Os ganhos com operações de carry trade (quando se obtém lucro com a diferença de juros entre países) voltaram com tudo nos mercados de moedas das maiores economias desenvolvidas, graças à alta dos preços das commodities, à baixa volatilidade e ao número crescente de bancos centrais que estão apertando a política monetária.
A combinação proporcionou os maiores lucros em cinco anos nessas negociações, realizadas com a tomada de empréstimos em nações onde os juros ainda estão baixos e o investimento dos recursos em locais onde os rendimentos são maiores.
O índice Bloomberg Cumulative FX Carry Trade para as moedas do G-10 — que acompanha o retorno diário rebalanceado gerado com a tomada de empréstimos nas três moedas de menor rendimento e investimento nas três de maior rendimento — deu retorno de 3,6% nos últimos dois meses ou mais de 8% desde o começo do ano, a caminho do maior avanço anual desde 2016.
“As duas estratégias que funcionaram melhor recentemente foram ideias fundamentadas em carry trade ou termos de troca”, disse Shaun Osborne, estrategista-chefe de câmbio do Scotiabank. “O carry trade funciona em um ambiente benigno e de baixa volatilidade — foi o que tivemos com todos os estímulos dos bancos centrais em vigor.”
Esses ganhos contrastam com as perdas generalizadas nos mercados de títulos soberanos ao redor do mundo. As cotações desses papéis caíram desde que os bancos centrais começaram a subir juros e retirar estímulos de suas economias. O Banco do Canadá se juntou a essa postura mais restritiva na quarta-feira quando decidiu cessar as compras de ativos. Entretanto, a alta da inflação reforçou apostas em um aumento de juros na Austrália.
Os movimentos têm sido descompassados. EUA, Japão e Banco Central Europeu ainda não agiram, mesmo com Brasil, Nova Zelândia e Rússia subindo os juros de referência. Paralelamente, a volatilidade das principais moedas diminuiu e o dólar australiano e a coroa norueguesa se valorizaram com a alta de preços das commodities.
Até agora, os ganhos têm sido limitados aos mercados desenvolvidos, enquanto a volatilidade atrapalha os mercados emergentes.
Entre as moedas do Grupo dos 10, a coroa, o dólar da Nova Zelândia e a libra esterlina foram as de maior rendimento em um período de três meses, e o dólar canadense não ficou muito atrás.
Mercados emergentes
Os índices de carry trade em mercados emergentes apresentaram resultados mistos. Algumas moedas de alto rendimento, como o rublo, subiram em relação ao dólar, mas a lira turca e o real afundaram. Assim, o índice Bloomberg Cumulative FX Carry Trade para oito mercados emergentes sofreu leve queda este ano.
O estrategista Erik Nelson, da Wells Fargo Securities, acha que o retorno das operações de carry trade pode diminuir gradualmente diante do alívio nos preços das commodities e à medida que mais bancos centrais começam a normalizar a política monetária.
“Me pergunto se estamos chegando ao topo da onda favorável ao carry”, disse ele.