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Finanças

PIX: ‘Revolução bancária’ deve elevar disputa entre fintechs e bancos

Enquanto os bancos estão investindo pesado em tecnologia, as startups financeiras decidiram ir às compras.

Logo do PIX em tela de celular

Duas novas ferramentas – o PIX e o open banking – prometem representar uma revolução no sistema bancário brasileiro e, por tabela, esquentar a concorrência no mercado. Para se preparar para essa nova fase, enquanto os bancos estão investindo pesado em tecnologia, as chamadas fintechs decidiram ir às compras. As startups especializadas no setor financeiro ampliaram nos últimos meses as aquisições de pequenas empresas de tecnologia, corretoras e gestoras de investimentos.

MAIS: Uma das mentes por trás do PIX: Carlos Netto, CEO da Matera


Marcado para entrar em funcionamento em 16 de novembro, o PIX, novo sistema brasileiro de pagamentos instantâneos, vai alterar a forma como as pessoas pagam contas e fazem compras, ao eliminar a necessidade de dinheiro ou cartão. Entre as vantagens, está a possibilidade de se usar apenas o número de um celular, por exemplo, para fazer uma transferência sem precisar recorrer a conta, agência, CPF, nome completo e todos os outros dados exigidos hoje. Ou, apenas com o CPF, sacar dinheiro em uma loja sem a necessidade de caixa eletrônico, cartão ou senha.


Já o open banking – sistema de compartilhamento de dados, informações e serviços financeiros pelos próprios clientes bancários em plataformas de tecnologia – está previsto para o fim de novembro e deve dar mais autonomia ao usuário. Um cliente bom pagador, com conta em um determinado banco e quase entrando no cheque especial, poderá receber oferta de um crédito mais barato de outro banco, mesmo sem ser correntista desta instituição.


De olho nessa transformação, as fintechs buscam aumentar seu campo de atuação. Especialista em regulação e organização do mercado financeiro e de capitais, o advogado José Luiz Rodrigues destaca a alta procura das fintechs por consultorias para a formatação de processos de aquisição. Só na última semana, o escritório atendeu quatro empreendedores da área.


“Nos últimos cinco anos, as fintechs vieram se estruturando, mas ainda focadas em serviços específicos para se colocarem no mercado. Agora, com o open banking, muitas delas encontraram a oportunidade para tornar suas operações mais abrangentes”, diz ele. “As fintechs estão se juntando para serem mais fortes.”


A aquisição, no mês passado, da Magliano Invest, a mais antiga corretora do País, com 90 anos de atuação, pela Neon Pagamentos, fundada há apenas quatro anos, é apenas um exemplo. A lista é grande, a despeito da crise deflagrada pela pandemia. Em junho, a XP anunciou a compra de participações majoritárias em duas fintechs: a Fliper, de consolidação de investimentos, e a Antecipa, plataforma digital de antecipação de recebíveis (como valores a serem recebidos por lojistas por compras no cartão de crédito).


Neste mês, o mercado assistiu à disputa entre a Stone Pagamentos e a Totvs pela aquisição da Linx, desenvolvedora de softwares para varejo e comércio eletrônico. Os valores envolvidos chegam a R$ 6 bilhões.


No caso do Nubank, as aquisições ultrapassaram fronteiras. A empresa comprou duas companhias de desenvolvimento de sistemas neste ano – a Plataformatec, em janeiro, e a norte-americana Cognitect, em julho. “Temos crescido a um ritmo muito acelerado, de 40 mil clientes por dia”, diz a cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira. “E isso, sem dúvida, inclui o desenvolvimento de produtos e serviços que vamos oferecer no contexto de open banking e pagamento instantâneo.”


Segundo a executiva, os sistemas vão aumentar drasticamente a competição. “O mercado vai passar por um período de consolidação e estamos sempre atentos. Caso haja alguma empresa que tenha produtos consistentes com a nossa visão, podemos nos interessar.”


O professor de finanças Ricardo Rocha, do Insper, reforça essa avaliação. “Haverá a definição sobre quais fintechs vão virar grandes empresas e quais vão ficar no meio do caminho.” Segundo ele, a tendência é que o custo ao cliente financeiros diminua. “É a continuação da revolução digital. A inovação vai promover mudanças importantes.”


Embora acredite que o PIX virá para incluir milhões de pessoas no sistema financeiro, o Itaú diz que a novidade vai trazer desafios de segurança e gestão de conflitos. “Nossos investimentos têm foco em oferecer a melhor experiência a nossos clientes, com simplicidade e, principalmente, segurança”, diz o diretor de estratégia de PMEs e open banking do Itaú Unibanco, Carlos Eduardo Peyser.


Novos negócios


Diretor executivo da Dinamo Networks, que atua em segurança de identidade digital e criptografia, Marco Zanini afirma que empresas financeiras e não financeiras perceberam que o PIX abrirá oportunidades. Em muitos casos, para participar do sistema, a opção está sendo a aquisição de carteiras digitais que já estão no mercado, possuem tecnologia e base de clientes. “Com o PIX, sairemos de 30 ou 40 instituições competindo no varejo para mais de 900. É claro que a guerra de tarifas vai crescer.”


