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Os prós e contras do IPO da Caixa Seguridade: qual o peso do risco político?

Apesar do potencial de crescimento e de uma base de clientes inexplorada, possível interferência estatal preocupa analistas.

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No final de abril, um novo player chega à B3 para integrar o segmento de seguros – um mercado de baixa penetração na economia brasileira e com forte potencial de crescimento. É a Caixa Seguridade, que estreia no dia 29 de abril na bolsa brasileira, com o ticker CXSE3.

A faixa indicativa de preço foi estabelecida entre R$ 9,33 e R$ 12,67, tendo como ponto médio R$ 11. O período de reservas termina na segunda-feira (26) e o preço final será fixado no dia seguinte (27 de abril). A empresa vai estrear na bolsa no dia 29 de abril.

Diferentemente de outras alternativas já vistas recentemente no mercado, a oferta pública inicial de ações (IPO) da Caixa Seguridade será 100% secundária, o que significa que o recurso levantado no seu IPO não deve ir para o caixa da companhia e, sim, para sua controladora, a Caixa Econômica Federal.

Este fato tem despertado preocupações entre os investidores, afinal, quem entra na oferta da Caixa Seguridade se tornará também sócio minoritário da Caixa Econômica Federal.

Outro fato que acende o alerta entre os investidores é que, por tratar-se de uma companhia estatal, com um controlador como a Caixa Econômica, a Caixa Seguridade também está exposta ao risco de interferência política.

Recentemente, outras companhias estatais negociadas na bolsa de valores sofreram volatilidade por esta interferência, entre elas Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobras.

Segundo Louise Barsi, sócia fundadora do “Ações Garantem o Futuro”, a destinação dos recursos da oferta precisa ser levada em conta na hora de o investidor decidir entrar ou não em um IPO.

Quando uma companhia faz uma oferta pública inicial de ações, afirma Louise, ela faz uma venda que nem sempre é adequada aos interesses do comprador. “Por que o investidor correria o risco de entrar em uma oferta se os recursos levantados não vão ajudar a empresa, nem ser usados para novos investimentos ou aquisições?”, questiona.

Ela também aponta que, se o intuito é “flipar” na ação (lucrar com a abertura de capital, comprando ações no período de reserva e vendendo na estreia), talvez a Caixa Seguridade não tenha o mesmo efeito que os IPOs de tecnologia em 2020, por se tratar de um negócio mais defensivo.

“Se o investidor está pensando na Caixa Seguridade como boa pagadora de dividendos ou pela resiliência do setor de seguros, um dos melhores da bolsa, não necessariamente precisará se expor ao risco de entrar no IPO”, reforça Louise.

Sobre o IPO da Caixa Seguridade

Segundo relatório da Levante Investimentos, a Caixa Seguridade (CXSE3) chega ao mercado para ofertar 15% do seu capital. A oferta inicial será de 450 milhões de ações ordinárias. É possível que ocorra também a oferta de um lote suplementar, equivalente a 517,5 milhões de ações ordinárias.

Após a oferta pública inicial, a Caixa Seguridade terá um free float  (percentual de ações emitidas em circulação) entre 15% e 17,5%, disponível para qualquer investidor comprar.

Para participar da oferta, existem três formas:

  • Oferta de varejo: com lock-up (restrição de negociar) de 45 dias e sem lock-up, mas sem prioridade na alocação. O valor mínimo de investimento é R$ 1 mil e o máximo R$ 1 milhão.
  • Oferta Dispersão Private: com lock-up de 60 dias ou sem restrição, porém sem prioridade na alocação. O valor mínimo é de R$ 1 milhão e o máximo R$ 10 milhões.
  • Investidores Institucionais: destinado a aqueles que tenham acima de R$ 1 milhão em aplicações financeiras.

O coordenador líder da oferta é o Morgan Stanley. Participam também Caixa, Bank of America, Credit Suisse, Itaú BBA e UBS BB.

Modelo de negócios da Caixa

A Caixa Seguridade atua no segmento de seguros, nos ramos Habitacional, Prestamista, Seguro de Vida, Residência e Patrimonial. A companhia também conta com uma carteira diversificada de produtos que incluem previdência, capitalização e consórcios.

A estratégia de negócios utilizada pela companhia é a de Bancassurance, que consiste em uma parceria com a Caixa Econômica para poder oferecer e comercializar os produtos da Caixa Seguridade por meio dos canais do banco.

