O início de um ano costuma trazer para muita gente a esperança de um futuro melhor. O cenário econômico para o início de 2025, porém, aponta para uma realidade um pouco mais nebulosa, com juros altos por mais tempo e uma inflação pressionada.
Quando nuvens escuras começam a se formar no horizonte, lembrar do guarda-chuva parece inevitável. O mesmo raciocínio vale para o dinheiro. Ser o guarda-chuva em momentos de tempestades econômicas é justamente a função da chamada reserva de emergência.
Funciona como um seguro: ninguém sabe se e quando vai ter um carro roubado ou a casa alagada. Mas se a emergência ocorrer, você vai ter a segurança de possuir os recursos necessários para resolver. Outra comparação possível é com um colchão. Ter uma proteção para amortecer períodos difíceis pode ser a diferença entre passar ileso por uma queda ou enfrentar sequelas no futuro, como dívidas e crédito mais escasso.
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Essa reserva tem de ser considerada como uma espécie à parte dentro de sua carteira de investimentos. Como se trata de um recurso para emergências, sua característica mais importante é estar disponível a qualquer momento.
“A caixinha de emergência tem de ser a mais conservadora possível e apartada. Não pode ser confundida como um recurso para aproveitar oportunidades no mercado”, explica o analista comercial na AZ Quest, Pedro Perez.
Há diversos produtos de renda fixa com características apropriadas para receber recursos de uma reserva. O especialista cita CDBs de liquidez diária, o Tesouro Selic e até fundos de crédito privado conservadores, que aplicam em papéis de empresas chamadas de “high grade” (baixo risco de crédito), e têm prazo de resgate de, no mínimo, D+1 (um dia útil). Existem também RDBs, papéis emitidos por bancos e com características muito parecidas com as do CDB.
Para Luigi Wis, especialista em investimentos da Genial, uma reserva de emergência adequada precisa somar um valor suficiente para cobrir, no mínimo, as despesas básicas pelo período de seis meses. Aqui, estamos falando de gastos como alimentação, aluguel, financiamento imobiliário, condomínio, tarifas de consumo, mensalidade escolar, convênio médico. Se esse conjunto de despesas soma R$ 6 mil, por exemplo, o ideal é formar uma reserva de, pelo menos, R$ 36 mil.
Para chegar lá, a melhor estratégia é escolher apenas um tipo de aplicação segura e com liquidez diária, sem se preocupar com diversificação. “A preocupação tem de ser juntar dinheiro regularmente até ter o equivalente a seis meses de despesas mensais. A partir daí, você só vai mexer no caso de uma emergência.”
O produto a ser definido pode variar, a depender do tamanho dessa reserva. Wis recomenda para o pequeno investidor, com montante de recursos abaixo de R$ 10 mil, utilizar o Tesouro Selic, um título emitido pelo governo e oferecido pela plataforma do Tesouro Direto. “Isso porque uma aplicação desse valor no Tesouro Direto fica isenta da taxa de custódia de 0,2% ao ano cobrada sobre saldos acima de R$ 10 mil. Nesse caso, o recurso vai ter a rentabilidade atrelada a Selic que está em alta, com um risco zero.”
Já para aqueles com valores acima de R$ 10 mil para aplicar, opções mais rentáveis são os CBDs com liquidez diária e retorno acima de 100% do CDI. Wis cita ainda como uma terceira possibilidade: usar os fundos referenciados DI, mas aqueles com taxa de administração que não passe de 0,3% ao ano. Esses produtos são aplicações de curto prazo com rendimento diário atrelado à taxa DI.
Ainda que a rentabilidade não tenha de ser a maior preocupação do investidor ao montar a reserva, Perez, da Az Quest, desaconselha o uso da caderneta de poupança. O centenário produto de investimento oferece um retorno fixo de 0,5% ao mês mais a variação da taxa referencial de juros, a TR, quando a Selic está acima de 8,5% ao ano. Caso a taxa básica fique igual ou abaixo desse nível, a caderneta passa a render 70% da Selic.
Em 2024, a poupança rendeu 7,03%. Trata-se de um retorno 65% abaixo do CDI. A poupança se mostra menos competitiva também em termos de regras de aplicação. O ganho é calculado mensalmente de acordo com a data-aniversário, ou seja, a partir do dia em que a conta poupança foi criada. Se o aplicador tirar dinheiro antes, perde a remuneração do período.
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“A caderneta vai ficar cada vez mais obsoleta”, afirma Perez. “Não há nenhuma vantagem em se usar a poupança como reserva. CDBs, Tesouro Selic e até os fundos DI são tão seguros quanto, só que mais eficientes e rentáveis.”
Após selecionar o melhor produto para aportar os recursos, o tempo também conta na estratégia de criar esse colchão de segurança. Isso porque quanto antes você montar o seu telhado, menos chances de ser pego de surpresa numa tempestade.
Leia mais na série Investir para Viver – Edição 2025
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