“Sell in May and go away”. O ditado, um dos mais famosos do mercado de ações, pode ser traduzido por algo como “venda em maio e vá embora”. Tratada como superstição entre a maioria dos analistas, a “maldição” do mês para a bolsa ainda preocupa alguns investidores, que preferem adotar uma cautela maior no período.
Mas será que maio é sempre negativo para o mercado? Dados do retorno do Ibovespa em meses de maio mostram que, em mais de 20 anos, essa é sim uma tendência, mas não uma regra. De 1995 a 2020, o Ibovespa teve 17 retornos positivos e 9 negativos em meses de maio, de acordo com dados da provedora de informações financeiras Economatica. Nove dos fechamentos de maio positivos estão concentrados a partir de 2010.
Para os índices de ações dos Estados Unidos, a predominância também tem sido negativa em maio, tradicionalmente. Segundo levantamento divulgado em relatório por Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, os dados mostram que, entre 1950 e 2013, o desempenho dos principais índices americanos foi pior nesse período do que nos meses entre novembro e abril.
Especialistas do mercado apontam que a origem da “tradição” negativa em maio seria o clima dos Estados Unidos. A explicação é que, no início do verão, muitos investidores se desfazem de suas posições antes de sair de férias e ficar por um período sem acompanhar o mercado.
Sobre a teoria das “férias do mercado”, José Falcão, analista da Easynvest, aponta que elas não passam de “suposições”, afirmando ainda que a teoria “virou lenda”.
“O fato é que existe um histórico que mostra ser um mês de correções. Falam também que é um período de recesso, férias nos países do Hemisfério Norte e que por conta disso há zeragens de posições e queda de volume. Como se os grandes players do mercado tirassem férias e, por conta disso, gera um fluxo de venda e zeragem de posições de risco”, explica Falcão.
O analista lembra outro motivo que pode ser apontado para a tendência negativa de maio: o tradicional otimismo do mercado no início de cada ano. “No início de ano, as projeções são todas para cima, no clima de rali de final de ano. Todo mundo acha que o ano seguinte vai ser melhor. Quando chega em maio e o semestre está perto do fim, as economias caem na real e constatam que muitas previsões foram frustradas, e isso gera mau humor no mercado”, diz Falcão.
“Vamos ver o exemplo do Brasil: o país não fez nada de reforma ainda no ano, inflação não acomodou e PIB já foi revisado para baixo.”
Maio de 2021 será de alta ou baixa?
A bolsa começou o mês com volatilidade, em dia de sobe e desce já no primeiro pregão. No radar do mercado estão fatores como o avanço das reformas, com expectativa de avanço da tributária já nesta semana, o avanço da pandemia da covid-19 e o cenário político.
No caso do mercado brasileiro em 2021, Bevilacqua acredita que o ditado “venda em maio e vá embora” deveria se tornar “compre em maio e lucre”. Em relatório, ele aponta duas justificativas para o otimismo no mês: fluxo de recursos estrangeiros, justificado pelas condições favoráveis do mercado internacional, e as indicações do leilão da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) no último dia de abril.
“O segundo argumento é mais uma prova de que boas perspectivas de retorno sempre encontram interessados. O estado do Rio de Janeiro não é o melhor exemplo do país na gestão da coisa pública. Mesmo assim, há investidores interessados em seus ativos. Na sexta-feira (30), foram leiloadas quatro áreas de concessão da Cedae”, aponta.
“Apesar da volatilidade, ainda há muito interesse por ativos brasileiros. E essa demanda subjacente permite supor que, apesar dos trancos e solavancos, ainda há boas oportunidades no mercado acionário brasileiro”, acredita Bevilacqua.
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