O Banco Santander SA (SANB11) elevou as provisões de seu banco de investimento em € 257 milhões (R$ 1,43 bilhão), em grande parte devido a problemas com um único cliente no Brasil, o maior mercado da instituição.
O desempenho da receita e da margem financeira no Brasil foi ofuscado por maiores provisões ligadas, em parte, a “um único nome” na carteira corporativa e de banco de investimento, disse o Santander em seu relatório de resultados na quinta-feira (2). O Santander se recusou a nomear o cliente e não detalhou o valor específico da provisão.
No mês passado, a Americanas SA, varejista que entrou em recuperação judicial, listou o Santander como um de seus três maiores credores, com R$ 3,7 bilhões em exposição. No resultado do Santander, não ficou claro quanto das provisões extras estavam diretamente relacionadas à Americanas.
Os problemas financeiros da Americanas foram revelados por Sérgio Rial, que deixou a varejista sediada no Rio de Janeiro menos de duas semanas depois de ingressar como diretor-presidente e depois de descobrir o que chamou de inconsistências “dolorosas” no balanço da empresa. Pouco depois de deixar a Americanas, Rial também deixou a presidência do conselho da unidade brasileira do Santander, onde ele também atuou como CEO entre 2016 e 2021.
O balanço do 4º trimestre
O lucro líquido gerencial foi de R$ 12,9 bilhões em 2022. O resultado representa uma queda de 21% quando comparado a igual período de 2021. No quarto trimestre, o montante foi de R$ 1,689 bilhão, montante 46% menor do que o reportado no terceiro trimestre de 2022 e 56% menor na comparação com o mesmo período de 2021.
Segundo o banco, a justificativa para o desempenho inferior foi devido o aumento das despesas, que subiram 7% no ano e os ciclos de crédito.
A carteira de crédito do banco atingiu a cifra de R$ 489,687 bilhões no dia 31 de dezembro de 2022 – alta de 5,8% se comparado com o mesmo período do ano anterior.
A receita total do 4º trimestre de 2022 foi de R$ 13,52 bilhões, o que representa uma alta de 14,8% em relação a igual período do ano anterior (11,78 bilhões). O montante compreende uma receita líquida de juros (que é a diferença que os bancos ganham com empréstimos) de R$ 10,16 bilhões.
Já o ROAE (retorno sobre patrimônio médio) foi de 8,3% no 4T22, queda de 7,3 pontos percentuais. No acumulado de 2022, foi de 16,3% – um recuo de 4,9 pontos percentuais em relação a 2021.
A carteira de pessoas físicas, por sua vez, cresceu 8% (principalmente por Consignado, Imobiliário e Crédito Pessoal) e Pequenas e Médias Empresas (7,2%). No trimestre, a carteira cresceu 1,1% com destaque para Pessoas Físicas, influenciada principalmente por movimentos sazonais de final de ano – com destaque para as linhas de Cartão de Crédito e crédito consignado por efeito principalmente do aumento da margem de consignado.
Quanto ao índice de inadimplência, ele passou de 3% no terceiro trimestre de 2022 para 3,1% no quarto trimestre, aumento de 1,3% para 1,4% no segmento de pequenas e médias empresas. A inadimplência das pessoas físicas ficou estável a 4,3%.
Já a inadimplência total registrada em 2022 subiu 0,4 ponto percentual na comparação anual, com alta de 0,7 ponto percentual para a pessoa física. As dívidas vencidas por mais de 90 dias das empresas subiram 0,1 ponto percentual frente o final do ano anterior.
Americanas
O banco espanhol é a maior instituição financeira estrangeira no Brasil. É também um importante player global em um tipo de empréstimo corporativo chamado de financiamento de fornecedores, que fica no coração dos problemas financeiros da Americanas.
A Americanas tem um passivo de R$ 41,2 bilhões com cerda de 8 mil credores. A lista inclui alguns dos maiores bancos do país, que travaram uma batalha com a varejista desde que R$ 20 bilhões em “inconsistências contábeis” foram descobertos em 11 de janeiro. Esses erros aumentaram artificialmente os lucros e reduziram os passivos reportados pela metade.
Santander Espanha
Um aumento sólido nas receitas com empréstimos permitiu que o espanhol Santander registrasse um salto de 18% no lucro de 2022, para um recorde de 9,6 bilhões de euros, compensando provisões mais altas constituídas em condições econômicas incertas.
O segundo maior banco da zona do euro em valor de mercado teve lucro líquido no quarto trimestre de 2,29 bilhões de euros, alta de cerca de 1% em relação ao mesmo período do ano anterior e acima dos 2,07 bilhões previstos por analistas, em média, segundo dados da Reuters.
O lucro líquido de 2022 – que superou levemente os 9,4 bilhões de euros esperados por analistas – foi impulsionado pelo aumento das taxas de juros e das receitas, pela obtenção de 7 milhões de novos clientes e pelo sólido desempenho da unidade de corporate and investment bank.
O Santander disse que seu índice de retorno sobre patrimônio tangível (ROTE), uma medida de lucratividade, terminou o ano em 13,37%, contra 12,73% em 2021. A meta era um ROTE acima de 15% para 2023.
O resultado saiu no mesmo dia em que o Santander Brasil divulgou lucro abaixo do esperado pelo mercado para o quarto trimestre, pressionado por provisões maiores.
No quarto trimestre, as provisões para perdas com empréstimos do grupo Santander mais que dobraram em relação ao ano anterior, para 3,02 bilhões de euros, principalmente nos EUA e no Brasil, embora um pouco abaixo das previsões dos analistas e após a liberação de 750 milhões de euros no ano anterior.
Bancos em toda a Europa estão começando a se beneficiar de custos de empréstimos mais altos. A receita líquida de juros do Santander – receita de empréstimos menos custos de depósitos – aumentou 17%, para 10,2 bilhões de euros no trimestre, em linha com as previsões. A margem líquida do ano cresceu 16%.
As receitas aumentaram 12% em 2022, acima das previsões do mercado, e o banco visou um crescimento de receita de dois dígitos para 2023.
Com Bloomberg e Reuters
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