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Finanças

LCI e LCA são os melhores investimentos até o fim de 2022? Especialistas opinam

Rentabilidade maior que a poupança e isenção de IR podem ser atrativos, mas é preciso atenção ao prazo de resgate.

Em um contexto de juros e inflação elevados como nesta reta final de 2022, os investidores geralmente migram de opções mais arriscadas como a bolsa de valores para investimentos em renda fixa. Nesse cenário, as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) costumam estar entre os mais atrativos para o investidor pela rentabilidade maior e isenção de Imposto de Renda (IR). Mas especialistas apontam que é preciso ter alguns cuidados antes de investir, como observar o prazo de resgate.

No primeiro semestre de 2022, os produtos de renda fixa captaram R$ 202 bilhões, crescimento de 25% em comparação com o mesmo período de 2021, segundo relatório da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). O avanço se deu em um cenário de juros elevados – a taxa Selic passou de 2% ao ano em agosto de 2020 para 13,75% em agosto deste ano.

Especialistas ouvidos pelo InvestNews afirmam que LCI e LCA se destacaram nesse período entre os investidores pessoa física por proporcionarem retornos superiores à poupança e por serem isentas de IR. Em contrapartida, eles ressaltam que o investidor deve observar o prazo de vencimento, o valor mínimo, o nível de liquidez, a solidez do banco emissor e, principalmente, respeitar o momento, a condição e as características próprias como investidor para aplicação.

“Cada carteira de investimento deve respeitar o momento e a condição. Deve ser específica para você. Não existe e não pode existir uma carteira genérica para todo mundo. Cada um tem um momento, uma percepção e uma aceitação ao risco diferente. Portanto, sua carteira de investimento precisa ser individualizada”

Guilherme Ammirabile, assessor de investimentos na iHUB Investimentos

Além do perfil do investidor, o professor Pierre Oberson de Souza, da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que o ponto central na escolha de aplicar em LCI e LCA recai sobre o equilíbrio entre optar por uma rentabilidade maior e o quanto é mais simples e fácil resgatar os valores investidos (liquidez), além da solidez bancária. 

“Numa letra de crédito, seja LCI ou LCA, não há muita liquidez, pois estará preso no título pelo prazo que ele tenha. Há títulos mais curtos e outros mais longos, mas não há, em geral, a liquidez para sair quando quiser, porque o mercado secundário é pouco líquido para muitos desses títulos. Na poupança, por exemplo, dá para sacar quando quiser, pois há liquidez imediata, mas o retorno é menor.”

Pierre Oberson de Souza, professor da FGV

Não existe o melhor investimento do momento

Afinal, LCI e LCA são os melhores investimentos do momento? Os especialistas afirmam que a resposta não é simples. “Vai depender muito do perfil do investidor e do momento e objetivos que ele tem. Não existe o melhor investimento do momento, existe o melhor investimento para você, para o seu momento”, afirma Ammirabile.

Uma das dúvidas pode ser entre LCI, LCA ou CDB, por exemplo. Entre os produtos de renda fixa, as letras têm rentabilidade melhor que a poupança, mas podem ter retorno inferior a um Certificados de Depósito Bancário (CDB), por exemplo, em que incide IR pela tabela regressiva. Quanto menor o tempo, maior a alíquota a ser paga pelo investidor: 22,5% (até seis meses), 20% (de seis meses a um ano), 17,5% (de um ano a dois anos) e de 15% (acima de dois anos). 

“Se a gente adicionasse Imposto de Renda para comparar com um título que não seja isento, pode ser que as LCIs/LCAs não sejam tão atrativas quanto um CDB que tem incidência de imposto”, diz o assessor de investimentos na iHUB Investimentos.

Portanto, para um CDB ser vantajoso, ele deve pagar mais que uma LCI ou LCA. Se uma LCI remunerar 5% ao ano, o CDB deve pagar ao investidor uma taxa de 6,45% para uma tabela regressiva de seis meses para valer a pena investir.

Ambos os especialistas concordam que investir em prefixado de LCI ou LCA é uma boa oportunidade de remuneração com Selic próxima ao patamar máximo (14%). Dessa forma, o investidor pode garantir uma taxa de juros alta para os próximos anos. 

“Caso realmente a gente consiga segurar a inflação, que parece que vai acontecer, [a Selic] não vai voltar aos 2% ou 3%. Ela deve ficar na faixa de 10% a 8%”, pondera Souza. 

Nesse cenário, o professor da FGV explica que ao investir em LCI ou LCA de dois anos, por exemplo, com Selic em 10%, o investidor terá retorno razoável. “Faz sentido ter uma rentabilidade pré-fixada, porque estarei exposto a uma queda da Selic que deve acontecer ao longo do ano que vem e em 2024.” 

