Stablecoins: o que são e como investir?

Aprenda a investir nesta categoria de criptomoedas

As criptomoedas são conhecidas por sua volatilidade. Até pouco tempo atrás, era comum o Bitcoin (BTC) subir ou descer 10% ou 15% no mesmo dia. Há, no entanto, uma classe de moedas digitais projetada para ser mais estável, com preços que pouco mudam ao longo do tempo. São as stablecoins, tokens normalmente pareados a algum outro ativo do mercado, como o dólar e o ouro.

Neste guia, o InvestNews explica o que são as stablecoins, como elas funcionam, de que forma são criadas, quais são os tipos existentes no mercado e quais as diferenças entre elas e as demais criptos. Também conta como investir nessas criptomoedas e quais as vantagens e os riscos de ter uma — ou mais — na carteira de investimentos.

O que são stablecoins?

Stablecoin significa moeda estável na tradução para o português. Essas criptomoedas recebem esse nome porque são projetadas para manter um valor fixo, geralmente vinculado a outro ativo de referência, como moedas fiduciárias (dólar, euro, real etc); commodities, a exemplo de ouro e prata; ou a outros criptoativos, como o Ethereum (ETH).

Quais diferenças entre stablecoins e outras criptomoedas?

Toda stablecoin é uma criptomoeda, mas nem toda criptomoeda é uma stablecoin. Confira, abaixo, as principais diferenças entre elas.

Volatilidade: Como são pareadas por outros ativos, as stablecoins tendem a ser menos voláteis do que as criptomoedas tradicionais, como Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH). Por outro lado, elas oferecem menos possibilidades de ganhos.

Lastro: As stablecoins normalmente têm lastro em algum outro ativo, que fica guardado em uma instituição financeira. Os criptoativos, por outro lado, não têm esse tipo de garantia.

Finalidade: As criptomoedas estáveis são mais indicadas para realização de transações internacionais, pagamentos ou armazenamento de valor em períodos voláteis. Bitcoin e companhia, por outro lado, funcionam mais como ativos de investimento.

Quais os tipos de stablecoins?

Há quatro principais tipos de stablecoins no mercado.

Stablecoins lastreadas em moeda fiduciária: São criptomoedas pareadas a moedas emitidas por governos, como dólar, euro e real. No geral, a cada token desse tipo emitido, existe a mesma quantidade em reserva. Os principais exemplos são Tether (USDT), USD Coin (USDC) e Pax Dollar (USDP).

Stablecoins lastreadas em commodities: São criptomoedas pareadas a commodities, como ouro e prata, por exemplo. Um dos representantes desse tipo de stablecoin é a PAX Gold (PAXG), da Paxos Trust Company, uma empresa de tecnologia blockchain baseada nos Estados Unidos.

Stablecoins lastreadas em outras criptos: São tokens pareados a reservas de outras moedas digitais. A Dai (DAI) é um exemplo. A cripto foi projetada para sempre valer US$ 1, mas é lastreada em outros tokens, como o Ethereum (ETH).

Stablecoins algorítmicas: São criptomoedas que buscam manter um valor estável por meio de algoritmos ou smart contracts (contratos inteligentes). Portanto, diferentemente das outras, elas não têm lastro real. Um dos exemplos clássicos foi a TerraUSD (UST), que entrou em colapso em 2022.

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Como as stablecoins são criadas?

As stablecoins normalmente são criadas em uma blockchain, o sistema utilizado para registrar e verificar as transações de criptomoedas. Algumas das redes usadas são o Ethereum (ETH) e a Tron (TRX).

As maneiras de as stablecoins manterem as reservas variam. No caso daquelas pareadas a moedas fiat e commodities, como o dólar ou ouro, cada token emitido por uma empresa é lastreado pela mesma quantidade do ativo em reserva, guardado em uma instituição financeira. Ou seja: se a Tether emitir um USDT, deve ter a mesma quantidade em dólar na conta bancária.

Em relação às stablecoins pareadas em outras criptos, no entanto, o método é diferente. Em resumo, a criptomoeda estável só é emitida quando um usuário bloqueia outros tokens como garantia, normalmente em uma proporção superior a 1:1. A lógica é mais ou menos assim: para emitir uma unidade do token X, o investidor precisa colocar na rede 1,5 unidade do token Y.

Quais são as principais stablecoins?

