Após a disparada no mercado de cannabis há menos de 30 dias, os ativos ligados ao setor já perderam parte dos seus ganhos impulsionados pelo decreto de Joe Biden. O presidente dos EUA anunciou que pretende descriminalizar o uso recreativo, fazer um ajuste na configuração de risco da erva assim como o perdão de americanos que foram condenados por posse ou uso da planta.
Segundo Biden, ninguém deveria estar preso por usar ou portar maconha, já que a medida arruina muitas vidas. O presidente ressaltou que estas pessoas que sofreram processos criminais por posse de maconha acabaram enfrentando barreiras desnecessárias, como, desemprego, falta de moradia e oportunidades de estudo. Outro ponto levantado é que, mesmo que pessoas brancas, pretas e pardas tenham usado taxas semelhantes de cannabis, pessoas negras e pardas é que foram presas, processadas e condenadas em taxas desproporcionais.
Hoje, a legislação americana classifica a cannabis no nível 1, que é o mais alto, ficando lado a lado de drogas como LSD e heroína. A maconha é considerada mais perigosa que fentanil e metanfetamina – drogas que lideram a epidemia de overdose nos EUA. Ao menos 500 mil americanos morreram em duas décadas por causa disso.
Caso a cannabis mude para o nível 3, por exemplo, isso pode vir a reduzir algumas amarras jurídicas que algumas instituições ligadas ao setor têm já que empresas ligadas diretamente a cannabis não têm acesso total a produtos financeiros ou empréstimos. E isso se deve ao temor dos grandes bancos de infringir leis federais pela ilegalidade da erva em muitos estados. O que acarreta em falta de capital para as companhias do setor investirem, além do fato de terem de lidar com dinheiro vivo na maioria das vezes.
As bolsas de valores dos EUA, como NYSE e Nasdaq, também devem ficar mais acessíveis, uma vez que ambas não fazem a listagem da maioria das empresas ligadas ao setor já que cada estado tem uma legislação própria. Atualmente, 19 estados americanos permitem o uso medicinal e adulto; 16 autorizam apenas o uso medicinal; e outros 10 até permitem o uso de medicamentos, mas com baixíssima dosagem de THC, que é a principal substância psicoativa da planta. Já em 3 estados, qualquer uso de cannabis é proibido.
No entanto, o fato de grandes companhias não estarem listadas nas maiores bolsas do mundo acaba afetando seu valor de mercado. Muitas recorrem para o mercado canadense. Mas sendo este um mercado secundário, há menos acesso ao capital de investidores institucionais.
Como investir via B3?
Hoje, os investidores pessoa física podem investir em dois fundos de cannabis através da bolsa brasileira (B3). Um é o fundo da gestora Vítreo chamado Canabidiol Ativo. Sua gestão é ativa, investe 20% do capital em um fundo internacional de ETFs e ações ligadas ao setor e 80% em índices de cannabis. Seu aporte inicial é de mil reais, a taxa de administração é de 0,72% ao ano, não tem taxa de performance e seu resgate é d+12. A classificação pela Anbima é de um fundo multimercado livre e a tributação é de 22,5% a 15%. Quanto mais tempo ficar no fundo, menor é o imposto pago no resgate. Tem come-cotas e IOF também, como os demais fundos do tipo.
A Vítreo também oferece outro fundo mas voltado aos investidores qualificados – Vítreo Canabidiol. Já a XP oferece ao investidor de varejo o Trend Cannabis. Ele é mais acessível, com cem reais é possível aportar no fundo, mas tem gestão passiva. O ativo replica o fundo de índice ETFMG que conta com cerca de 30 ações de empresas que atuam direta ou indiretamente com cannabis Sua taxa de administração é de 0,50% ao ano, não tem taxa de performance, o resgate é em D+4 e sua classificação da CVM é multimercado.
O fundo conta com proteção cambial, até por isso se autoclassifica como fundo internacional de ações hedgeado.
Desde dezembro de 2019, o fundo da XP teve 24 meses negativos contra 11 meses positivos. Seu maior retorno mensal foi de 47,4%. Já o menor retorno foi de menos -21,9%. Por onze meses ele teve retorno acima do CDI, contra 24 meses abaixo do índice. Comparando com o Ibovespa, por nove meses seu desempenho foi acima do índice da B3 contra 26 meses abaixo. E isso aponta para a volatilidade desse tipo de investimento, já que não é um fato isolado do Trend Cannabis, já que um cenário parecido também foi visto no fundo da Vítreo.
Para o analista de mercados internacionais e alternativos Enzo Pacheco, da Empiricus, que faz a gestão do fundo da Vítreo, o diferencial desse produto é basicamente a composição da carteira. Além de toda a análise feita eles optaram por ter mais empresas americanas do que canadenses. E isso faz toda a diferença na visão do analista, já que estas recebem investimentos maiores.
Apesar de o Canadá ter sido o primeiro país a legalizar a erva entre o grupo do G7 (que são os países mais industrializados do mundo), seu mercado é menor do que o americano. Estimativas apontam que, em uma década, o mercado de cannabis nos EUA podem chegar aos seis bilhões de dólares. No mundo, a estimativa é que chegue aos 105 bilhões de dólares até 2026 – valor do PIB do Kwait, ou do Equador.
Segundo o gestor, as empresas americanas geram mais caixa, dão mais receitas, maiores lucros e negociam a múltiplos mais baratos que as empresas canadenses por justamente terem acesso as bolsas canadenses e não as americanas (dado a regulação).
“Gosto da tese, estou mais disposto a entrar agora do que sair, mas o cenário macro é que está pegando. Ainda assim, quando comparamos Canadá e EUA, as empresas listadas no primeiro país sofrem mais. O mercado está fazendo essa distinção”.
Enzo Pacheco
Segundo Pacheco, assim como as ações de tecnologia e de empresas de crescimento vem sofrendo com a alta dos juros nos EUA, os fundos investimentos alternativos também estão na mesma toada. O investidor está preferindo o refúgio dos títulos do governo americano que seguem com uma remuneração atrativa.
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