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Finanças

Tesouro Direto volta a ser atrativo, mas é preciso conhecer os riscos

Depois da pandemia, os títulos voltam oferecer taxas interessantes para quem quer fugir da poupança ou especular no mercado secundário.

Investimento

Com as consecutivas quedas da Selic, a taxa básica de juros da economia, o que não falta é especialista apontando para a Bolsa como alternativa para aumentar a rentabilidade. Mas quem prioriza segurança em vez de altos ganhos ficou mesmo sem alternativa? O Tesouro Direto, investimento mais seguro do mercado, tem voltado a apresentar taxas atrativas nos últimos meses, após as vertiginosas quedas em março e abril. O papel prefixado com vencimento em 2031, por exemplo, está pagando uma taxa superior a 6% para quem segurar até o vencimento. Mas para investir no Tesouro, é preciso conhecer a sua lógica a fim de evitar perdas como as vistas durante a pandemia.

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Populares entre os investidores mais iniciantes por unirem liquidez, aplicação inicial baixa e estabilidade, os títulos do tesouro confundiram quem estava despreparado e desconhecia o significado de marcação a mercado. Para quem viu o valor dos papéis derreter, e até para quem já passou por isso e não quer repetir a experiência, a rentabilidade está voltando e é hora de entender mais sobre essa aplicação e se perguntar quais títulos estão valendo mais a pena.

QUANTO ESTÁ PAGANDO

Taxas e preços dos títulos públicos referentes a sexta-feira (17):

Título Rentabilidade anualInvestimento mínimoPreço UnitárioVencimento
TESOURO PREFIXADO 20234,08%R$ 36,26R$ 906,7201/01/2023
TESOURO PREFIXADO 2026 5,99%R$ 36,41R$ 728,3601/01/2026
TESOURO PREFIXADO com juros semestrais 2031 6,56%R$ 37,64R$ 1.254,8701/01/2031
TESOURO SELIC 2025SELIC + 0,0344%R$ 106,50R$ 10.650,4401/03/2025
TESOURO IPCA+ 2026 IPCA + 2,32%R$ 57,44R$ 2.872,4115/08/2026
TESOURO IPCA+ 2035 IPCA + 3,67%R$ 38,76R$ 1.938,4215/05/2035
TESOURO IPCA+ 2045IPCA + 3,67%R$ 40,59R$ 1.353,1715/05/2045
TESOURO IPCA+com juros semestrais 2030 IPCA + 2,92%R$ 42,51R$ 4.251,0915/08/2030
TESOURO IPCA+com juros semestrais 2040 IPCA + 3,68%R$ 44,48R$ 4.448,0015/08/2040
TESOURO IPCA+com juros semestrais 2055 IPCA + 3,85%R$ 46,74R$ 4.674,5915/05/2055

*Fonte: Tesouro Nacional

Como funciona o Tesouro Direto

Criado em 2002, o Tesouro Direto permite que pessoas físicas invistam em papéis do Governo Federal. Funciona assim: quando você faz um investimento via Tesouro, você passa a financiar os investimentos públicos para o país se desenvolver. Você compra um papel que pagará um “prêmio” por emprestar dinheiro ao governo em determinado prazo e com uma determinada remuneração. 

Veja abaixo algumas características destes títulos:

  • Rentabilidade: é o juro que o Tesouro paga ao investidor para que ele financie sua dívida.
  • Valor mínimo: qualquer pessoa pode investir com valores a partir de R$ 30.
  • Prazo de vencimento: é a data de duração do título. O pagamento combinado será feito nesta data, se não houver outro resgate.

É comum os especialistas dividirem esses títulos em três categorias: prefixado, pós-fixado e híbrido. Como o nome já diz, os títulos prefixados vêm com uma taxa pré-estabelecida que continua a mesma até o dia do vencimento. É uma faca de dois gumes: a taxa pode ficar até mais atrativa em relação a títulos futuros; ou, no pior dos casos, menos atrativa em relação às taxas dos próximos títulos. Essa é a implicação que faz ser possível “perder” dinheiro (de forma relativa, quando se deixa de ganhar) com o Tesouro Direto. Detalharemos mais à frente no texto.