Até o final de 2024, havia 223 stablecoins listadas no CoinGecko, um dos principais agregadores de dados sobre criptomoedas da indústria de ativos digitais. Juntas, elas somavam US$ 209,46 bilhões em valor de mercado. Confira abaixo algumas das principais:

Tether (USDT): É uma stablecoin atrelada ao dólar dos Estados Unidos. Cada unidade do USDT equivale a US$ 1. Foi lançada em 2014 pela empresa Tether, que garante ter dinheiro em reserva para cada token emitido. É a terceira maior criptomoeda por capitalização de mercado, atrás apenas do Bitcoin e do Ethereum.

USD Coin (USDC): Também é uma stablecoin pareada ao dólar na proporção de 1:1. Oitavo maior token da indústria cripto, foi lançado no final de 2018 pela Coinbase, exchange de capital aberto baseada nos Estados Unidos, em parceria com a plataforma cripto Circle. As reservas fiduciárias que sustentam a emissão do token são divulgadas regularmente.

Dai (DAI): Não é uma stablecoin que tem reservas em dólar, mas mantém seu valor a US$ 1,00. A cripto, emitida em uma plataforma cripto chamada MakerDAO, consegue ter essa paridade por meio de garantias em criptoativos, como Ether e outros tokens, bloqueados em smart contracts. Em resumo, quando alguém deseja emitir DAI, deve depositar tokens como garantia. A stablecoin foi lançada no final de 2017.

Pax Dollar (USDP): Foi criada pela Paxos, empresa de blockchain regulamentada nos EUA, que também mantém paridade de 1:1 com o dólar. Cada USDP é lastreado na mesma proporção na moeda fiduciária norte-americana, garante a plataforma. O token foi lançado no final de 2018, assim como o USDC.

PAX Gold (PAXG): É uma stablecoin lastreada em ouro físico. A cripto foi lançada em setembro de 2019. Cada unidade representa uma onça-troy (unidade de peso utilizada para metais preciosos, equivalente a 31,10349 gramas). Todo o metal adquirido pela empresa emissora fica armazenado em cofres seguros.

Brazilian Digital Token (BRZ): É uma stablecoin pareada em reais. Cada unidade equivale a R$ 1. Foi lançada em 2019 pela empresa de soluções financeiras baseada em blockchain Transfero. De acordo com dados da Receita Federal, a BRZ costuma figurar entre as cinco criptomoedas mais negociadas no Brasil, ao lado de USDT, Bitcoin, USDC e ETH.

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Como investir em stablecoins?

É possível comprar stablecoins diretamente nas exchanges de criptomoedas, em bancos ou plataformas cripto. Alguns exemplos são Binance, Coinbase, Kraken, OKX, Mercado Bitcoin, Foxbit, Ripio, Mynt (do BTG) e o app do Nubank. Para investir, é preciso abrir uma conta em qualquer uma delas, depositar reais e escolher a moeda estável.

Importante ressaltar, no entanto, que as plataformas não listam todas as stablecoins do mercado. Vale entrar no site de cada uma para verificar se ela disponibiliza as opções de criptomoedas estáveis que você deseja adquirir. Na hora de escolher algum local para negociação, é importante também verificar as taxas cobradas, que variam entre 0,25% e 1%.

Riscos de investir em stablecoins

Assim como no caso das criptomoedas “tradicionais”, investir em stablecoins também oferece uma série de riscos para os investidores. Confira abaixo alguns dos principais.

Paridade: Algumas stablecoins mantêm reservas em instituições financeiras. Problemas nesses custodiantes podem afetar o dinheiro e a paridade. A falência dos bancos americanos Silicon Valley Bank (SVB), Signature Bank e Silvergate Bank, em 2023, fez tanto a USDC quanto a DAI ficarem abaixo de US$ 1, já que parte de suas reservas estavam nessas empresas. A situação só se normalizou após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) sinalizar que daria apoio aos credores dos bancos.

“Uma série de fatores pode fazer com que elas [stablecoins] se desvinculem abaixo ou acima do valor alvo. A desvinculação pode desencadear perdas individuais de investimento e negociação, ao mesmo tempo em que representa riscos sistêmicos de mercado relacionados à solvência e liquidez”, disse a agência de classificação de risco S&P Global Ratings em uma avaliação sobre stablecoins, publicada no final de 2023.

