As ações do Magazine Luiza (MGLU3) eram negociadas em alta superior a 1% na B3 na tarde desta segunda-feira (29), liderando o ranking de destaques positivos, em reação ao anúncio feito na véspera, de um aumento de capital privado de R$ 1,25 bilhão via oferta de novas ações. O desempenho ia na contramão do Ibovespa (IBOV), indicador de referência da bolsa, que opera em dia negativo.
O principal ponto da operação destacado por especialistas é o fato de o aumento de capital contar com a participação dos acionistas controladores. Do total ofertado, a família Trajano, representada pela fundadora e presidente do conselho, Luiza Helena Trajano, e pelo filho, o CEO Frederico Trajano, se compromete em colocar até R$ 1 bilhão na companhia.
“A participação dos controladores com uma parte expressiva do capital que será injetado mostra um comprometimento e confiança na retomada da empresa.”
Nicholas Kawasaki, estrategista-chefe da Nova Futura Private.
O BTG Pactual ficou responsável por garantir os R$ 250 milhões restantes. Conforme comunicado, na hipótese de nenhum minoritário acompanhar a oferta, a participação dos Trajano na companhia deve subir de 56,4% para 58,4%.
Assim, o potencial de diluição dos acionistas é de cerca de 10%. O preço da emissão é de R$ 1,95 por ação – o que representa um desconto de aproximadamente 5% em relação à cotação na última sexta-feira (26).
Mais investimento, menos dívida
Os recursos captados serão destinados à aceleração dos investimentos em tecnologia, em especial na evolução da plataforma de marketplace e dos serviços de nuvem. Vale lembrar que no fim do ano passado, a varejista lançou o Magalu Cloud, inspirando-se na investida do bilionário Jeff Bezos, que transformou a Amazon (AMZO34) na gigante atual.
“Portanto, a mensagem é de que o aumento de capital deve ser visto como ‘combustível extra’ e não como uma urgência de caixa”, afirma o analista do Citi, João Pedro Soares, em relatório enviado a clientes. Com isso, a capitalização deve reduzir os ruídos sobre endividamento no curto prazo, avalia Ygor Araújo, da Genial Investimentos.
Ainda assim, a varejista visa melhorar o fluxo de caixa, buscando reduzir a alavancagem financeira. No dado mais recente, referente ao terceiro trimestre de 2023, o Magalu tinha R$ 8 bilhões em caixa, o que cobre basicamente a dívida total da companhia, estimada em R$ 7,4 bilhões, sendo que R$ 3 bilhões são de curto prazo, com vencimento até abril.
Para o analista da Ajax Asset, Rafael Passos, a otimização da estrutura de capital da companhia com a subscrição de ações retira parte da pressão por resultados. Além disso, ele observa que a rentabilidade da varejista deve melhorar à medida que a taxa Selic deve continuar caindo neste ano, em meio à concorrência acirrada.
“Em suma, mesmo que a posição atual do caixa seja suficiente para o pagamento das dívidas de curto prazo, a oferta mostra confiança dos controladores e acelera investimentos em tecnologia.”
Rafael Passos, analista da Ajax Asset, em comentário.
Historicamente, o ciclo de queda dos juros básicos beneficia o setor de varejo. Cálculos dão conta que cada 1% de corte aumenta o lucro antes de impostos (Ebitda) do Magalu em R$ 150 milhões. Atualmente, a Selic está em 11,75% e o consenso de mercado, segundo o relatório Focus do Banco Central, é de que encerrará o ano de 2024 em 9%.
‘Selo Trajano‘
Já o ponto negativo é que a operação ocorre em um momento incipiente de recuperação das ações da companhia, após forte queda nos preços. Para se ter uma ideia, os papéis do Magazine Luiza atingiram o nível mais baixo da história em novembro. Desde então, a valorização foi de pouco mais de 50%, mas o preço ainda vale a metade de um ano atrás.
Por isso, Lucas Rietjens, analista da Guide Investimentos, mantém uma visão cética em relação a MGLU3, apesar de ver como positiva a participação dos controladores no aumento de capital e a de reconhecer a necessidade de a companhia readequar a estrutura de capital.
“Seguimos com Mercado Livre (MELI34) como top pick em e-commerce, uma vez que a companhia vem ganhando fatia no mercado e é líder no segmento no Brasil”, diz Rietjens, em relatório.
Além disso, o Safra chama a atenção para o fato de que talvez só o aumento de capital não seja suficiente para reduzir as despesas financeiras e melhorar a estrutura do caixa, diante da competição com gigantes estrangeiras. “Apesar da operação ser positiva, é preciso haver mais melhorias nas margens operacionais”, destaca o banco, em comentário.
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