LEIA MAIS: Samy e Dony explicam o Tesouro Direto tintim por tintim

Ao contrário do que a intuição sugere, os títulos pós-fixados (Tesouro Selic) não estão sujeitos a esse risco. A taxa de rentabilidade deles não será imutável como na categoria acima. Ela estará atrelada a um indicador, no caso a taxa Selic, ou o indicador da inflação, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Logo, a taxa de rentabilidade que importa é a da data do vencimento. Um título pós-fixado emitido hoje deve ter a mesma rentabilidade de um título pós-fixado amanhã, diferenciando-se apenas quanto aos prazos, porque seguem o mesmo indicador. 

As coisas mudam um pouco de figura quando falamos de um título híbrido. Esses vão juntar uma característica dos pós-fixados, que é o atrelamento a um indicador, com uma taxa a mais, essa sim, pré-fixada. Por isso, nos referimos ao Tesouro IPCA+, dando a entender que existe uma porcentagem pré-estabelecida, além da variação do indicador, que no caso é a inflação

Por que as taxas do Tesouro Direto variam tanto?

Agora vamos dar um salto do investidor iniciante para o “investidor raiz”. Este sempre pensa no seu ganho relativo, ou no jargão econômico, no trade off (custo de oportunidade). Todos os títulos públicos, após serem emitidos pelo Tesouro Direto, fazem parte de um mercado secundário. Os investidores que os compraram podem querer vender o papel antes do vencimento, e é aí que entra a marcação a mercado.

Quando olhamos a carteira da corretora, geralmente o que aparece é o preço do título público naquele dia, além da taxa que irá render no momento do vencimento. A marcação a mercado nada mais é que a variação de preço no mercado secundário de um determinado título. Junto desse preço, também existe um taxa de juros, ajustada conforme a valorização ou desvalorização do título. Mesmo nos títulos prefixados? Sim, porque é uma taxa de juros relativa.

O que mexe com o preço dos títulos públicos? 

“Oferta e demanda”, explica Gilberto Kfouri, responsável pela área de renda fixa e multimercados do BNP Paribas Asset Management. “A lógica é igual à bolsa. Se tem mais gente querendo comprar do querendo vender, o preço sobe.” Os títulos obedecem a essa premissa básica do mercado, mas com algumas especificidades de risco.

Frederico Gonzaga Jayme Junior, professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que o Brasil não tem risco de dar calote na dívida pública atrelada aos títulos do Tesouro Direto. Kfouri concorda. Apesar disso, a marcação a mercado mexeu fortemente com os preços dos títulos públicos nesta crise. “A última crise causou uma fuga para ativos de maior segurança, como dólar e títulos do Tesouro americano”. Isso, seguindo as leis do mercado, pesou sobre o lado da demanda da equação. “Demanda em queda, aquele preço cai”, diz Jayme.

Nas aplicações prefixadas, uma variação na taxa básica de juros mexe com o preço do papel. Por exemplo, um aumento na taxa Selic faz o preço do papel cair. E se o preço cai, a taxa sobe, porque comprando por menos, a rentabilidade é maior. O mesmo mecanismo funciona se as taxas de juros caírem, sempre pensando na hipótese da venda antes do vencimento.

O que aconteceu nos meses de março e abril, que provocou um desespero nos pequenos investidores do Tesouro Direto? “O sujeito que não entende muito vendeu o papel antes do vencimento, com medo de que caísse mais. Se vendeu, realizou o prejuízo.” explica Jayme.

Kfouri chama atenção para outro fator que colabora com o aumento das incertezas. “As taxas atraentes ficam com prazos mais distantes”, diz. Foram também essas as que mais caíram na pandemia. O Tesouro IPCA+ 2045 teve o pior desempenho, com queda de 26,29% em abril e de 25,47% no acumulado do ano. Mas quem não vendeu o papel não perdeu e vai receber a taxa combinada no momento da compra se levar até o vencimento.

Outras alternativas?

De olho na junção dessas determinantes, Kfouri coloca algumas alternativas aos títulos públicos. “Acho que hoje tem coisas mais interessantes fora do Tesouro, como papeis que têm um componente de crédito, com uma taxa acima, no mesmo nível de risco”, enquanto, sem desmerecer os títulos públicos, lembra que “tudo depende do horizonte estratégico”.

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