Ammirabile tem a mesma avaliação de investimento para pessoa física nos próximos meses. “Alguns analistas acreditam na Selic em 14% até final do ano. Mas vai depender se daqui a dois meses a inflação brasileira não volte a pressionar. Ou se haverá instabilidade no cenário internacional, como aumento da tensão entre China e Taiwan, a intensificação da guerra da Rússia com a Ucrânia, além do impacto do Fed.”

“Com inflação e um cenário de taxa de juros em alta, o investidor tende a sair da bolsa de valores, tirar o dinheiro do risco, para capturar essas taxas altas no mercado de renda fixa. Não tem porque ficar em um cenário de renda variável incerto. Com eleições próximas, ele sai do risco e garante uma taxa alta no mercado de renda fixa e acaba dormindo tranquilo. Isso levou muitos investidores a migrar da renda variável para fixa no último ano. Atratividade de taxa”, complementa.

Como investir em LCI e LCA?

Investimentos em LCA devem ser destinados ao setor do agronegócio. (Foto: Pixabay)
Investimentos em LCA devem ser destinados ao setor do agronegócio. (Foto: Pixabay)

LCIs e LCAs são títulos de renda fixa emitidos por bancos para alavancar recursos e financiar empreendimentos e atividades do setor imobiliário e do agronegócio, respectivamente, que contam com alienação fiduciária ou hipotecas como garantias. 

Ao adquirir as letras, o investidor pessoa física empresta dinheiro a instituição bancária e, em troca, recebe a quantia investida com juros. A rentabilidade no vencimento do título pode ser pré-fixada, pós-fixada ou híbrida. 

Para isso, o investidor deve estar com CPF regularizado e ter conta ativa em uma corretora ou banco de investimentos regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Com foco a longo prazo, as LCIs e as LCAs são recomendadas para investidores com perfil conservador, moderado ou para quem deseja diversificar sua carteira de investimentos. Antes de alocar os recursos, o investidor deve verificar prazo de vencimento, valor mínimo, nível de liquidez e, se houver, período de carência.

Tanto LCI quanto LCA têm cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), uma espécie de seguro caso o banco quebre, limitado a R$ 250 mil por CPF por instituição. 

Guilherme Ammirabile, assessor de investimentos na iHUB Investimentos, ressalta ser importante o investidor “avaliar o banco emissor do título para determinar o Índice de Basileia [IB] e saber a saúde financeira da instituição”. “Se o cliente tem mais de R$ 250 mil aplicado, é importante conferir o índice de solvência do banco emissor para saber a condição financeira. Se o banco quebrar, o FGC vai cobrir determinado valor.”

O mais recente Relatório de Estabilidade Financeira (REF), divulgado em agosto deste ano pelo Banco Central, aponta índice do Sistema Financeiro Nacional (SFN) de 16,5% em dezembro de 2021, ante uma taxa de 16,9% em junho do mesmo ano. Atualmente, o mínimo é de 11% e o máximo de 50%, o que significa que, para cada R$ 100 que um banco empresta, ele precisa ter R$ 11. 

O investidor pode consultar no site do BC ou das próprias instituições financeiras o IB. Se o perfil do investidor for mais conservador, deve optar por bancos com IB acima de 11%. Caso queira arriscar, há instituições financeiras com índices inferiores, isto é, mais propensas a dar calote –lembrando que o investidor estará protegido pelo FGC até R$ 250 mil. 

Quanto rendem LCI e LCA?

Imóveis (Foto: Pixabay)
Imóveis (Foto: Pixabay)

A taxa de rentabilidade e de vencimento são definidas no momento da compra dos títulos. O retorno financeiro é atrelado a escolha do investidor a uma taxa, que pode ser prefixada, pós-fixada (com um percentual do Certificado de Depósito Interbancário, o CDI, por exemplo) ou híbrida, quando há correção pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais uma taxa prefixada. 

Na opção prefixada, no ato da compra o investidor sabe qual a taxa aplicada e o ganho no vencimento do título, sem se preocupar com as oscilações na economia. É recomendada para o investidor que aposta na queda da taxa de juros no futuro.

Na taxa pós-fixada, a rentabilidade do investidor é determinada no momento de resgate, e não no ato da compra. A remuneração é atrelada a um indexador, que pode ser CDI e/ou o IPCA.

Portanto, a rentabilidade é proporcional ao valor e ao tempo do investimento (quanto maior for a aplicação e o tempo, maior será a remuneração), além da credibilidade do banco emissor dos produtos. 

“LCI e LCA acabam tendo uma rentabilidade um pouco maior, por ter uma liquidez menor. Seria com um prêmio de liquidez. Como não tem liquidez como outros títulos, compenso com um retorno um pouco maior, o que deixa mais atrativo”, afirma o professor Pierre Oberson de Souza, da FGV.

