As ações da Petrobras operaram e fecharam em alta nesta segunda-feira (31), com o mercado repercutindo a nova política de dividendos da petroleira. No entanto, analistas enxergam poucas mudanças nas regras anunciadas pela estatal.
A ação PETR3 encerrou o pregão com ganho de 5,26%, a R$ 34,81, e o papel PETR4 em alta de 4,54%, a R$ 31,11.
No exterior, os papéis da estatal também subiram, com os ADRs da Petrobras fechando em alta de 5,38% em Wall Street.
Análises da nova política
Segundo Helena Kelm e Andre Vidal, ambos analistas da XP, “é difícil dizer se as mudanças foram melhor ou pior que o esperado”, já que o entendimento é de que a maior parte da política foi mantida inalterada.
Um exemplo é a política de recompra de ações anunciada. Segundo os analistas, não é de hoje que a Petrobras fala sobre o tema, o que já tornava esperado que fosse abordado num anúncio de mudanças. Mas a falta de detalhes sobre o assunto chama atenção.
“A Petrobras vai comprar ações ordinárias, ações preferenciais ou ambas? Qual será o mix de dividendos/recompras de ações que a empresa buscará?”, destacaram em relatório, acrescentando que isso “pode ser visto como negativo pelos investidores”.
Já sobre a redução do percentual de fluxo de caixa de 60% para 45%, a mudança também era esperada pelos investidores, apesar de nas últimas semanas o consenso ter convergido dos aguardados 40%, o que torna os 45% ligeiramente superior.
“Em teoria, poderíamos esperar que os dividendos fossem revisados para cima pelos analistas em cerca de 13%, mas parte desses 45% poderiam ser usados para recompras de ações. No geral, embora esta mudança seja negativa, é ligeiramente positiva face às expectativas anteriores”, apontaram.
Para a Genial Investimentos, a empresa deve distribuir menos dividendos em relação aos proventos anteriores. Mas essa redução não é nenhuma surpresa, “tendo em vista o fluxo recente de notícias relacionado a esse tema”, reiteraram em relatório.
Mas para além dos dividendos, como a companhia deixou claro o interesse em realizar recompra de ações com o objetivo de cancelamento, essa alternativa é julgada como interessante pela Genial, já que aumenta o rendimento dos proventos distribuídos aos acionistas.
“Entretanto, a empresa não deixou claro quando passará a optar por essa modalidade em relação ao pagamento de dividendos. No caso específico de empresas de cíclicas, preferimos o pagamento de dividendos”.
genial investimentos
Já quanto a periodicidade trimestral do pagamento dos proventos, isso em nada mudou da política anterior, destacou ainda a Genial. Mas, de acordo com a XP, o fato de os pagamentos trimestrais terem sido mantidos acaba sendo um sinal positivo, assim como os 45% de fluxo de caixa livre ficar um pouco acima dos 40% que o consenso esperava.
“Mas por outro lado, a inclusão da aquisição de participações societárias para a definição do Capex (Capital Expenditure, ou, Despesas de Capitais) e a falta de detalhes sobre as recompras de ações ainda tornam o montante de pagamento de dividendos incerto. No geral, esperamos uma reação neutra dos investidores”, apontaram Kelm e Vidal.
Na avaliação do BTG Pactual, quantitativamente falando, o anúncio da nova política não foi o catalisador que todos esperavam, com as expectativas de pagamentos futuros ficando praticamente estáveis.
“Qualitativamente, nossos sentimentos estão confusos. Enquanto a atualização [da nova política] transmite uma alocação racional de capital, também deixa uma ampla gama de possibilidades”. O banco liderado por Andre Esteves acredita que foi adicionado uma camada de subjetividade em algumas métricas chaves da nova política de dividendos.
Mas na visão do JPMorgan, desde as eleições presidenciais vem sendo discutido como um novo governo federal provocaria mudanças prioritárias na estatal, pelo menos em três frentes: política de preços, alocação de capital e dividendos. Esse último, apesar da flexibilização modesta anunciada com a nova política, ainda apoia uma visão positiva sobre a remuneração dos acionistas.
