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Para CEO da Aura Minerals, queda na bolsa está descolada de fundamentos

No acumulado de 2021, o papel da minerdora de ouro registra desvalorização de 13,55%, bem próximo à queda do Ibovespa que é de 11,89% no período.

CEO da Aura Minerals

Única produtora de ouro negociada na B3, a mineradora canadense Aura Minerals (AURA33) está com uma performance na bolsa descolada do real fundamento da empresa. Foi o que disse seu CEO, Rodrigo Barbosa, em entrevista ao InvestNews. “Foi interessante ver as ações caindo e nossa geração de caixa aumentando”, explicou. No acumulado de 2021 até o fechamento do pregão de 22 de dezembro, o recibo de ações da companhia caía 12,99%.

A mineradora abriu seu capital em julho do ano passado, quando já era listada na Bolsa de Valores de Toronto e escolheu o mercado brasileiro para fazer uma nova oferta pública de ações (IPO) por meio de recibos de ações, os BDRs. Na época, o papel saiu negociado a R$ 820.

Após o desdobramento das ações e um follow-on (quando uma companhia já listada decide emitir novos papéis) em outubro de 2020, a ação passou a ser negociada a um valor bem mais acessível: R$ 48,50 cada.

Embora a desvalorização acumulada em 2021 esteja bem próxima à queda do Ibovespa — de 11,57% no mesmo período —, a performance da Aura está aquém de outras companhias que têm receita em dólar e são procuradas pelos investidores em meio a um cenário econômico interno mais fraco. Este é o caso dos papéis dos frigoríficos, que registram ganhos de até 72% em 2021. Veja quadro a seguir (o comparativo não leva em conta o fato de que a variação do câmbio também afeta a cotação do papel, na conversão do dólar para real):

Em defesa da companhia, Barbosa mencionou que o pagamento antecipado de dividendos no valor total de US$ 25,4 milhões e o programa de recompra de até 2.677.611 ações são uma forma de sinalizar ao mercado que a companhia continua forte.

O CEO também falou sobre a importância dos projetos de Matupá, no Mato Grosso, e Almas, no Tocantins, para que a companhia possa atingir a meta de produção de 400 mil onças equivalentes de ouro (GEO) em 2024; a decisão de interromper os investimentos na mina de Gold Road, nos Estados Unidos; as estratégias da empresa para iniciar a produção de ouro nos novos projetos; a necessidade de fusões e aquisições para ampliar os negócios, além de iniciativas relacionadas aos pilares ambiental, social e governança (ESG, na sigla em inglês). Confira a entrevista:

IN$ – Como foi a atuação da Aura em 2021?

Começamos o ano com o projeto de ampliar a capacidade de Aranzazu (mina localizada no México) em 30% e que foi concluído no segundo trimestre. Esta ampliação tem levado a companhia a atingir uma produção entre 264 mil e 272 mil onças equivalentes de ouro (GEO) em 2021.

Além disso, para o projeto de chegar a 400 mil ou mais onças até 2024, ou seja, dobrar de tamanho, desenvolver as minas de Almas e Matupá também é importante. Cada uma delas vai proporcionar uma produção entre 55 mil e 60 mil onças.

Em Almas, tivemos um atraso para iniciar as obras. Estávamos projetando começá-las no segundo trimestre deste ano, mas, por questões burocráticas, o prazo foi alongado. Estive lá com o governador do Estado para a inauguração no início de dezembro.

Ainda que tenha tido um atraso de seis meses, não ficamos parados, evoluímos na parte de engenharia. É um projeto que deve iniciar a produção de ouro em até 14 meses e entrar em produção full (total) em meados de 2023.

O projeto Matupá também é importante para atingir as 400 mil onças. O ano foi dedicado aos estudos de viabilidade econômica dele. O depósito de ouro já estava comprovado, o que precisávamos era fazer o desenho da mina, o exercício de quanto iria custar a produção e o capex (investimento).  Com o desenho da planta, entramos com o processo de licenciamento.

Ainda que seja um projeto que já tem 350 mil onças de ouro descobertas, ao comparar com outras minas no mundo, não é muito. O ideal é que tenha umas 700 mil onças. Só que quanto mais eu invisto para descobrir uma quantidade maior de ouro, mais distante fica o início da produção.

Por isso, ao invés de investir tempo e dinheiro para descobrir mais ouro, decidimos focar em fazer o estudo sobre viabilidade econômica, publicá-lo e entrar com licenciamento para, então, colocar o projeto em produção.  

Quando estiver tudo pronto, a empresa volta a investir para descobrir novas reservas, o que mostra a robustez do ponto de vista econômico-financeiro, mas ainda com muita possibilidade de estender a vida útil através de novas descobertas de ouro uma vez que já há fortes indícios que elas existem.

IN$ – Após o comunicado do rompimento dos investimentos na mina Gold Road, as ações da Aura caíram mais de 6,74%. Como você acha que o mercado enxergou essa notícia?

As empresas com menor liquidez têm apanhado junto ao Ibovespa ou até mais do que o índice. Além disso, o contexto da Goad Road foi oportunístico. Tínhamos no radar que seria interessante ter uma produção nos Estados Unidos ou no Canadá, o que continua existindo dentro das nossas ambições.