Como escolher o melhor LCI e LCA para investir?

Os bancos e corretores de investimentos são os responsáveis por definir as regras do título, como valor mínimo de aplicação, a data de vencimento e a taxa de rendimento. “Quando você contrata LCI e LCA, o investidor terá a característica do produto. Pode ser que tenha liquidez diária ou a liquidez pode ser só no vencimento. Provavelmente, as LCIs e LCAs com liquidez diária terá taxa muito menor que uma LCI/LCA com uma possibilidade de resgate só no vencimento”, explica Guilherme Ammirabile, assessor de investimentos na iHUB Investimentos.

A diferença entre os produtos está no foco de investimento, isto é, na destinação dos valores captados. Ambas são isentos do Imposto de Renda, mas na LCA não existe a cobrança de imposto sobre operações financeiras (IOF) para resgates em menos de 30 dias. 

A principal vantagem em investir em LCI e LCA está na isenção de IR para pessoa física, além da garantia do FGC de até R$ 250 mil por CPF, CNPJ, instituição financeira ou conglomerado financeiro limitado a um milhão de reais a cada período de quatro anos, caso a instituição não pague o rendimento prometido. 

Para o professor da FGV, não faz diferença se o investidor aplica o dinheiro em uma LCI ou LCA. “O que importa é saber se a instituição financeira é solida ou não. Se o banco não tiver solvência, não vou receber o que estiver acima do FGC, se tiver assegurado. Se ela emitir uma LCI/LCA não estou dependendo se aquele crédito foi efetivamente pago ou não, isto é, se há inadimplência daquele setor. Não estou exposto àquele risco. Para o investidor, não faz muita diferença entre um ou outro, o que precisa olhar é rendimento, prazo e a forma que será remunerado.”

Como saber se vale a pena investir em LCI e LCA?

Especialistas afirmam que o investidor deve respeitar prazo de resgate para que a rentabilidade prometida seja atingida. Como as letras são emitidas por bancos, o investidor precisa ficar atento ao grau de risco de liquidez da instituição financeira para evitar perdas na hora do resgate do investimento. No caso de LCIs e LCAs, o investimento deve estar atento também à liquidez no vencimento.  

“Tenho que saber que meu dinheiro vai ficar preso por um tempo. Para quem precisa ter um dinheiro de emergência, talvez não faça sentido investir em LCI/LCA. Não seria o melhor investimento.” 

Pierre Oberson de Souza, professor da FGV

Para simular seu investimento, o InvestNews disponibiliza ferramenta em seu site em que é possível comparar o retorno da poupança com outras aplicações de renda fixa, como LCI, LCA, CDB, LC, Tesouro IPCA+, Tesouro Selic e Tesouro prefixado. Basta clicar em “Simuladores” na home e, na sequência, em “Mais Simuladores” e “Quanto rende mais?”.  

Posso resgatar LCI e LCA antes do prazo de vencimento?

As letras têm um prazo mínimo de carência para resgate. Os especialistas afirmam que o ideal é esperar a data de conclusão da aplicação para obter o rendimento esperado e não ser punido com spread – diferença entre a taxa de captação e a repassada ao cliente. Se a liquidez de uma LCI ou LCA não for diária (rentabilidade menor), o investidor pode ter uma remuneração inferior à aplicação inicial. 

Contudo, se o investidor precisar do dinheiro, ele pode negociar a letra no mercado secundário na bolsa de valores. Nesse cenário, os investidores negociam diretamente entre si, em vez de negociar com a empresa, e ficam mais suscetíveis a flutuações diárias da economia. Nem todas as instituições financeiras permitem essa operação. 

O prazo mínimo de uma LCI varia conforme o indexador. Se o título for atualizado por índice de preços, será de 36 meses (mensalmente) ou 12 meses (anualmente). Caso contrário, o prazo será de 90 dias e é contado a partir da aquisição do título da instituição emissora por um terceiro, pessoa física ou jurídica. 

A regra da bolsa de valores ressalta que a instituição emissora não poderá recomprar ou resgatar a LCI nesses períodos de contratação. Além disso, as operações de crédito imobiliários vinculadas à LCI devem ser utilizadas como lastro pelo seu valor líquido. 

Para uma LCA, o prazo mínimo também varia conforme o indexador que possui. Para a Taxa DI (13,65%, em 15 de agosto de 2022) é de 90 dias. A B3 afirma que o risco primário da letra é da instituição financeira e, em caso de inadimplência do banco, o lastro está penhorado por lei ao investidor final que pode requisitar sua propriedade ao juiz quando o banco não pagar o ativo.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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