Transparência: A falta de transparência também é um risco para a classe das stablecoins. As reservas da Tether, emissora da USDT, constantemente são questionadas por entidades. Em uma escala de 1 a 5, em que o número maior significa menos segurança, a própria S&P Global Ratings deu nota 4 para a criptomoeda, mencionando falta de informações sobre as reservas alegadas. A USDC e a USDP, para efeito de comparação, receberam nota 2 – ou seja, são indicadas como mais seguras.

“O risco das stablecoins pareadas em moeda fiduciária estará associado à legitimidade, transparência das informações de emissão da empresa emissora, assim como aos riscos atrelados à moeda fiduciária representada”, diz Bárbara Espir, country manager da Bitso.

Risco cambial: Como as stablecoins são associadas a moedas fiduciárias, isso significa que o investidor também vai ficar exposto aos movimentos na taxa de câmbio entre a moeda local e aquela pareada pela criptomoeda estável.

Regulatório: Há também um desafio em relação às inconsistências regulatórias entre diferentes jurisdições, segundo Bárbara, o que “acaba sendo um obstáculo para a adoção massiva das stablecoins e da tecnologia blockchain”. A situação no Brasil, no entanto, é mais confortável, segundo a especialista, pois elas “são legitimadas pelo Banco Central e pela Receita Federal, tendo código específico de declaração e podendo ser usada como meio de investimento, ou até mesmo pagamento”.

Qual o imposto das stablecoins?

A tributação das stablecoins é semelhante a de outras criptomoedas. Ou seja, o imposto só é devido quando as vendas no mês somarem mais de R$ 35 mil. As alíquotas variam de 15% a 22,5%, dependendo do valor do ganho. Já a declaração é obrigatória apenas para quem tem mais do que R$ 5 mil. As stablecoins precisam ser inseridas na ficha “Bens e Direitos”, no “Grupo 08 – Criptoativos”. O código para essa classe de tokens é o 03.

Quais as vantagens de investir em stablecoins?

O investimento em stablecoins também oferece vantagens aos investidores. Veja:

Menos volatilidade: As stablecoins são projetadas para serem estáveis. Isso reduz o risco de volatilidade, característica comum no Bitcoin e das altcoins (termo usado para identificar qualquer cripto diferente do BTC), tornando essa classe de criptos uma opção mais segura para os investidores conservadores.

Menos taxas: Quando um investidor converte reais em dólar em uma casa de câmbio, por exemplo, precisa arcar com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 1,1%. No caso das stablecoins, por outro lado, não há necessidade de pagar esse imposto. Há apenas as tarifas da plataforma escolhida para a compra da cripto, que variam entre 0,25% e 1%.

Horário: Bárbara, da Bitso, lembra ainda que essas criptomoedas estáveis podem ser enviadas instantaneamente via blockchain, operam 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. “Ou seja, as stablecoins combinam acessibilidade e velocidade”.

Remessas internacionais: As stablecoins são uma alternativa mais rápida e econômica aos serviços tradicionais de remessas internacionais, que frequentemente têm altas taxas e são demorados. “Por exemplo, enviar US$ 200 da África Subsaariana é cerca de 60% mais barato com stablecoins em comparação aos métodos tradicionais”, diz a empresa de análise de blockchain Chainalysis, em relatório divulgado no final de 2024.

Como escolher boas stablecoins?

O mercado cripto também tem suas crises. Uma delas aconteceu em 2022 e envolveu a stablecoin TerraUSD (UST), criada pela plataforma Terraforms Labs, que na época era uma das maiores representantes do setor de finanças descentralizadas (DeFi). A UST tinha lastro em outra criptomoeda do projeto, chamada LUNA, e mantinha sua paridade em dólar por meio de um mecanismo complexo de criação e queima de tokens. Não deu nada certo, o projeto quebrou e jogou o mercado cripto em uma de suas piores crises.

Assim como funciona com outras criptomoedas, portanto, antes de comprar qualquer stablecoin, vale averiguar tudo sobre ela, tanto em sites de notícias, redes sociais, fóruns, plataformas de defesa do consumidor, Linkedin (no caso dos envolvidos), entre outros. “É importante que antes de investir em qualquer cripto, o investidor pesquise tanto sobre o ativo, quanto sobre a empresa que está por trás do projeto”, diz Bárbara.

No caso das stablecoins disponíveis do mercado, é importante também verificar os relatórios financeiros e auditorias sobre as reservas. As empresas emissoras costumam publicar regularmente esses documentos em seus próprios sites. Outros pontos que devem ser considerados na hora da análise são o histórico da estabilidade da criptomoeda, a liquidez e o nível de sua adoção.

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