A companhia tem acesso exclusivo à base de clientes do banco e direito ao uso da marca Caixa até 2050, parceria que pode ser renovada por mais 35 anos.

Atualmente, a Caixa Econômica Federal vive um bom momento, com 145,8 milhões de correntistas e poupadores, de modo que 40 milhões de clientes são fruto das contas abertas no Caixa Tem para pagamento do Auxílio Emergencial.

Segundo Antonyo Giannini, especialista em ações da Inversa, destes 145 milhões de correntistas, menos de 10% são atualmente clientes da Caixa Seguridade, o que se traduz em uma oportunidade de aumento de receita para a companhia, além do ganho em participação de mercado (marketshare).

Outra vantagem desta parceria é a capilaridade do banco, que pode contribuir com o crescimento da Caixa Seguridade. A Caixa Econômica, por exemplo, conta com mais de 26 mil pontos físicos de atendimento, 4169 agências, 13056 lotéricas, 8810 correspondentes bancários e mais de 28 mil máquinas de autoatendimento.

Olhando para o modelo de negócios, Louise Barsi também destaca a mudança de estratégia da Caixa Seguridade que passou de ativa a proativa na hora de ofertar produtos, que na visão dela pode trazer ganhos potenciais para o negócio.

Louise explica que, no passado, o concorrente da Caixa, o BB Seguridade, utilizava o balcão do próprio Banco do Brasil para fazer as vendas do seus produtos. “Se o cliente abria uma conta, eles já ofereciam capitalização, previdência. Isso não acontecida com os funcionários da Caixa que esperavam o cliente questionar pelo seguro”, comenta.

Quando a Caixa Seguridade decidiu mudar de estratégia, ela colocou fim à parceria com a Wiz, com o intuito de ter exclusividade na oferta destes serviços para os clientes do banco. “A Caixa Seguridade estava parada e, com a pandemia, descobriu o potencial da empresa, com 40 milhões de clientes ainda inexploráveis, e decidiu mexer na gestão”, reforça Louise.

Com esta mudança, ela acredita que a Caixa Seguridade tem potencial de dar certo, considerando que a Caixa Econômica já é líder no financiamento imobiliário, o que facilita a compra de seguros no segmento. “Se o consumidor tem confiança na marca, pode fazer um seguro atrelado no mesmo lugar”, diz.

Além destas atividades já existentes, Giannini destaca as parcerias feitas recentemente pela companhia, que ainda não foram precificadas, entre estas:

  • Parceria com a Tokio Marine para seguro habitacional.
  • Parceria com Icatu Seguros para capitalização.
  • Parceria com a CNP na área de seguros de vida e previdência.
  • Parceria com a Tempo Assist para serviços assistenciais.

Segundo o especialista da Inversa, estas fusões e parcerias podem trazer beneficios para a Caixa Seguridade, embora ocorra sempre o risco de sinergia entre as operações. “A Caixa Seguridade que o investidor vai comprar agora é diferente da que teremos em alguns anos”, defende.

Vantagens da Caixa Seguridade

Entre as principais vantagens de investir em Caixa Seguridade, os especialistas entrevistados pelo InvestNews enxergam diversas oportunidades.

Para Chrystopher Marinho e Raphaela Olis, especialistas da Flip Investimentos, as vantagens de investir na Caixa Seguridade são a exposição a um setor bastante lucrativo e com boa previsibilidade de receita. “É um modelo de negócio muito bom, pois possui um lógica, de certa forma, inversa, pois nele você recebe primeiro e só no futuro presta o serviço, se necessário”, apontam.

Eles também destacam como oportunidade o uso do nome Caixa e o acesso exclusivo a sua base de clientes, que pode permitir um elevado número de potenciais compradores para a Caixa Seguridade.

Acreditando que a companhia tem uma forte base de clientes ainda inexplorada, a Flip Investimentos recomenda a entrada no IPO da Caixa Seguridade, com certas ressalvas por ser estatal.

Para a casa de análise, pesam também na decisão a marca, a consolidação de mercado e possível consistência a médio e longo prazo caso a Caixa Seguridade saiba explorar a base de clientes da forma certa. “Recomendamos a entrada de no máximo 5% da carteira, para não ficar preso ao ativo caso não entregue o esperado”, afirma Raphaela Olis.

Para a Levante Investimentos, o lado positivo do IPO da Caixa Seguridade é a liderança da empresa no mercado de seguro habitacional, além de ter um portfólio diversificado de seguros. Em relatório, a casa de análise também destacou a ampla rede de distribuição de vendas, contabilizando as 4169 agências.

