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Finanças

Enjoei: 3 pontos para considerar antes de investir no IPO, segundo analista

Plataforma que desapegou das roupas e agora se apega ao mercado de capitais pode movimentar mais de R$ 1 bilhão em sua oferta de ações.

Varejo

Mais uma startup promete movimentar os negócios da bolsa de valores com a abertura de seu capital (oferta pública inicial de ações). O “brechó” online Enjoei.com, hoje um dos maiores marketplaces de roupas, móveis e eletroeletrônicos do país, já definiu a faixa indicativa de preço de suas ações entre R$ 10,25 e R$ 13,75.

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Levando em conta sua oferta base de 96.265.123 ações e a mediana do preço, de R$ 12, é possível que a plataforma consiga movimentar pelo menos R$ 1,155 bilhão com a operação. Se contar o lote suplementar e adicional, o valor levantado pode atingir R$ 1,559 bilhão. O período de reserva das ações termina na próxima terça-feira (3) e as ações começam a ser negociadas na B3 a partir do dia 9 de novembro.

A história da empresa se combina com o desenvolvimento das plataformas de compra e venda de roupas usadas na internet, e um novo padrão de consumo que desestabilizou por um tempo a indústria da moda. 

Em 2009, ainda na era do Orkut, a fundadora Ana Luiza McLaren decidiu empreender e começou a vender roupas usadas pela internet usando seu blog, o Enjoei. Amigos se juntaram ao movimento e começaram também a se desapegar de suas peças. 

Alguns anos depois, em 2013, um dos mais respeitados fundos de investimentos brasileiros, o Monashees, enxergou potencial no negócio e decidiu ajudar a financiar a expansão do negócio. Um ano depois, foi a vez de outro aporte, mas de capital estrangeiro, do fundo americano Bessemer Venture Partners.

De lá para cá, a empresa afirma que, pelas suas vitrines virtuais, já foram expostos mais de 30 milhões de produtos de 85 mil marcas diferentes. Mas os investidores querem saber do futuro, por isso o InvestNews conversou com a CEO da AGR Consultores, Ana Paula Tozzi, que entende de varejo e está de olho no IPO, sobre os principais pontos para ficar de olho antes de investir no IPO da companhia.

1 – Novo padrão de consumo

Segundo a especialista, aqui no Brasil ainda é tabu comprar e vestir roupas usadas. No máximo, é comum alugar vestidos de festa ou ternos para eventos especiais. Mas lá fora existe um ativismo que tenta desviar do “compra e joga no lixo” tão marcante do fast-fashion

Mas Tozzi traz algumas dicas de marcas americanas que empregam o conceito de reutilizar, como faz a Patagonia, Inc. A empresa ativista, que produz “outdoor clothing” — casacos de inverno, roupas pesadas, jaquetas corta vento, de vida útil prolongada —, criou uma segunda marca, a Worn Wear, que recebe as roupas da Patagonia em troca de crédito aos clientes, para depois consertar e revender.

Outro exemplo é a Rent the Runway, plataforma online focada em aluguel de roupas feitas por designers. Essa se encaixa na categoria que Tozzi chama de “re-commerce”, e já chegou aos US$ 100 milhões em receita, tendo sido fundada em 2009, no mesmo ano que o enjoei.

“As gerações mais velhas têm problema com isso”, declara Tozzi, “mas os mais novos não veem problema nenhum.” Segundo Tozzi, essa tendência de consumo responsável casa bem com o futuro do Enjoei, e a preocupação com enquadramento nos fatores ambientais, sociais e de governança do ESG.

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2 – Modelo de negócio e faturamento

A receita do Enjoei vem das taxas cobradas dos vendedores sobre cada transação e da co-participação no frete. Além disso, a empresa presta serviços extras, desde garantias contra fraudes, até sua carteira digital exclusiva, o enjuBank

Mas como já é tendência entre grandes startups, o negócio ainda está no vermelho. O prejuízo é recorrente, embora a receita cresça. De janeiro a julho deste ano, o Enjoei teve receita acumulada de R$ 47,4 milhões, expansão de 46% na comparação anual, enquanto o prejuízo operacional foi de R$ 3,6 milhões.

Tozzi lembra que, por trás da oferta inicial da empresa, existe a coordenação de grandes bancos, entre eles BTG Pactual, Bradesco BBI e J.P. Morgan. E que, portanto, seus analistas devem concordar sobre algum potencial de lucro futuro.

“Não é um lucro óbvio, mas é uma tendência. A plataforma já está pronta e com muito volume de vendas”, explica Tozzi. Segunda a empresa, o site recebe em média 23 milhões de visitas por mês e a cada semana são adicionados nele mais de 350 mil itens.

3 – Para onde vai o dinheiro da captação?

A carta de apresentação informal acompanhando o prospecto preliminar, com o estilo meigo e fofo, que ainda leva um ar da blogosfera, próprio da comunicação do “Enjoie”, deixa vaga a destinação do dinheiro que será captado no IPO. A não ser pela última frase, escrita pela fundadora: “Vou morrer de saudades quando a gente estiver 100%  ocupados fazendo do Enjoei o maior empresão orgulho do Brasil.”

Segundo Tozzi, o mais provável é que os quase R$ 1,6 bilhões vão ser investidos em tecnologia, para ganhar escalabilidade nas operações. Ela aposta também na ampliação das categorias negociadas no marketplace. 

“Tem-se uma possibilidade enorme de ampliação, por exemplo, na venda de móveis, que ainda é incipiente. E também podem sair um pouco do óbvio, que é o vestuário, e explorar outras coisas, desde arte até serviço de armazenamento.”

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