Oito dos 11 clubes de futebol de capital aberto na bolsa fecharam 2023 com ações no vermelho. Juntos, os papéis dos times tiveram desvalorização média de 11,27%, performance inferior a 2022, quando encerraram o ano em alta de 19,22%. Os dados são de um levantamento da Investing.com enviado ao InvestNews.
O pior desempenho ficou com o clube português Sporting de Braga (SCLB), que derreteu 37% na bolsa. Em 2021 e 2022, o time havia disparado 45,5% e 150%, respectivamente. A segunda maior queda foi das ações do francês Lyon (-33%), seguida do italiano Lazio e do português Benfica, que empataram na terceira posição, caindo 26%.
No acumulado de 2024 até o fechamento de 8 de fevereiro, os papéis dos clubes esboçavam alguma reação, performando uma queda média de 2,06%, com apenas três deles em baixa: Sporting, Lazio e Juventus.
André Vasconcellos, vice-presidente do conselho do Ibri (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores), afirma que esse comportamento acionário está sujeito a flutuações significativas de preço.
Segundo ele, os preços oscilam com base em resultados esportivos dos respectivos clubes, transferências de jogadores, mudanças na gestão, escalação de jogadores em seleções nacionais, incerteza em torno de receitas de transmissão e bilheteria, risco de lesões em atletas de alto rendimento e forte exposição midiática, entre outros fatores.
O economista e investidor Bruno Corano afirma que a indústria do futebol, assim como outras indústrias, sofreu com a pandemia, e os reflexos ainda são sentidos. “Embora em alguns aspectos eles tenham prosperado, os estádios terem ficado vazios, a falta de possibilidade de interação dos próprios jogadores em programas na imprensa, entrevistas mais intimistas, isso tudo diminuiu muito a entrega, as ativações e a viabilidade do esporte como um todo. Até mesmo restringiu o número de anunciantes”, diz.
Segundo ele, o fim da pandemia foi a sinalização de que o faturamento dos clubes iria voltar a prosperar. “As pessoas voltaram para os estádios, mais ativação mais experiência com o público. O jogo, muitas vezes, começa antes do estádio”, diz ele, acrescentando que “ele se inicia em ações promocionais; o jogador que estará em um clássico, enfrentando um adversário, vai a programas de TV. É uma combinação de entregas. E isso faz com que então o clube, com maior exposição gere mais receita, seja por patrocínio, ou tíquetes e outros direitos”.
Fan tokens no azul
Quando se observa o desempenho dos fan tokens de clubes em 2023, 10 dos 21 existentes acumularam retorno negativo, segundo os dados do Investing. Em média, no entanto, eles valorizaram 11,44% no ano passado. A maior queda foi do PSG (-42,32%), enquanto a maior apreciação foi do Aston Villa, que disparou 173,47% no período.
Fans tokens são certificados digitais negociados em plataformas como exchanges e bolsas de criptomoedas. Estes ativos costumam oferecer um pacote de benefícios aos seus detentores.
Em 2024, os tokens dos times acumulavam, na média, alta de 2,11% até o fechamento de 8 de fevereiro, de acordo com o levantamento. Até então, os ativos mostram, juntos, uma recuperação em relação a 2022, quando desvalorizaram 24,16%.
“Quando observarmos uma amplitude importante entre os retornos máximo (Santos acumulando ganhos de 43,26%) e mínimo (Aston Villa acumulando perdas de 24,94%), especialmente em 2024, associado a uma ausência de correlações geográficas ou de governança entre os clubes que ofertam tais ativos, podemos reforçar a tese de que os tokens do setor tem atraído investidores com natureza especulativa, inclusive em anos de competições mundiais como ‘Copa do Mundo'”, conforme também se observou em 2022 durante o evento no Catar”.
André Vasconcellos, vice-presidente do conselho do Ibri
Segundo Vasconcellos, embora a emissão de tokens de clubes de futebol seja uma prática que muitas vezes está associada a clubes que adotaram uma estrutura de empresa ou “clube-empresa”, na qual o clube é administrado de forma mais semelhante a uma empresa tradicional, isso não é uma regra absoluta. “O importante é que a emissão de tokens seja feita de forma transparente e em conformidade com as regulamentações aplicáveis”, conclui.
Os fan tokens vieram como mais um complemento – como se uma pessoa tivesse um título de um clube de campo, e passa a fazer parte de uma comunidade, com alguns alguns benefícios de um programa de fidelidade, observa Corano.
“Acho que os clubes ainda estão aprendendo a oferecer entretenimento e serviços especiais para quem ainda detém esses tokens e acho que tem muito ainda para acontecer. Mas acabam acompanhando a mesma dinâmica do setor. Se o clube está mais ativo, tem mais coisas acontecendo, gera mais ações e atrações e os tokens viabilizam esse acesso, passam a se valorizar”.
BRUNO CORANO, ECONOMISTA E INVESTIDOR.
SAFs
O Brasil ainda não possui times de futebol com capital aberto, mas os clubes já utilizam outros instrumentos financeiros para acessar o mercado de capitais, como por meio das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs). Em 2021, o então presidente da República, Jair Bolsonaro, sancionou a Lei nº 14.193/2021, que estabelece regras para que clubes sejam transformados em empresas, criando as SAFs.
Até então, os clubes de futebol eram associações civis sem fins lucrativos. A nova lei, no entanto, não obriga que os times se transformem em empresas.
Veja também
- Nas áreas VIPs do GP Brasil de F1, Mubadala traz altos executivos para fecharem negócios
- Vini Jr. S/A já é uma empresa com CEO, CFO e faturamento anual de R$ 300 milhões
- ‘Onde vai passar o jogo?’: a disputa entre Faria Lima, Globo e YouTube pelo futebol brasileiro
- No país do futebol, sonho se torna realidade para os fãs da NFL
- NFL chega ao Brasil com jogo na arena do Corinthians e show de Anitta