras Azul e Gol fecharam em baixa de 3,33% e 6,53%, respectivamente. Já a CVC, maior empresa de viagens do país, recuou 4,88%. Na Europa, as ações da Lufthansa apresentaram desvalorização de 4,33% hoje, enquanto a Air France caiu 5,64%. A IAG, que controla a British Airways, teve perdas de 5,48% e os papéis da britânica de baixo custo Easyjet caíram 4,92%. 

Na contramão, os papéis de empresa do setor farmacêutico tiveram ganhos expressivos. A francesa Ipsen chegou a subir 2%, liderando na ponta positiva. No Brasil, a Raia Drogasil subiu 1,5%, entre as maiores alta do dia.

4 – Novas incertezas no acordo EUA X China

A epidemia lança novas incertezas sobre a trégua comercial entre as duas maiores potências do mundo, que assinaram um acordo parcial recentemente. Segundo o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, o acordo era o alento necessário para que a China iniciasse um novo ciclo de investimentos em 2020 nos mercados emergentes.

“A China está prestes a embarcar num possível ciclo de recuperação da atividade, onde na verdade os indicadores econômicos começam a dar sinais de estabilidade, após um ciclo conciso de contração nos últimos anos”, escreveu Vieira em relatório. 

5 – Valorização dos ativos mais seguros

Diante da maior aversão ao risco, os ativos considerados mais seguros tendem a se valorizar. Não foi diferente desta vez: o dólar, visto como uma das moedas mais fortes, valorizou contra as principais moedas do mundo e subiu 0,58% frente ao real, negociado a R$ 4,21.

Outro ativo que ganhou destaque foi o ouro. O contrato futuro para fevereiro fechou em alta de 0,35%, em US$ 1.577,40 a onça-troy, na Comex, divisão de metais da New York Mercantile Exchange (Nymex). 

O Commerzbank vê o coronavírus como “uma bênção e uma maldição para o ouro”. O banco alemão também destaca em relatório o aumento na demanda pelo metal nos mercados, mas diz que a demanda física na própria China poderia ser prejudicada por causa da doença, mesmo em um período de alta demanda como o feriado do ano-novo lunar local.

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