O mês de julho inaugura, com as férias escolares, o ápice do calendário de viagens dos brasileiros — e, junto com o movimento nos aeroportos, cresce a necessidade de um planejamento financeiro robusto para evitar que o sonho da viagem internacional se transforme em dor de cabeça na volta.
O entusiasmo é justificado: mesmo com a valorização de 27% do dólar em 2024, os brasileiros desembolsaram US$ 14,8 bilhões em viagens ao exterior, o maior volume desde 2019, segundo dados do Banco Central. Estados Unidos, Itália e Portugal seguem como os destinos favoritos, mas a lista inclui também Argentina, França, Espanha, Chile, Tailândia, República Dominicana e Japão, de acordo com o Anuário Braztoa 2025.
Nesse cenário, a escolha do meio de pagamento deixou de ser mero detalhe para se tornar parte central da estratégia de viagem. A volatilidade do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que incide sobre praticamente todas as transações internacionais, adicionou uma camada extra de complexidade ao planejamento.
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Em maio, um decreto presidencial elevou o IOF para 3,5% em todas as operações no exterior, encarecendo as despesas. O Congresso, porém, derrubou a medida em junho, restabelecendo as alíquotas anteriores: 3,38% para cartão de crédito, 1,1% para compra de moeda em espécie, cartões pré-pagos e contas globais.
A disputa, no entanto, está longe do fim. O governo anunciou que vai recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar restabelecer o aumento do imposto, numa tentativa de reforçar a arrecadação federal. Para o viajante, esse vai e vem regulatório exige atenção redobrada: as regras podem mudar a qualquer momento, impactando diretamente o custo das férias.
Diante desse cenário, comparar taxas, analisar o IOF incidente em cada modalidade e entender as funcionalidades de cada opção são passos essenciais para garantir economia e praticidade durante a viagem. Veja a seguir:
Cartão de crédito internacional
Embora seja o meio mais tradicional e amplamente aceito em praticamente todos os estabelecimentos ao redor do mundo, é também o mais caro para o consumidor brasileiro. Além do IOF de 3,38%, incide sobre as transações um spread — a diferença entre o câmbio comercial e o valor efetivamente cobrado — que pode variar entre 5% e 7%, tornando o custo total da compra significativamente mais alto.
Vamos a um exemplo hipotético: ao realizar uma compra de US$ 100 no exterior com o cartão de crédito internacional, considerando a cotação do dólar turismo a R$ 5,76, o valor inicial da compra seria de R$ 576,00.
Aplicando um spread de 5%, o valor sobe para R$ 604,80. Sobre esse montante, ainda incide o IOF de 3,38%, elevando o custo final para R$ 625,24. Ou seja, aquela compra de US$ 100, que poderia custar R$ 576, acaba saindo por R$ 625,24 — uma diferença de quase R$ 50 só em taxas e impostos.
Outro ponto negativo é a falta de previsibilidade: o valor final em reais só é confirmado no fechamento da fatura, o que dificulta o controle do orçamento durante a viagem. Apesar dessas desvantagens, o cartão de crédito ainda oferece benefícios como milhas, cashback, acesso a salas VIP e seguros de viagem, o que pode compensar para quem viaja com frequência e sabe aproveitar esses mimos extras.
Cartão de débito internacional
Nos cartões de débito internacionais vinculados a contas globais, o principal atrativo está no IOF reduzido: para carregar e usar esses cartões, a alíquota é de apenas 1,1%, significativamente menor do que os 3,38% cobrados nos cartões de crédito tradicionais. Além disso, o spread costuma ser bem menor, variando entre 0,6% e 2%.
Outro diferencial importante é que o câmbio é garantido no momento da conversão dos reais para a moeda estrangeira, permitindo ao viajante saber exatamente quanto está gastando, sem surpresas com variações cambiais posteriores. O controle dos gastos é facilitado por aplicativos, que permitem acompanhar em tempo real todas as movimentações.
