Se o bitcoin foi criado como forma de protesto durante a crise de 2008, o mundo financeiro tradicional não deixou de incorporar as novas tecnologias vindas das criptos, com a criação de moedas que são pareadas a ativos reais, principalmente o dólar, e até criptomoedas estatais, emitidas pelo banco central de algum país.
Enquanto criptomoedas como o citcoin podem sofrer altas e quedas de mais de 10% em menos de um dia, as stablecoins têm seus preços “estáveis”, acompanhando a cotação de um ativo da vida real. É o caso da Tether (USDT). Ela tem lastro em dólar. Ou seja: para cada uma das 140 bilhões de USDTs em circulação existe um dólar guardado em um bando (na forma de títulos públicos, o que dá na mesma).
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Mas, se é assim, não é melhor comprar dólar de uma vez? Mais ou menos. Um brasileiro que preste um serviço para uma empresa da Holanda, por exemplo, pode receber o pagamento em stablecoin. As USDTs fluem lá dos Países Baixos para a carteira da pessoa com a rapidez de um Pix – até daria para fazer via transferência bancária, mas seria mais burocrático.
O ponto é que as USDTs fluem via blockchain. Dólares normais, não. E há vários serviços disponíveis só via blockchain. O mais importante é esse “Pix global”. Mas também há os sistemas de “finanças descentralizadas” (DeFi, no acrônimo em inglês) – que oferecem juros (como se fossem CDBs, mas sem a intermediação de um banco).
Já as CBDCs são algo bem diferente. Esta é a sigla em inglês para “moedas digitais de bancos centrais”. O Brasil testa a sua – o Drex. Como o BC gosta de lembrar, o nome “moeda digital” engana. Afinal, Pix é digital também – e talvez você mesmo não tenha dinheiro de papel na carteira há alguns anos.
O Drex é, na verdade, um sistema (ou melhor, será, porque ainda está em testes). Ele consiste numa blockchain do BC por onde circulará o “real digital” (grosso modo, uma stable coin do real). Mas não só o real digital. Títulos públicos digitalizados (‘tokenizados”) circulariam por ali também.
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A graça é a seguinte. As unidades de real digital da sua carteira estarão identificadas como propriedade sua, com seu CPF “gravado”, por exemplo. No momento que você usar seus reais digitais para comprar um título, o papel ficará imediatamente no seu nome. Sem que haja uma instituição financeira fazendo o meio de campo. E claro: daria para fazer essas compras 24 horas por dia, sete dias por semana – já que a blockchain não dorme.
Esse é só um exemplo. De todas as possibilidades que as redes de blockchain abriram, as CBDCs certamente estão entre as mais brilhantes.