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Negócios

Dobra o número de distribuidoras de energia da B3 com alta alavancagem

Mas perspectiva é de desalavancagem e estabilidade de dívidas; Light, porém, é vista de forma diferente.

Em meio à crise financeira da Light (LIGHT3) que vem preocupando investidores, o número de empresas listadas na B3 do segmento de distribuição do setor de energia elétrica com alavancagem elevada dobrou no acumulado de 2022 em relação a 2020, início da pandemia de covid-19. Segundo analistas, o cenário macroeconômico desafiador, fusões e aquisições e fraca geração de caixa explicam o movimento. Eles apontam, no entanto, que a perspectiva é de desalavancagem e estabilidade de dívidas.

Segundo levantamento feito pela TC/Economatica a pedido do InvestNews, das nove empresas do setor elétrico listadas na bolsa de valores brasileiras que apresentam a distribuição de energia como um de seus negócios, quatro delas tinham alavancagem considerada elevada em 2022, ou seja, quando o indicador de endividamento dívida líquida/Ebtida está acima de três vezes. No acumulado de 2020, eram duas. Confira:

Apesar de Light estar entre as empresas do segmento de distribuição de energia elétrica listadas na B3, os dados da companhia não foram levados em consideração no levantamento pelo fato de a empresa ter reportado Ebtida negativo no acumulado de 2022, o que distorce o indicador de alavancagem da Light, segundo a TC/Economatica. 

Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, avalia que, de modo geral, o principal motivo para o impulso nos índices de alavancagem do setor foi o ambiente macroeconômico desafiador, geração de caixa mais fraco das companhias e maiores investimentos realizados por empresas do segmento.

Mas, para Luan Alves, analista-chefe da VG Research, a perspectiva é de desalavancagem dessas companhias, pois as grandes empresas estão passando pelo seu pico de investimento nos anos de 2023 e 2024 e, com a queda do juros futuros, a situação financeira das empresas ficará mais controlada nos próximos anos.

Impacto no endividamento

Novaes destaca três fatores que tiveram algum impacto sobre o endividamento do segmento de distribuição de energia elétrica nos últimos anos:

  • Preços de energia em baixa devido a alta oferta, afetando negativamente a geração de caixa das empresas;
  • Escalada dos juros, trazendo um efeito negativo sobre endividamento das empresas pelo custo de crédito maior e sobre a geração de caixa, pelos maiores níveis de inadimplência e perdas no sistema de distribuição; 
  • Investimentos realizados pelas companhias.

Gabriel Gracia, analista da Guide Investimentos, lembra que boa parte dos projetos das empresas do setor de energia são financiados com capital de terceiros, ou seja, por empréstimos e emissões de títulos. Assim, segundo Garcia, mostra-se que o múltiplo de endividamento do setor é normalmente elevado e se observa o crescimento das dívidas nas empresas que mais investiram nos últimos tempos. 

Riscos do aumento de endividamento

Torres de transmissão de energia elétrica.
Torres de transmissão de energia elétrica. Crédito: Sebaonflames/Pixabay

Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama Investimentos, explica que, conforme se tem oportunidade de consolidação do setor, as melhores operadoras vão se beneficiar por meio de dívida para fazer compras. “Vemos esse movimento já esgotado, mas ainda com alguma possibilidade de continuidade no futuro próximo”, estima.

Para Novaes, dentre os principais riscos quanto ao endividamento das empresas do setor, estão:

  • Deterioração na concessão do crédito, que possui um efeito negativo sobre o custo da dívida; 
  • Efeito da taxa de juros sobre as dívidas de longo prazo (duration) que algumas empresas do setor possuem; 
  • Risco de execução dos diferentes projetos, seja de reestruturação ou de expansão; 
  • Leilões a serem realizados durante esse ano, tendo em vista que há uma sinalização de novas concessões e as empresas podem se alavancar ainda mais para vencerem esses leilões.

“Nesse cenário de alta oferta de energia, as empresas devem buscar se tornarem mais eficientes, a fim de impulsionar a geração de caixa pelo lado dos custos. Não vemos o cenário como crítico, exceto a Light, mas observamos que os resultados devem seguir sendo negativamente afetados pelo alto custo de crédito”.

Luis Novaes, analista da Terra Investimentos

Alves alerta que o risco do endividamento elevado é prejudicar as métricas operacionais, além de piorar o retorno para seus acionistas.

Por que Light se diferencia dos seus pares?

Ao final de 2022, a dívida líquida consolidada da Light era de R$ 9 bilhões, sendo que mais de R$ 3 bilhões tem vencimento previsto para 2023 e 2024.

Entre os motivos para a piora recente de sua situação financeira, a elétrica citou o “agravamento do notório e peculiar contexto de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro”, situação que a impede de atuar em alguns locais de sua área de concessão, levando a perdas de receita com furtos de energia, por exemplo.

