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Finanças

Stuhlberger, do Fundo Verde: teto de gastos virou inimigo de Bolsonaro e Lula

Gestor afirmou que probabilidade de reformas avançarem a partir de 2023 são baixas, enquanto mercados precificam ‘retrocesso bastante expressivo’

Crédito? Verde Asset/Reprodução

Luis Stuhlberger tem se preparado para um cenário de inflação e taxas de juros para cima por um período prolongado no Brasil, à medida que os principais candidatos na corrida eleitoral acenam para mais gastos públicos.

Praticamente todas as eleições presidenciais após o processo de redemocratização do país foram consideradas eventos binários para o mercado, com expectativas para o índice Ibovespa bastante diferentes a depender do vencedor, disse Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset Management, em evento nesta terça-feira (28). “Este ano, nem eu, nem o mercado nem os gringos consideram uma eleição binária. O mercado considera que os dois candidatos são ruins — cada um ao seu jeito.”

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de opinião até o momento, tem defendido um aumento nos gastos públicos e possível revisão em reformas econômicas que avançaram no governo do ex-presidente Michel Temer, mesmo que alguns aliados afirmem que Lula será fiscalmente responsável. Seu oponente, o presidente Jair Bolsonaro, ainda não convenceu os investidores de que o recente aumento dos gastos será apenas temporário. 

Teto de gastos e reformas

“O teto de gastos virou inimigo público número 1 de Bolsonaro e Lula – e isso é um problema sério”, disse Stuhlberger. “Sabemos, certamente, que inflação será mais alta e juros serão mais altos” caso o ganhador adote uma política de subir os gastos, ainda que isso não ocorra no primeiro ano, disse Stuhlberger. 

A probabilidade de as reformas avançarem a partir de 2023 são baixas, enquanto os mercados colocam no preço um “retrocesso bastante expressivo”, de acordo com Daniel Leichsenring, economista-chefe da Verde, no mesmo evento. “O quadro é desolador”, disse Leichsenring, adicionando que o debate agora é o quanto dessa esperada deterioração está precificada. 

Carteira do fundo Verde

No momento, cerca de 18% do fundo Verde está alocado em ações brasileiras. “Estamos comprados porque está muito barato”, disse Luiz Parreiras, gestor da Verde. “Temos tentado alocar capital em uma série de companhias que devem ser grandes ganhadoras, independente de qualquer cenário.”

O índice Ibovespa negocia a cerca de 6,1 vezes o lucro estimado, bem abaixo da média histórica de 10 anos de 11,6 vezes, penalizado pela perspectiva de alta de juros mais rápida nos Estados Unidos, assim como incertezas fiscais e eleitorais na cena doméstica. O forte aperto monetário no Brasil — o Banco Central levou a Selic de 2% para 13,25% em menos de 16 meses — levou a um forte movimento de resgate dos fundos multimercado e fundos de ações. 

Na bolsa local, algumas das principais posições do fundo são Equatorial, Suzano, Localiza, Assai e Hapvida. Os bancos estão “super baratos” e levaram o fundo a investir no setor após muito tempo, segundo Parreiras.

A Verde, que tem o Credit Suisse como acionista minoritário e mais de R$ 40 bilhões sob gestão, também tem apostas compradas em petróleo e ouro, e gosta da debênture participativa perpétua da Vale. O fundo carro-chefe da casa retornou mais de 19.900% desde sua criação, em 1997. 

Abaixo, um resumo das visões da Verde sobre outros temas: 

  • Parreiras sobre ações nos EUA: “Houve certo exagero” com múltiplos de empresas de crescimento, e isso foi corrigido. “Não é uma moleza absurda, mas o valuation” é atrativo
  • “Historicamente, o mercado faz um low quando uma de duas coisas acontecem: o Fed muda sua postura, ou quando há uma virada no ciclo econômico. Nos parece que o Fed vai levar mais tempo para mudar de postura”, mas o fundo na economia pode vir entre o fim deste ano e o começo de 2023
  • Stuhlberger sobre cripto: “Cheguei a ter um pouco de HASH11, pegando uma tendência curta de dois, três meses. Mas já vendemos lá em cima”.

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