Finanças

Tesouro Direto perde investidores pela primeira vez desde 2013. Entenda por quê

Títulos públicos sofreram uma saída líquida de R$ 471 milhões em outubro. Para professor do Insper, migração para a renda variável foi mais intensa no mês.

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Pela primeira vez desde janeiro de 2013, o Tesouro Direto viu seu número de investidores ativos diminuir no mês de outubro, como mostram dados divulgados nesta terça-feira (24) pelo Tesouro Nacional em seu boletim mensal. Foram 941 a menos que em setembro, totalizando uma base de 1.358.668 usuários com dinheiro aplicado. 

Nos últimos 12 meses, contudo, a variação ainda ficou positiva em 16%. A perda de investidores no mês passado aconteceu em meio a uma saída líquida de R$ 471,9 milhões — o total de resgates foi de R$ 2 bilhões, enquanto as entradas nos papéis de dívida do governo somaram R$ 1,53 bilhão.

O menor interesse do investidor pelos títulos públicos não vem por acaso, observa o professor de finanças do Insper, Michael Viriato. “O Tesouro Direto não passou incólume pela questão da saída de investidores da renda fixa. Eles estão rebalanceando seus portfólios para um perfil de risco um pouco maior, com mais renda variável na carteira”, explica.

Número de novos investidores ativos do Tesouro Direto, mês a mês.

Isso explica, em parte, a migração de usuários para o mercado de ações. A B3, empresa que opera a bolsa brasileira, superou a marca recorde de 3 milhões de pessoas físicas em setembro. A indústria de fundos também vem ganhando adeptos nas categorias de ações, multimercados e fundos imobiliários (FIIs) em 2020. Estes últimos alcançaram o patamar de 1 milhão de cotistas em setembro.

Com o efeito dos juros baixos, maiores incertezas fiscais e temor de uma volta da inflação, também pesou a menor atratividade dos títulos públicos, que fecharam outubro no vermelho. O Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045 ficou negativo em 2,51% no mês, acumulando uma desvalorização de 15,25% no ano. Este papel paga um percentual fixo mais o IPCA do período.

Em nota, o próprio Tesouro esclareceu que os valores negativos em outubro decorrem do aumento nas taxas de juros dos papéis negociados. “Esse aumento de juros faz com que o preço dos títulos em 30/10/2020 seja menor que o apurado em 30/09/2020. No entanto, vale dizer que uma vez carregados até o vencimento, os títulos pagam a rentabilidade acordada no momento da compra”, informou.

O Tesouro IPCA+ 2045, por exemplo, pagava em torno de 4,14% ao ano acrescido, sem contar a variação do IPCA, para quem comprou o papel antes de 30 de setembro e pretende resgatar no prazo.

Tesouro Selic x Tesouro IPCA+

A saída de recursos ficou praticamente concentrada no Tesouro Selic, o novo “patinho feio” dos investimentos conservadores. O papel pós-fixado que acompanha a taxa básica de juros perdeu em outubro o posto de preferido do brasileiro para os títulos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+). Eles tiveram a maior participação nas vendas em outubro, de 35,4%, contra 33,8%.

Tradicionalmente indicado como opção para formar a reserva de emergência, o Tesouro Selic sofreu resgates líquidos da ordem de R$ 797 milhões no último mês, logo após ter apresentado retorno negativo pela primeira vez. “Antigamente era possível manter por muito tempo o dinheiro investido em Tesouro Selic ou no CDI (Certificado de Depósito Interbancário) porque a taxa de juros era muito alta. Agora, só deixa o dinheiro lá quem pretende resgatar no curto prazo”, explica Viriato.

Investidor prefere papéis de curto prazo

A prova dessa mudança de preferência está nas estatísticas do Tesouro sobre os prazos dos papéis: apenas 25,2% das vendas no Tesouro Direto no mês de outubro corresponderam a títulos com vencimentos acima de 10 anos. As vendas de títulos com prazo entre 5 e 10 anos representaram 31,9% e aquelas com prazo entre 1 e 5 anos, 42,9% do total.

Segundo Viriato, a reação do investidor diante de uma rentabilidade negativa dos títulos públicos, ainda que passageira, continua sendo a de resgatar o dinheiro e correr para aplicações que estão em alta no momento. Um exemplo é a bolsa de valores no mês de novembro. O Ibovespa, seu principal índice, acumulava valorização em torno de 17% no mês de novembro, após alcançar o patamar de 109 mil pontos pela primeira vez desde fevereiro.

Estoque total de R$ 61,52 bilhões

Em outubro, o estoque do Tesouro Direto alcançou um montante de R$ 61,52 bilhões, o que significa uma variação positiva de 0,06% em relação ao mês anterior (R$ 61,49 bilhões) e aumento de 3,94% sobre outubro de 2019 (R$ 59,19 bilhões). Os títulos remunerados por índices de preços respondiam pelo maior volume no estoque, alcançando 49,5%. 

Na sequência, aparecem os títulos indexados à taxa Selic, com participação de 30,3%, e, por fim, os títulos prefixados, com 20,1%. Em relação à composição do estoque por prazo, tem-se que 5,9% dos títulos vencem em até 1 ano. A maior parte, 57,6%, é composta por títulos com vencimento entre 1 e 5 anos. Os títulos com prazo entre 5 e 10 anos, por sua vez, correspondem a 11,9% e aqueles com vencimento acima de 10 anos, a 24,7%. 


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