O varejo alimentar brasileiro talvez não fosse como é hoje se não fosse Abílio Diniz. Foi no fim da década de 50 que ele juntamente com seu pai abriram um supermercado na capital paulista. Mal sabiam o que o futuro reservava.
Foi através dessa empreitada que nasceu o Grupo Pão de Açúcar – nome este originado da doceria do pai de Abílio que amava as curvas do cartão postal do Rio de Janeiro. Mas para além da rede de supermercados, Abílio inovou no setor, o que levou concorrentes a replicarem – até hoje – seu modelo de negócio.
Hipermercados, supermercados de bairro, farmácias dentro das lojas, além de fusões e aquisições foram algumas das empreitadas do empresário já considerado um dos homens mais ricos do país. Hoje sua fortuna é avaliada em US$ 2 bilhões, segundo o monitoramento em tempo real da Forbes.
Em uma nova era de Oxxo’s em cada esquina e de Amazon e Mercado Livre ganhando cada vez mais espaço, o desafio no varejo está intrínseco no cerne do negócio.
Foi em meados da década de 60 que Diniz abriu o segundo supermercado dando a largada para o que seria seu reinado via GPA. Com uma fome voraz, ele foi adquirindo rivais e abrindo novas vias de crescimento de forma diversificada. Bartira, rede Superbom, Peg-Pag, Mercantil, Mambo entre outras marcas são apenas algumas das adquiridas.
Em 1971 foi criada a rede Jumbo, o primeiro hipermercado do grupo. Em 1974, começaram as operações da rede Assaí (que significa “sol nascente”, em japonês). E em 1989 foi criada a rede Extra para competir entre os hipermercados
Nesse ínterim, o GPA já tinha 47 mil funcionários distribuídos em 626 supermercados pelo país. Mas como tudo na vida é feito de ciclos, Abílio teve de ser drástico para a sobrevivência da rede, realizando cortes em grande magnitude. Em 1990 (no governo Collor), 58% das lojas foram fechadas e 64% dos colaboradores demitidos. O slogan da empreitada foi: “corte, concentre e simplifique”.
O resultado foi que em 1991 a empresa registrou lucro, no entanto, um novo imbróglio começou, agora no seio familiar. Abílio recorreu à Justiça para comprar a parcela restante da companhia detida pelos irmãos. Três venderam suas participações, com Lucília Diniz mantendo seus 12%, e a mãe, 36,5%
A próxima tacada de Abílio seria o IPO da rede na B3 sob o ticker PCAR3. O ano? 1995. Com dinheiro em caixa, ele foi às compras de empresas em dificuldades.
Depois disso, o bilionário conseguiu chegar no grupo francês Casino (se fala Cassinô).
Foi antes de virar o milênio que o grupo fez o maior investimento estrangeiro em uma varejista made in Brazil. Obra de Abílio e de seu bom círculo social, já que em um jantar em Paris o executivo foi apresentado para Jean-Charles Naouri, CEO do Casino. Isso resultou em um investimento de US$ 1 bilhão em uma participação de 24,5% do GPA.
Passados cinco anos, o Casino novamente aportou US$ 1 bi na varejista brasileira. E foi aí que o caldo azedou em um futuro que agora é passado.
O novo aporte consistia em uma tomada de controle em 2012, o que um ano antes de acontecer, Abílio tentou um turnaround com o apoio do BTG Pactual e promessa de aporte do BNDES para uma fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour Brasil. A transação criaria um gigante brasileiro do setor de distribuição. Mas o conselho do Casino rejeitou, já que a fusão tinha um objetivo óbvio: impedir que os franceses assumissem o controle do GPA.
O imbróglio levou certo tempo e Abílio recebeu uma alta quantia para abandonar o barco de vez, sem qualquer restrição para novas empreitadas. Foi aí que a BRF entrou na vida do empresário – da mesma forma que saiu anos depois – dando lugar ao Carrefour. De novo estava Abílio navegando no varejo de alimentos.
Agora, a Península Investimentos, que faz a gestão do patrimônio e das participações do empreendedor que faleceu no domingo (18), confirmou seu compromisso de longo prazo com o Carrefour.
Já o Cassino vem se desfazendo de ativos para reforço de liquidez diante de uma dívida bilionária – em euros. GPA e Assaí estão entre as “desinvestidas”. O varejo tem seus desafios.
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