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1ª greve contra inteligência artificial tomou Hollywood como cenário

Roteiristas paralisaram atividades por cinco meses em busca de regras para uso de IA; protesto dos atores segue.

Após 148 dias de greve, o sindicato dos roteiristas chegou nesta semana a um acordo provisório para retornar aos trabalhoos. Profissionais do texto de Hollywood passaram cinco meses paralisados na luta por proteger o futuro de sua profissão dos avanços da inteligência artificial (IA). Foi a primeira disputa trabalhista envolvendo o uso de IA no ambiente de trabalho.

Piquete promovido pelos grevistas dos sindicatos SAG-AFTRA e WGA, em Burbank 06/09/2023 REUTERS/Mario Anzuoni

O acordo alcançado pelo WGA

Apesar de determinar desde já o fim da greve, o Sindicato dos Roteiristas da America (WGA, na sigla em inglês) deve votar nas próximas semanas a aceitação do acordo oferecido pela Aliança de Produtores de Televisão e Cinema (AMPTP, na sigla em inglês). A entidade patronal representa Walt Disney, Netflix e outros estúdios.

Por ora, a proposta foi aprovada apenas pelos membros da diretoria sindical. Os pontos principais são:

  • Estúdios e produtoras deverão informar sempre ao repassar qualquer material produzido por IA
  • IA não poderá receber créditos de escritor
  • IA não poderá escrever ou reescrever “material literário”
  • Escritores podem utilizar IA em seu trabalho caso a produtora consinta; porém eles não podem ser obrigados por seus superiores a utilizar essas ferramentas

“Eu espero que esse modelo seja usado por muitas indústrias de criação de conteúdo”, afirmou Tom Davenport, professor de tecnologia da informação na Universidade de Babson. “Ele basicamente garante que, se você vai usar IA, vai ser com humanos trabalhando ao lado da IA. Isso, para mim, sempre foi a melhor forma de usar qualquer forma de IA.”

Não há proibições a respeito do uso de roteiros para treinar sistemas de IA. Porém os escritores mantém o direito de saber que seu trabalho recebeu esse uso.

A greve teve início apenas cinco meses depois do lançamento do ChatGPT, inteligência artificial generativa capaz de escrever ensaios, ter conversas sofisticadas e desenvolver histórias a partir de modelos pré-programados. 

Protesto perto dos estúdios da Disney na Califórnia 25/7/2023 REUTERS/Mike Blake

No acordo firmado entre a AMPTP e o WGA, as partes reconhecem que o cenário legal sobre uso de IA ainda é incerto e está em rápido desenvolvimento. Por isso, comprometem-se com encontros duas vezes por ano para discussões, ao longo de um período de três anos.

Para além das questões relacionadas à inteligência artificial, o acordo inclui novas regras para pagamentos residuais – valores referentes à exibição das obras em televisão, cinema e streaming. Os resíduos aumentarão entre 3,5% e 5% para o uso de séries de TV e filmes fora dos Estados Unidos e um bônus será concedido para as séries mais populares em streaming.

O sindicato ganhou ainda garantias de um número mínimo de funcionários nas salas dos roteiristas. A equipe será determinada pelo número de episódios por temporada. As taxas de remuneração mínima também aumentarão em mais de 12% em três anos.

Histórico da greve

O sindicato dos roteiristas liberou o retorno de seus 11.500 membros ao trabalho desde quarta-feira (27). Os trabalhos dos roteiristas foram pausados no início de maio. A paralisação ocasionou a suspensão de séries, talk shows e filmes, além do adiamento de premiações como o Emmy, o Globo de Ouro e o Oscar.

O sindicato de atores e atrizes (SAG-AFTRA, na sigla em inglês), o maior de Hollywood, com 160.000 membros, também pausou seus trabalhos em julho com pedidos de salários mais altos e restrições ao uso de inteligência artificial (IA) no entretenimento, exigências semelhantes às dos roteiristas de Hollywood. O SAG ainda não fechou acordo e segue paralisado.

Jessica Chastain no 80º Festival de Cinema de Veneza, na Itália 8/9/2023 REUTERS/Guglielmo Mangiapane

Greve dos atores continua

Enquanto os roteiristas chegaram a um acordo, o SAG aprovou na segunda-feira (25) por estender sua paralisação às empresas de videogame. O uso de IA nos jogos é apontado como potencialmente prejudicial para atores de voz.

Os artistas querem proteger suas imagens e seu trabalho de serem substituídos por “réplicas digitais” geradas com IA. Também buscam compensação financeira que reflita o valor que eles trazem para o streaming, especificamente na forma de compartilhamento de receita, entre outras demandas.

O SAG e a entidade representativa dos estúdios concordaram em iniciar um diálogo para um acordo no dia 2 de outubro.

(*com informações da Reuters e da Bloomberg)

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