A alta de 120% do Bitcoin em 2024 já foi um excelente resultado, mas no mundo de volatilidade das criptomoedas é possível encontrar valorizações ainda mais surpreendentes – e prejuízos também. Olhando apenas para as moedas digitais com maior valor de mercado, quem realmente se destacou no ano passado foi a XRP, uma cripto que praticamente vai contra a essência do Bitcoin (como veremos mais adiante).

A XRP encerrou o ano passado com valorização de 317%. Mais que isso. Toda a alta se deu após a eleição de Donald Trump, já que até o início de novembro o ativo estava praticamente no zero a zero no acumulado do ano. Ou seja, em apenas dois meses a criptomoeda multiplicou seu preço por quatro.

2024 foi um ano importante para o ecossistema da Ripple, que é bastante afetado pela expectativa de mudanças propostas pelo novo governo de Trump, mas também por conta de uma série de lançamentos importantes para seu futuro.

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Essas movimentações levaram a XRP ao terceiro lugar entre as maiores criptomoedas do mundo (atrás apenas de Bitcoin e Ethereum), com um valor de mercado de US$ 138,4 bilhões e um preço unitário que chegou a US$ 2,70 em dezembro, o maior desde janeiro de 2018.

Nesses primeiros dias de 2025, a XRP já lidera os ganhos considerando as 20 maiores criptomoedas em valor de mercado. Subiu 16%. Mesmo assim, essa ainda é um ativo bastante volátil. Só em dezembro já chegou a valer quase US$ 3 e menos de US$ 2.

O que é a XRP, afinal?

O token XRP é o ativo usado dentro da Ripple, uma plataforma de pagamentos focada em transferências interbancárias. Ou seja, o sistema permite pagamentos instantâneos entre empresas e instituições financeiras usando uma criptomoeda, o que traz rapidez, segurança e permite transferências 24 horas por dia. Uma espécie de Pix global.

Entre as principais soluções propostas pela Ripple estão custos mais baixos – enquanto uma transação com Bitcoin custa US$ 10 ou mais, a com a XRP fica em torno de US$ 0,01 – e maior rapidez: uma operação com a XRP leva entre 3 e 5 segundos, enquanto com o Bitcoin pode tomar 10 minutos.

A empresa usa a RippleNet, uma rede global que utiliza a tecnologia blockchain para permitir que instituições financeiras realizem pagamentos transfronteiriços de forma instantânea, confiável e econômica. A XRP é o ativo usado como intermediário. Por exemplo: você converte reais em XRP, envia as cripto para uma carteira na Mongólia e, lá, a instituição de destino faz a conversão para trugriks, a moeda mongol.

Essa rede já tem uma certa tradição. Desde 2012, a rede processou mais de US$ 1 trilhão.

Apesar do sucesso, visto o tamanho da moeda digital, a XRP sofre de grandes críticas na comunidade cripto, já que não é descentralizada, tem uma empresa privada por trás do projeto e, por ter foco em pagamentos, é muito usada por bancos – os grandes “inimigos” dos puristas de Bitcoin.

SEC: vilã e esperança para o futuro

Um dos maiores dramas vividos pela Ripple é uma longa batalha judicial que ela trava com a SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA. Em 2020, o regulador americano alegou que a empresa realizou vendas de valores mobiliários não registrados ao oferecer XRP para investidores e processou a companhia em US$ 1,3 bilhão.

Em 2024 a Ripple obteve uma grande vitória após uma decisão judicial concluir que as vendas não violaram nenhuma lei de valores mobiliários, o que inclusive é um dos fatores para a recente alta do preço da moeda digital. Mesmo assim, a luta não terminou, já que a SEC entrou com um recurso em outubro contestando aspectos da decisão.

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E é por conta disso que a Ripple é uma das empresas cripto mais favorecidas pela mudança do presidente da SEC que ocorrerá com o início do governo Trump. O atual comandante do órgão, Gary Gensler, é tido como um dos principais empecilhos que o setor teve nos últimos anos.

Gensler não só travou avanços regulatórios favoráveis à indústria cripto, como processou diversas empresas além da Ripple, como Binance, Coinbase e Kraken. Mas ele já anunciou sua saída a partir de 20 de janeiro.

E Trump escolheu Paul Atkins, um regulador financeiro veterano e uma referência nos círculos financeiros conservadores de Washington, para liderar a SEC a partir de 2025. A expectativa é que Atkins se concentre em reduzir as regulamentações e cobrar penalidades mais baixas por violações, o que favorece o setor cripto. Para a Ripple, isso pode ser um sinal de vida mais fácil pela frente.

Lançamentos

Outro ponto positivo para a Ripple com a mudança de comando na SEC é a chance de que em breve seja aprovado o primeiro ETF de XRP dos EUA. Depois de bilhões de dólares colocados em fundos de Bitcoin e Ethereum em 2024, para o CEO da Ripple, Brad Garlinghouse, um produto do tipo para a Ripple é “inevitável”.

Os gestores da WisdomTree e da Bitwise apresentaram pedidos de ETFs por meio do estado de Delaware, enquanto a 21Shares enviou sua solicitação de ETF de XRP à SEC. Essas movimentações ajudaram na alta de preço da criptomoeda, e com um nome mais favorável liderando o regulador em 2025, os investidores estão mais otimistas com uma aprovação.

O ano passado também registrou marcos importantes para a dona da XRP, como o lançamento em dezembro da RLUSD, a stablecoin da Ripple que acompanha o preço do dólar. A novidade colocou a companhia dentro de um mercado que teve um aumento de circulação de 56%, chegando a US$ 204 bilhões.

Mas nem tudo é festa – e isso vale para qualquer criptomoeda. É fato que um possível lançamento de um ETF de XRP e o fim do processo com a SEC são favoráveis para a moeda digital da Ripple, mas esse é um mercado de grande volatilidade.

Mesmo com a euforia da eleição de Trump, nos últimos dois meses a XRP chegou a variar entre US$ 1,97 e US$ 2,70, ou seja, tão rápido quanto os ganhos vieram, também podem virar um baita prejuízo.