Mas também víamos que o ideal era começar pequeno. Foi quando veio a Gold Road. Diferentemente dos nossos ativos, a Gold Road tinha um risco geológico maior, e isso é algo que a gente não gosta.

A Gold Road já operou no passado, mas a informação sobre geologia era muito fraca, nunca ninguém fez estudos com perfuração profissional. O risco era maior do que outros ativos que tínhamos. E sabíamos disso.

Pagamos US$ 1 pelas ações da empresa e assumimos a dívida. Tivemos que estender o período de carência de não pagamento dessa dívida e fizemos um compromisso de investir US$ 15 milhões para voltar a operar a mina. Era o que o credor (Pandion Mine Finance LP) queria. Quem sabe, dessa forma, ele poderia receber lá na frente.

Com esses US$ 15 milhões e a confirmação das premissas de ouro, ainda que com risco, o break even (quando os custos e as receitas se igualam) ocorreria em um ano, o que iria gerar caixa suficiente para pagar a dívida e investir para aumentar a produção.

O objetivo inicial era chegar a 25 mil onças ano, que era suficiente para pagar todas as contas, mas o nosso projeto era chegar a 50 mil onças em três anos. A planta tinha capacidade para isso. Desta forma poderíamos consolidar toda a região e ter uma base interessante de produção nos Estados Unidos.

Tivemos uma série de desafios no início, seja pela pandemia, mas também na operação, com alto turnouver (rotatividade). Até que chegamos ao terceiro trimestre deste ano. Todas as questões técnicas foram sanadas, mas a mina não tinha atingido a produção que queríamos. O teor de ouro estava na metade do imaginado.

Depois de um ano, além da mina não ter atingido o break even, começava o processo de amortização da dívida com o credor. Além disso, nenhuma informação foi favorável em relação às suspeitas de ouro para poder dobrar a produção para 50 mil onças. Não valia a pena continuar.

A Gold Road está sem investimentos no momento. Estamos em conversa com o credor da mina para que fique com as ações, que é o que ele tem como garantia de pagamento.

IN$ – A que você atribui a queda do papel da Aura no ano?

Ainda que tenha aumentado o número de pessoas físicas na bolsa, ainda temos um trabalho de conscientização e de levar o conhecimento de quem é a Aura. Também temos um trabalho de construir a credibilidade que já estamos construído, mas leva tempo. Temos que mostrar que estamos entregando resultado e comunicar isso de forma intensa.

O nosso volume médio diário foi se reduzindo na mesma proporção que o Ibovespa. Ao conversar com gestores de fundo vimos que alguns deles estavam vendendo as posições para poder ter o recurso para honrar o saque de investidores que estavam indo para a renda fixa, o que para gente não é o que deveria ocorrer para a Aura, porque não somos uma empresa ligada ao Brasil.

Além disso, desde agosto o preço de ouro subiu em relação ao real e a nossa produção, embora sem a Gold Road, e está dentro ou melhor do que o previsto, além do câmbio se desvalorizando no Brasil. Foi interessante ver as ações caindo e a nossa geração de caixa aumentando. Nosso sentimento é que saiu do fundamento do business.

O que a gente fez? Sinalizamos para o mercado que a empresa continuava forte. Anunciamos a antecipação do dividendo do ano que vem, que o BTG Pactual calculou com um dividend yield de 14% ao ano. É um sinal de que tem algo interessante na Aura. Além disso, anunciamos o programa recompra de ações.

Continuamos trabalhando em M&As, essa é uma agenda que a gente quer perseguir, mas com muita diligência e calma, não queremos fazer nada com pressa, nossos projetos já são muito bons. Almas tem uma taxa de retorno interno alavancada de 100% em dólar, enquanto em Matupa, sem descobrir novas reservas, a taxa de retorno alavancada é de 70%.

Além disso, hoje os nossos peers (empresas pares) são aquelas que produzem entre 200 mil e 400 mil onças por ano. Ao compará-las com a Aura, estamos 40% descontados, estamos mais barato do que produtoras como Argonaut e Equinox.

Queremos não só fechar os gaps (espaços) entre os peers atuais, mas queremos mudar de peers. Nós sabemos muito bem como chegar nas 400 mil onças, mas não sabemos como ultrapassar essa quantia. Mais do que isso vai ter que ser por meio de uma fusão ou aquisição.

IN$ – Em quais outras novidades a empresa tem focado?

Temos aprofundado a nossa agenda de ESG. Durante o ano, divulgamos o relatório de sustentabilidade, fizemos inventário de carbono e estimativa de consumo de água. Estamos trabalhando para estabelecer metas de redução de carbono e de água. No ano passado, a Arazanzu assumiu o compromisso com a Woman Mine para aderir ao protocolo com o obejtivo de atrair mulheres para o mercado trabalho. Durante este ano, Brasil e Honduras também assumiram.

Agora estabelecemos uma meta de entrevistar 40% de mulheres para as áreas administrativas. Queríamos ter uma meta para a parte operacional, mas o que a gente vê é que o setor ainda não é atraente para as mulheres.  

Por outro lado, temos várias iniciativas para qualificar mão de obra das comunidades locais para tornar a empresa atraente para as mulheres e, então, saber quais metas podemos atingir na área operacional.

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