Assim como a temperatura do globo tem subido ano após ano, porque os fatores que provocaram esse aquecimento se mantêm ativos, a renda fixa no Brasil pode viver em 2025 um período ainda mais quente comparado a 2024. Os fatores estruturais que levaram os juros locais rumo ao maior patamar em 10 anos continuam em cena.
A inflação segue pressionada, o dólar se mantém acima de R$ 6 e o Banco Central já sinalizou a intenção de mover a Selic pelo menos até 14,25% ainda no primeiro trimestre. Além disso, no exterior, as políticas esperadas para o novo governo de Donald Trump, no EUA, podem manter as taxas altas por mais tempo no mercado americano. Se confirmado, esse quadro pode fortalecer o dólar globalmente.
O cenário está montado para 2025 superar o ano passado em termos de demanda para a renda fixa. Na série Investir para Viver, a mesa redonda com os CEOs da Sparta, Ulisses Nehmi, e da Azimut Brasil Wealth Management, Wilson Barcellos, discutiu o cenário e as oportunidades desse mercado neste ano.
A conclusão: vai ser mais importante do que nunca investir em papéis do Tesouro Direto e de crédito privado. Isso para aproveitar os retornos elevados, que vão permanecer em 2025 e, possivelmente, até 2026. O próprio custo de oportunidade, ou seja, o rendimento menos arriscado da renda fixa, definido pelo CDI no Brasil, tende a chegar a mais de 15% ao ano.
Isso significa que o juro real, quando se desconta a inflação, pode alcançar 10% ao ano em 2025. Trata-se de o dobro do IPCA esperado pelo mercado neste ano, conforme a pesquisa Focus do Banco Central, que traz a visão de profissionais das principais instituições financeiras sobre referenciais macroeconômicos.
Veja os principais pontos do debate
Selic alta torna a renda fixa indispensável
- Com a taxa Selic em elevação, o mercado de renda fixa oferece retornos reais tão altos como não se vê há muitos anos. Com isso, torna-se a escolha mais segura e rentável no curto prazo.
- Títulos pós-fixados, como Tesouro Selic e CDBs indexados ao CDI, são indicados para investidores mais conservadores que buscam estabilidade
O papel dos títulos atrelados à inflação
- Para objetivos de longo prazo, títulos indexados ao IPCA são destaque, garantindo ganhos acima da inflação.
- Segundo Ulisses Nehmi, esses ativos oferecem proteção em cenários de alta inflacionária e estão em níveis historicamente atrativos, sendo uma boa oportunidade para travar rendimentos elevados.
- Na plataforma do Tesouro Direto, que possibilita a negociação de títulos públicos pelas pessoas físicas, o Tesouro IPCA 2029, com vencimento em maio de 2029, tem um retorno de inflação mais um juro real de 7,74% ao ano. Você consegue ainda travar ganhos semelhantes mesmo em um papel de longo prazo. O Tesouro IPCA 2035, com vencimento em maio de 2035, está pagando 7,58% anuais.
Crédito privado e debêntures vão trazer ganho extra
- Empresas emitem dívidas, como debêntures e oferecem retornos superiores aos títulos públicos. No entanto, no mundo dos investimentos é sempre bom lembrar que uma taxa mais alta implica em maior risco.
- Especialistas recomendam diversificar o investimento na renda fixa, com parte dos recursos nos títulos públicos e outro percentual em crédito privado. Prefira as companhias classificadas como high grade, ou seja, de melhor perfil de crédito. Gestores experientes e consultores podem ajudar nessa tarefa e evitar concentrações em ativos de alto risco.
- Investidores devem evitar aplicar diretamente em títulos de empresas sem avaliar a qualidade do emissor. Para segurança, a recomendação é investir por meio de fundos de crédito privado, que são geridos por especialistas.
Importância da diversificação e do perfil do investidor
- Wilson Barcellos, da Azimut, destacou a necessidade de organizar investimentos em “caixinhas” conforme prazos e tolerância a riscos. Ativos de curto prazo devem ser atrelados ao CDI, enquanto investimentos de longo prazo podem incluir ativos mais voláteis, como Tesouro IPCA e Tesouro Prefixado com vencimentos mais longos.
- A diversificação entre pós-fixados, prefixados e títulos atrelados à inflação é essencial para equilibrar ganhos e riscos.
De olho nas perspectivas econômicas
- Projeções indicam que a Selic pode atingir 15% ou até 16% ao ano, dependendo das decisões do Banco Central.
- A inflação, atualmente prevista para entre 5% e 6% no fim de 2025, é uma preocupação. Os investidores devem monitorar a situação fiscal do país, que impacta diretamente os juros de longo prazo.
Resumo da ópera
- Os especialistas enfatizaram a importância de se conhecer o perfil de risco, evitar decisões emocionais e manter o foco em estratégias de longo prazo.
- A renda fixa, com sua atratividade atual, permite ganhos significativos sem necessidade de correr grandes riscos. Mas exige planejamento e cautela.
- O cenário de 2025 pode ser desafiador, mas oferece oportunidades únicas para quem souber aproveitar o momento com uma estratégia bem definida e diversificada.
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