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Tombo das criptomoedas é alerta para investidores brasileiros

Alta dos preços nos Estados Unidos sepultou as esperanças dos investidores de que a escalada inflacionária no país pudesse ter atingido o pico e renovou os riscos de estagflação.

Bitcoin
REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração

Quem apostou no mercado de criptomoedas nos últimos anos sabe que terá de esperar para recuperar as perdas dos últimos meses. Renato Siqueira, 43 anos, profissional de comunicação, passou a investir nesse tipo de aplicação durante a pandemia de covid-19. Com o dinheiro que gastaria em viagens, resolveu comprar ativos mais arriscados e com potencial de retorno mais alto do que a renda fixa.

Siqueira fez pequenos aportes ao longo de pouco mais de um ano até atingir o total de R$ 23 mil investidos em nas criptomoedas bitcoin (BTC) e ethereum (ETH) e outros criptoativos menos populares. Percebendo uma tendência de queda ainda no fim do ano passado, ele decidiu sacar R$ 3 mil para viajar e pagar contas, deixando o restante investido.

Após uma expressiva queda do mercado de criptomoedas, o valor investido por Siqueira é atualmente de pouco mais de R$ 10 mil. Observando o movimento, decidiu então converter grande parte das suas criptomoedas para ativos vinculados ao dólar americano para reinvestir quando o mercado chegar ao fundo do poço e buscar uma recuperação.

“Não sinto que perdi o dinheiro. Pelo menos não agora. Estou esperando o melhor momento para reinvestir. Meu pensamento sobre criptomoeda é que quanto mais cair, melhor, porque eu posso esperar a valorização. Vejo como uma oportunidade de ganhar mais dinheiro do que no Tesouro Direto, mas não tenho todo meu patrimônio em criptomoedas”, diz. “Acredito que o mercado de criptomoedas pode subir e que eu tenha um dinheiro a mais no futuro.”

Juros maiores afetam cripto

O catalisador do choque atual das criptomoedas foi a divulgação recente do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, que saltou 8,6% na comparação anual de maio e subiu ao maior patamar desde dezembro de 1981.

A alta dos preços nos Estados Unidos sepultou as esperanças dos investidores de que a escalada inflacionária no país pudesse ter atingido o pico e renovou os riscos de estagflação – período de crescimento econômico lento combinado com inflação em alta.

Ainda mais importante para investidores, o quadro de inflação alta provocou um rearranjo nas expectativas para os planos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). A autoridade monetária se viu forçada a abandonar o compromisso em subir juros em meio ponto porcentual a cada reunião de política monetária e promoveu na semana passada uma elevação de 0,75 ponto, o maior aumento em uma reunião de política monetária desde 1994.

Com isso, o mercado financeiro já estima que a taxa básica de juros dos Estados Unidos atinja um pico acima de 4% ao ano em 2023, mais que o dobro da faixa atual entre 1,50% a 1,75%.

Cautela para o investidor

Em um ambiente como esse, entrar em um mercado tão arriscado quanto o das criptomoedas exige ainda mais conhecimento e cuidado, segundo Luiz Pedro Andrade, analista de criptoativos da casa de análises Nord Research, que recomenda o investimento de olho no longo prazo.

Andrade acredita que as criptomoedas podem dar retorno aos investidores dentro de até quatro anos. Porém, é preciso cuidado na hora de investir, limitando o investimento em criptomoedas a um porcentual baixo da carteira.

“Estamos em um bear market (mercado em crise) diferente dos anteriores no mercado de criptomoedas por causa do aumento de juros das economias mais fortes”, diz ele. “Fora isso, com o ciclo de alta extenso de dois anos no mercado, as pessoas têm mais capital alocado que pode ser vendido.”

O analista recomenda investir em criptomoedas mais conhecidas, como o bitcoin, e a alocação de uma parcela bem pequena da carteira nesses ativos: “Não vale ter mais de 5% da carteira em criptomoedas, e os iniciantes devem ter só 2%”, diz Andrade.

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