Quatro anos depois de atrair seu primeiro sócio de peso, a construtech Brasil ao Cubo passou a jogar em outra liga. Antes associada à construção de casas de luxo, a empresa fundada em Santa Catarina passou a acessar nos últimos tempos um bolso ainda maior: o das grandes indústrias.
No fim de junho, a empresa entregou 23 prédios para o Projeto Cerrado, da Suzano, um grande complexo industrial de celulose localizado em Mato Grosso do Sul. A obra foi contratada em meados de 2020 por R$ 500 milhões, diz o CEO e fundador da Brasil ao Cubo, Ricardo Mateus.
Usa-se o termo “construtech” para definir a empresa porque ela é especializada em projetos modulares. Funciona assim: hoje, cerca de 90% das obras realizadas no país ainda se baseia no método convencional de construção – aquelas com grandes canteiros. Enquanto isso, a Brasil ao Cubo e suas concorrentes, como a SteelCorp, do empresário Roberto Justus, investem para que a maior parte do projeto seja feita em fábrica. De lá, os módulos seguem prontos até o local definido para a construção. E aí tudo é montado como se fosse um Lego gigante.
Em vez de cada obra operar como uma mini-fábrica, há uma grande fábrica produzindo para várias obras. Isso garante construções mais padronizadas, além de evitar atrasos por conta do clima, por exemplo.
O modelo tem atraído grandes clientes industriais. Além da Suzano, que é cliente da construtech em outra obra, de um terminal no porto de Santos, a Brasil ao Cubo tem projetos em andamento com Ambev, Vale e Inpasa, por exemplo.
“A Brasil ao Cubo nasceu como uma fábrica para construtoras. A diferença é que hoje somos uma construtora com uma fábrica”, diz Mateus. “Evoluímos pela necessidade de garantir um faturamento mais previsível e estável.” E essa evolução, prossegue o executivo, só se tornou possível a partir da entrada dos seus dois principais sócios: a siderúrgica Gerdau e a Dexco, dona da Deca.
“A chegada dos dois sócios nos permitiu buscar esse faturamento mais previsível, mas sem perder o olhar da inovação”, acrescenta. Em 2023, a empresa faturou cerca de R$ 500 milhões, com R$ 40 milhões de lucro operacional (Ebitda). Para este ano, ainda não divulgou suas projeções.
O equilíbrio do portfólio
Além da indústria, a construtora ainda mantém firme suas apostas na construção de casas de alto padrão e hotéis, que são um mercado cativo da empresa. Estão previstos investimentos de R$ 20 milhões nos próximos dois anos para dobrar a capacidade produtiva de casas de alto padrão, o que permitirá à Brasil ao Cubo entregar 250 delas por ano.
A alta renda, com demanda mais resiliente em cenários de juros altos, é vista também como uma forma de equilibrar o portfólio da Brasil ao Cubo. Mantendo esse nicho, a empresa não fica tão dependente da indústria em momentos mais duros para esse setor, como agora.
“É um desafio, principalmente por que algumas indústrias começaram a segurar seus investimentos. As empresas estão vendo como o mercado vai reagir antes de retomar”, diz o CEO da Brasil ao Cubo.
Empresa nasceu em Santa Catarina
Criada em 2016 no município de Tubarão (SC), a Brasil ao Cubo atingiu em 2019 o breakeven (momento em que a operação deixa de dar prejuízo, ainda que não tenha produzido um lucro relevante). No ano seguinte, recebeu um aporte de R$ 60 milhões da Gerdau, que hoje é acionista majoritário da construtech, com 44% do capital.
Já em 2022, foi a vez da Dexco, que pagou R$ 74 milhões por 13% da empresa – percentual que hoje está em 19%. Ricardo tem outros 19% e o restante está distribuído entre outros sócios minoritários.
Daniel Franco, diretor de TI e Growth da Dexco, responsável pelo venture capital da companhia, reconhece que “as construções tradicionais ainda ocuparão um espaço relevante nas próximas décadas”, mas que o ritmo de crescimento das construtechs deixou a Dexco segura de que o investimento na Brasil ao Cubo valia a pena.
“As duas frentes de negócios geram valor de forma distinta. A construtora é beneficiada nos momentos de expansão industrial, enquanto a fábrica de módulos é uma garantia de receita do setor residencial, que ainda tem uma demanda reprimida alta”, conclui o executivo.
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