Veja um exemplo prático: suponha que você queira carregar US$ 100 em seu cartão global, com o dólar comercial cotado a R$ 5,76. O valor inicial seria R$ 576,00. Aplicando um spread de 1%, o valor sobe para R$ 581,76. Sobre esse montante, incide o IOF de 1,1%, resultando em um custo final de R$ 588,18.
Ou seja, a mesma compra que no cartão de crédito poderia ultrapassar R$ 625, sai por cerca de R$ 588 no cartão global — uma diferença que, ao longo da viagem, pode representar uma economia significativa.
Atenção: o saldo das contas globais precisa ser carregado antecipadamente, exigindo planejamento para estimar os valores que serão realmente utilizados durante a viagem. Caso reste dinheiro ao final, a reconversão do saldo para reais implicará nova incidência de IOF, o que pode reduzir a economia obtida inicialmente. Outra desvantagem é a ausência de benefícios como milhas e seguros, mas, para quem prioriza economia e controle, as contas globais são uma opção.
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Cartão pré-pago internacional
O cartão pré-pago internacional funciona de maneira semelhante ao cartão de débito global, mas geralmente é emitido por casas de câmbio ou bancos tradicionais. Ele permite carregar o valor em dólar, euro ou outras moedas antes da viagem, evitando a variação cambial e oferecendo maior segurança em relação ao dinheiro em espécie.
O IOF para carregamento desses cartões também é de 1,1%, e o spread pode variar conforme a instituição. A principal limitação é a necessidade de carregar o cartão com antecedência e a possibilidade de tarifas de manutenção ou saque, além da ausência de benefícios adicionais. Mesmo assim, é uma alternativa segura e prática para quem não deseja carregar grandes quantias em espécie.
Dinheiro em espécie
Embora seja universalmente aceito, é uma opção arriscada. Além do risco de perda ou roubo, a compra de moeda estrangeira em casas de câmbio costuma ter um spread elevado, variando entre 5% e 7%, além do IOF de 1,1%. Mesmo assim, ainda é recomendado levar uma pequena quantia para emergências ou para locais que não aceitam meios eletrônicos, como destinos remotos ou pequenos comércios.
O que fazer?
À medida que os meios de pagamento internacionais evoluem rapidamente e o ambiente regulatório permanece instável, a diversificação das formas de pagamento é a principal estratégia para o viajante brasileiro que busca segurança, economia e praticidade.
Veja como montar uma estratégia eficiente:
- Priorize meios digitais para o dia a dia: As contas globais despontam como as opções mais econômicas para compras diárias no exterior, graças ao IOF reduzido, spreads menores e à transparência no câmbio.
- Use o cartão de crédito com cautela: Reserve o cartão de crédito internacional para emergências ou para aproveitar benefícios, como milhas, seguros e acesso a salas VIP. Lembre-se de que ele segue sendo a alternativa mais cara, especialmente por conta do IOF mais alto e do spread bancário.
- Leve dinheiro em espécie apenas para necessidades específicas: Apesar do risco de perda ou roubo e do spread elevado nas casas de câmbio, ainda vale portar uma pequena quantia em espécie para locais que não aceitam meios eletrônicos ou para situações de emergência.
- Acompanhe câmbio e spreads: Antes de carregar cartões ou comprar moeda estrangeira, monitore as taxas de câmbio e os spreads praticados por bancos, fintechs e casas de câmbio. Essa atenção pode resultar em uma economia significativa ao longo da viagem.
- Adapte a estratégia ao seu perfil e destino: O melhor meio de pagamento depende do roteiro, do perfil do viajante e dos objetivos da viagem. Em locais menos conectados, aumente a proporção de dinheiro em espécie.
Agradecimentos: Alex Hoffmann, CEO da PagBrasil; e Welinton Santos, economista e conselheiro do Corecon-SP