Em junho, o Facebook anunciou o WhatsApp Pay, aproveitando arranjo de pagamentos já existente com alguns parceiros locais, chamando ainda mais atenção para este mercado. A iniciativa, porém, foi suspensa pelo Banco Central, que autorizou testes, mas não deu a palavra final sobre o serviço.


O BC vem ampliando iniciativas para incentivar a competição no sistema bancário. “Normalmente, órgãos reguladores criam regras de um mercado já existente. Esse é um dos poucos casos em que a autoridade reguladora se antecipou ao mercado, criando o arcabouço regulatório para o PIX”, afirma Carlos Daltozo, chefe de renda variável da Eleven.


Para Daltozo, as transformações serão gradativas. “Novos entrantes precisam se adequar a pré-requisitos como segurança, regulamentação e capital mínimo. Os bancos deverão inicialmente sentir um impacto nas tarifas de TED e DOC, além das transações de débito. Por outro lado, deverão manter o atendimento às empresas, pois detém mecanismos de prevenção a fraudes mais robustos.”


Bancos aplicam R$ 24,6 bi em tecnologia


Os bancos tradicionais também estão investindo em tecnologia e segurança para se adaptarem à revolução. Segundo o diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Leandro Vilain, os investimentos feitos pelo setor em tecnologia são de R$ 24,6 bilhões por ano.

“Os bancos sempre funcionaram como patrocinadores de inovações no País e têm histórico de investimentos em tecnologia e expertise em operações digitais”.
O executivo disse que a Febraban acredita que o sistema PIX e o open banking serão importantes para elevar a concorrência bancária no País. “Com elas, os clientes vão ter maior conveniência e facilidades e poderão optar por melhores ofertas e oportunidades de crédito e serviços existentes no mercado”, afirma.


A entidade afirma, porém, que as regras devem ser iguais para todos os participantes, sejam eles bancos tradicionais ou novos competidores.
Para a Febraban, a maior concorrência e o acesso a mais informações sobre os clientes permitirão ganhos de produtividade e redução de custos. No entanto, Vilain afirma que essas iniciativas “não terão a capacidade” de reduzir o spread (diferença entre o custo de captação e o que é efetivamente cobrado do cliente).


“Esse é um problema a ser enfrentado, mas suas causas estão relacionadas a fatores como inadimplência, falta de garantias, alta tributação e insegurança jurídica nos contratos financeiros”, diz Vilain. “Esses problemas são enfrentados sejam os bancos tradicionais ou aqueles que estão chegando.”


‘Quem prestar melhor serviço vai levar’


O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, João Manoel Pinho de Mello, diz que resultado da introdução do PIX e do open banking será o aumento da eficiência e da concorrência entre as instituições financeiras. “Evidentemente, quem prestar melhores serviços a preços menores vai levar”.


O principal motor que levará a esta revolução é a eficiência, o custo baixo e a abertura de plataformas. O que o PIX faz é criar uma plataforma eficiente em que todos participam. A plataforma é atrativa do lado do usuário recebedor, por conta da liquidação em 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano. Do lado do pagador, o que estamos garantindo é uma série de funcionalidades tão conveniente quanto o que é oferecido por outros meios de pagamento, como dinheiro, boleto e cartões.


Significa mais concorrência?
Podemos esperar mais eficiência e mais concorrência. Evidentemente, quem prestar melhores serviços a preços menores vai levar.


Aparentemente, o PIX será um produto vantajoso para o lojista, que poderá receber o pagamento de forma imediata, ao contrário do que ocorre com o uso de cartões. Isso não será um golpe forte para a indústria de cartões?
A indústria de cartões, principalmente a partir de 2010, com a desverticalização e a quebra de relações exclusivas com bandeiras, sofreu uma revolução. Houve diminuição de custos para os lojistas e aumento da penetração dos cartões. Dos gastos dos consumidores pessoas físicas hoje, 40% são feitos por cartões de débito e crédito. É uma indústria bem sucedida.


O PIX tem características que são vantajosas, mas acredito que a indústria de cartões seguirá tendo um papel importante. Pode ser que ela se transforme. O PIX, de fato, para o lado recebedor, é muito eficiente. Quem usar a plataforma do PIX vai pagar muito pouco e a liquidação ocorre na hora. Isso evita o custo com capital de giro e o estabelecimento fica menos suscetível.


Em 5 de outubro começa o cadastramento das chaves do PIX (celular, e-mail ou CPF). O que vai impedir que outra pessoa possa usar o meu número de celular, por exemplo, para fazer ou receber transações?
Do ponto de vista de vulnerabilidade, o PIX não é diferente dos outros meios. É o mesmo tipo de validação da identidade que você tem para outros meios. Temos a confiança de que o PIX será tão ou mais seguro que os outros meios de pagamento.

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