“Esse ajuste [do fluxo de caixa livre] visa proteger o balanço da empresa. De qualquer forma, damos boas-vindas a uma fórmula direta que fornece previsibilidade aos investidores”
JPMorgan
Segundo os analistas do banco americano, Rodolfo Angele, Milene Clifford Carvalho e Henrique Cunha, a companhia deve continuar podendo pagar dividendos extraordinários devido aos rendimentos no fluxo de caixa da petroleira
O tom positivo foi o mesmo visto em relatório do Itaú BBA, em que os analistas apontam para um dividend yield de 3,4% no segundo trimestre, sendo este o mesmo percentual caso a Petrobras adotasse a política média declarada nas grandes petroleiras, “algo em torno de 30% do fluxo de caixa operacional”, disseram.
Recompra de ações deve ficar no radar dos investidores
Agora, investidores devem observar como será o programa de recompra de ações, na avaliação da XP, já que, ao contrário do que acontece na maioria dos países, no Brasil os dividendos são isentos de impostos, o que aponta que há menos incentivo para buscar a recompra de ações às custas dos dividendos.
“No caso da Petrobras, se o governo optar por focar em ações ordinárias, acreditamos que a reação do mercado será negativa. No entanto, o governo enfrenta uma situação fiscal difícil e, sob essa lente, os dividendos são uma rota preferível”.
Os analistas aguardam que o governo faça algumas recompras de ações “para criar uma narrativa política”, mas sem fazer nenhum movimento significativo, o que torna essa possibilidade como um risco para se investir em Petrobras.
Para os dividendos referentes aos resultados do segundo trimestre deste ano – que serão divulgados na quinta-feira (3), a XP estima um valor de cerca de USD 2,8 bilhões, o que equivale a R$ 1 por ação ou um dividend yield ao redor de 3,5% no trimestre.
Segundo o Bank Of America (BofA), é esperado que os resultados trimestrais sejam mais fracos, impactados pelos preços mais baixos do petróleo. As empresas juniors devem ser favorecidas pelo aumento na produção, além da incorporação de ativos recém adquiridos e de novos poços de petróleo.
O InvestingPRO, ferramenta de análise fundamentalista, aponta para uma perspectiva de um lucro por ação (LPA) para PETR4 de R$ 2,14, com receita esperada de R$ 117,1 bilhões para o balanço do segundo trimestre.
Recomendações
Apesar de os analistas da XP enxergarem empresas brasileiras ‘júniors’ de petróleo e gás mais atrativas do ponto de vista risco/retorno, a recomendação para PETR4 segue sendo de compra por Kelm e Vidal, por considerarem o dividend yield ainda atrativo.
“No entanto, há muitos riscos no horizonte e a Petrobras deve continuar sendo um investimento de ‘baixo beta para o petróleo’.
XP
Mas a Genial segue sendo mais “pessimista”, recomendando a venda dos papeis, uma vez que a percepção da casa é de que as alterações propostas são negativas em relação a política de dividendos anterior.
De acordo com levantamento feito pela ferramenta Valor Pro com 10 casas, 3 têm recomendação de compra para PETR4. As outras 7 têm recomendação neutra, como Ágora Investimentos, Itaú BBA e Safra.
O BTG Pactual é uma das instituições que estão com posição neutra nos papeis, uma vez que aguarda a disposição da companhia em anunciar dividendos extraordinários, descartar fusões e aquisições significativas e ficar mais confortável com a política de preços de combustíveis – o que os analistas consideram improvável a curto prazo.
“Os preços dos combustíveis divergiram significativamente da paridade de importação, pois o preço do petróleo subiu (estimamos descontos de 34% e 20% para gasolina e diesel, respectivamente), e acreditamos que o mercado deve voltar sua atenção para este assunto nos próximos dias”
Ainda de acordo com o BTG, um potencial ajuste para cima no preço dos combustíveis pode ser muito bem recebido, enquanto um período mais prolongado sem ajustes pode superar a maioria dos aspectos positivos da nova política de dividendos.
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