Vista do Rio de Janeiro (Foto:  henriqueesteves1 / Pixabay)
Vista do Rio de Janeiro (Foto: henriqueesteves1 / Pixabay)

A Light encerrou 2022 com um prejuízo de R$ 5,6 bilhões, devido a efeitos não recorrentes contabilizados no último trimestre do ano passado, que impactaram de forma negativa o resultado. De acordo com a TC/Economatica, foi o pior resultado de todas as companhias listadas na bolsa de valores brasileira no período. Em 2021, a distribuidora havia registrado lucro de R$ 398 milhões.

Em meio a este cenário, a 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro concedeu no dia 12 de abril medida cautelar pedida pela Light, que permite a suspensão temporária de cerca de R$ 11,1 bilhões em obrigações financeiras da companhia de energia. Segundo a Light, a liminar é válida por 30 dias, prorrogáveis por igual período.

No entanto, mesmo antes da medida, a empresa vem enfrentando uma série de desafios. Novaes pontua que, nos últimos 10 anos, a Light sofreu com:

  • Impacto negativo da crise hídrica de 2013 a 2016;
  • Disputas com o governo do seu estado de atuação;
  • Queda nos preços de energia em período recente;
  • Deterioração do poder financeiro da população.

“Esses fatores foram responsáveis pelo aumento significativo no endividamento e diminuição na geração de caixa, o que resultou em uma capacidade cada vez menor de honrar seus compromissos e percepção maior de risco pelos credores”, diz o analista da Terra Investimentos.

Alves acrescenta ainda que a Light tem um problema estrutural, pois atua em uma das áreas de concessões mais complexas do país, com mais de 50% da energia fornecida hoje sendo furtada, e nem todo esse valor é remunerado em sua tarifa. Assim, de acordo com o analista-chefe da VG Research, na prática, parte dos furtos de energia são pagos pelo consumidor (via tarifa) e outra parte é pago pela empresa (base de acionistas). 

Soares afirma que não se trata de um problema atual da empresa, mas vem ficando mais grave ao longo dos anos, sendo necessário lidar do ponto de vista regulatório.

“O poder concedente tem que endereçar de alguma forma, pois a insegurança pública impossibilita a operação de uma forma adequada na área de concessão da Light. Isso torna a empresa diferente, conforme se tem um desempenho financeiro decepcionante. Precisa plugar o gap no fluxo de caixa com endividamento e, por isso, o endividamento dela cresceu”, explica o chefe de análise da Órama.

Nesse cenário, Novaes destaca que os problemas que a Light enfrentou nos últimos anos não foram vistos em outras empresas do setor. Assim, segundo o analista da Terra Investimentos, por mais que o cenário seja desafiador para as corporações de modo geral, os efeitos foram significativamente menores as concorrentes.

Ações do setor de energia: vale a pena investir?

Bolsa de Valores B3 28/10/2021 REUTERS/Amanda Perobelli

Embora seja apontado por analistas como um setor defensivo para se ter em carteira, por, entre outros fatores, fornecer serviço essencial, Novaes lembra que, dentro do segmento, haverá empresas com maior e menor risco e perspectivas diferentes. 

“A escolha do investidor deve levar em conta também o horizonte de investimento. Algumas empresas no curto prazo poderão sofrer uma pressão maior em relação ao cenário macroeconômico, mas o setor mantém suas características defensivas para o longo prazo”, orienta o analista.

Garcia avalia que o cenário permanece favorável para as empresas do setor elétrico, principalmente para as de distribuição. 

“Com os volumes de reserva elevados, provavelmente, o valor da energia continuará caindo em relação aos últimos anos. O principal ponto de atenção é a entrada em leilões com rentabilidade baixa, visto que a concorrência está elevada”.

GABRIEL GARCIA, ANALISTA DA GUIDE INVESTIMENTOS.

Phil Soares, da Órama, também considera que é um setor bastante defensivo, mas que está passando por um momento um pouco ruim para o segmento de geração, especificamente, com o índice preço/lucro (P/L) nas mínimas, em meio à dinâmica econômica do Brasil mais fria, que vem trazendo falta de demanda.

“Gostamos do segmento de distribuição, mas tem menos potencial de valorização, é mais para uma carteira bem mais conservadora. Equatorial (EQTL3) e Energisa (ENGI11) são nossos dois players favoritos, são os dois preponderantes no país, mas, dentro do setor como um todo, vemos no momento mais upside para o segmento de geração”, destaca Soares.

Luan Alves, da VG Research,diz gostar de algumas alocações estruturais no setor e que a principal expectativa favorável é pela ação CPFL Energia (CPFEE3), pelo fato de a empresa entregar um bom mix de rentabilidade para o seu acionista, com crescimento orgânico e pagamento de dividendos.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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