Louise Barsi enxerga como oportunidade a nova estratégia da companhia de ofertar seus produtos proativamente no balcão de operações da Caixa. “Existe um caminho de melhorias para a Caixa Seguridade com esta nova estratégia comercial, mas preferimos esperar para ver se o mercado vai precificar a ação de acordo com estes esforços”, afirma.

Desvantagens da Caixa Seguridade

Entre as desvantagens, há um consenso dos especialistas principalmente pelo risco de interferência política, por se tratar de uma companhia estatal.

A Levante Investimentos, por exemplo, não recomenda a entrada no IPO da Caixa Seguridade. A casa de análise acredita que a relação entre risco e retorno no investimento não é favorável para o investidor, porque existe uma grande chance da companhia não buscar o melhor retorno para seus acionistas com possíveis interferências políticas.

“Embora o presidente Pedro Guimarães venha fazendo um bom trabalho, mudanças podem vir a acontecer, assim como já aconteceram com Eletrobras, Banco do Brasil e Petrobras, o que afetaria a direção da Caixa Seguridade”, aponta a Levante em relatório.

A casa de análise também cita como desvantagem o fato de a oferta ser secundária, com todos os recursos sendo direcionados para os cofres do Governo Federal.

Para Giannini, da Inversa, além do risco por ser estatal, outra desvantagem é a falta de sinergia dessas novas parcerias feitas pela Caixa Seguridade, que podem não beneficiá-la caso o segurado não se interesse pelos produtos.

“Como são fusões recentes, o investidor não teve tempo de ver esse impacto nos resultados apresentados”, destaca. Para ele a recomendação é não entrar no IPO da companhia.

Louise Barsi alerta também sobre um parágrafo de ênfase no relatório apresentado pela auditoria externa, no qual são mencionados riscos de um investigação interna na Caixa Seguridade sobre atos ilícitos.

Ela lembra dos “esqueletos dentro dos armários”, que acostumam impactar companhias do setor de seguros, como aconteceu com a IRB Brasil. “Existe esse risco de novos esqueletos surgirem e afetar o valuation da empresa”, aponta.

Outras alternativas de investimento

Para quem ainda gostaria de ter uma exposição ao setor de seguros, que tem forte potencial de crescimento, os especialistas citam outras alternativas na bolsa de valores, que estão até mais baratas que a própria Caixa Seguridade.

A Levante Investimentos menciona por exemplo SulAmérica (SULA11) e Porto Seguro (PSSA3), que por ser companhias privadas podem buscar melhores retornos para os acionistas.

Segundo a casa de análise, o múltiplo preço/lucro da Caixa Seguridade é de 12,2 vezes (considerando o preço médio da faixa indicativa de R$ 11) por ação. Enquanto SulAmérica trabalha com 11,9x, (9,9x) e Porto Seguro (9,0x).

Já Louise Barsi acredita que a melhor alternativa seja BB Seguridade (BBSE3), por se tratar de uma companhia também de raízes estatais, é o player com um modelo de negócios mais próximo da Caixa Seguridade.

Ela cita que o BB Seguridade é forte nos segmentos de seguro rural, prestamista e seguro de vida, além de ter anos de capital aberto e um histórico sólido de relação com os investidores.

Outro fator importante, segundo Louise, são os dividendos, o BB Seguridade é conhecida por ser uma das favoritas dos investidores na procura de proventos. Em 2020, por exemplo, a companhia entregou um retorno em dividendos (dividend yield) de 7,38%, segundo dados da Economatica Brasil. A expectativa do mercado é que em 2021, o dividendo da seguradora também seja gordo.

Embora a IRB Brasil ainda sofra as consequências do passado, os especialistas não enxergam que a Caixa Seguridade possa se tornar a nova IRB da bolsa de valores, já que o segmento de atuação é diferente e a IRB acaba fazendo seguros das seguradoras.

Olhando para a Caixa Seguridade, Louise explica que, apesar de a companhia ter distribuído 90% do seu lucro no passado, o retorno não é suficiente de acordo com a base de ações, na qual a remuneração seria de 50 centavos por ação.

“Seria necessário que os papéis tenham o preço teto de R$ 8,33 para conseguir um dividend yield de no mínimo 6%, mas este preço já está abaixo da faixa indicativa da Caixa Seguridade”, avalia.

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