A bolsa de valores ganha nesta terça-feira (7) uma empresa com 100% do negócio associado ao bitcoin (BTC): a OranjeBTC. Com o ticker OBTC3, a companhia estreia já com 3.650 unidades da criptomoeda em tesouraria – o equivalente a US$ 457 milhões (R$ 2,4 bilhões) na cotação atual.

A OranjeBTC chegou à B3 por meio de um caminho não tão usual: um “IPO reverso”. Na prática, isso significa que uma empresa fechada compra o controle de uma companhia já listada para ingressar na bolsa, em vez de abrir capital próprio. A firma adquiriu a Intergraus, um cursinho pré-vestibular tradicional de São Paulo, que pertencia ao grupo de educação Bioma, por R$ 15 milhões.

A nova companhia foi fundada por Guilherme Gomes, que já passou por Bridgewater Associates e pela Swan Bitcoin, nos EUA. Ele é tão aficionado por cripto que, além de levar uma empresa de ativos digitais para a B3, tem 100% do portfólio pessoal em bitcoin – uma estratégia considerada de alto risco, não recomendada para investidores em geral.

Além dele, a companhia tem um Conselho de Administração composto por Eric Weiss, ex-Morgan Stanley; Fernando Ulrich, economista referência no cenário cripto e autor do livro Bitcoin: a moeda na era digital; Julio Capua, ex-sócio da XP; Josh Levine, vice-presidente da BlackRock; entre outros nomes.

Tesouraria e educação

A empresa pretende atuar em duas frentes. De um lado, busca acumular a maior posição em bitcoin da América Latina, seguindo o exemplo da “famosinha” Strategy (antiga MicroStrategy), cofundada por Michael Saylor, que detém 640.031 unidades de BTC – cerca de US$ 80 bilhões (R$ 425 bilhões) em cripto, superior ao valor de mercado da Petrobras (​PETR4).

De outro, vai apostar em educação, oferecendo cursos, publicando pesquisas e organizando eventos no Brasil sobre o mercado de criptomoedas.

Riscos incluem regulação

Concentrar a estratégia em único ativo, conhecido por sua volatilidade, é uma aposta de alto risco. Os próprios ciclos de alta e queda do mercado de criptomoedas podem impactar o valor da tesouraria e, consequentemente, da companhia como um todo.

Para Gomes, porém, a volatilidade é parte essencial do negócio. Seguindo o exemplo da Strategy, disse ele, é possível “empacotá-la” de diversas formas para vender dívidas conversíveis, warrants (títulos de opção negociados em bolsa) ou outros papéis, além de recapitalizar o caixa e comprar mais bitcoin.

“Então acho que a volatilidade não só é parte da história, mas é essencial para a operação da companhia. Porém, é preciso ter perspectiva de longo prazo”.

Do ponto de vista do investidor, o especialista da Valor Investimentos, Virgílio Lage, apontou outros riscos a serem considerados, como o regulatório (devido a possíveis mudanças legislativas, proibições ou novas exigências para criptomoedas), o risco de crédito (causado pela dependência de terceiros, como corretoras ou custodiantes) e o risco de liquidez do papel.

Outras empresas com bitcoin em caixa

A OranjeBTC não é a única empresa brasileira com bitcoin na tesouraria. A Méliuz (CASH3), companhia de tecnologia e cashback fundada em 2011, passou a comprar bitcoin no início deste ano, com o objetivo de buscar “retorno de longo prazo no ativo”, segundo comunicado divulgado em março. A empresa possui 605 unidades de BTC, o equivalente a cerca de US$ 70 milhões (R$ 372 milhões)

Analistas e empresas do setor veem o Brasil como um mercado promissor para esse tipo de iniciativa.

“Assim como a Méliuz, a entrada da OranjeBTC no mercado brasileiro marca um marco importante em 2025, ano em que o bitcoin reafirmou sua força no mercado corporativo da América Latina e sua relevância como ativo de tesouraria no planejamento financeiro de longo prazo das empresas”, disse a Bitfinex tem relatório publicado nesta segunda-feira (6).

Para Yoandris Rives Rodriguez, gerente regional para a América Latina na B2BINPAY, o “Brasil continua se destacando como um mercado relativamente estável, em que plataformas como a OranjeBTC estão ganhando tração real”.