Este problema tem resultado em elevadas perdas financeiras às empresas, relataram executivos e fontes à Reuters.
Ainda inexpressiva no país, a atividade de mineração de bitcoin, com máquinas que resolvem problemas matemáticos complexos para validar transações de criptomoedas, interessa às geradoras por ser intensiva em energia elétrica e também ter um perfil de demanda flexível e modulável.
Com isso, as mineradoras de bitcoin conseguiriam operar com base na energia que está excedente, ajudando a mitigar os cortes de geração impostos por falta de demanda ou por gargalos na rede elétrica.
“Trazendo essa carga para junto da geração, em tese, você minimiza as perdas pelos cortes de geração, que estão chegando em níveis estratosféricos em alguns casos”, disse José Roberto Oliva, advogado do escritório Pinheiro Neto que acompanha o tema.
Entre as geradoras de energia que avaliam potenciais projetos do tipo, estão a Casa dos Ventos, que tem como sócia a francesa TotalEnergies, Atlas Renewable Energy, da gestora GIP, e Renova Energia, confirmaram à Reuters os executivos dessas empresas.
Mais interessados no bitcoin
Outras elétricas interessadas e com conversas iniciais em andamento são Engie Brasil e Auren Energia, segundo pessoas que falaram sob condição de anonimato. Procuradas, as companhias disseram que não iriam comentar.
Os negócios em estudo diferem em formato e contrapartes, podendo envolver apenas venda de energia para mineradoras de bitcoin, projetos com operadores de data centers que têm essas empresas como clientes, ou então conversas diretamente com fabricantes de equipamentos de mineração de bitcoin, segundo as fontes ouvidas. O gerador também poderia ser sócio no empreendimento.
Cortes no sistema
O “curtailment“, termo técnico para os cortes de geração, é um dos principais problemas do setor de energias renováveis no Brasil.
As restrições à produção das usinas eólicas e solares superam 40% da produção potencial em alguns parques, enquanto os prejuízos financeiros cresceram de forma acelerada. Somente para as eólicas, já são R$ 4 bilhões em perdas de meados de 2023 até julho deste ano, segundo a ABEEólica.
Na Renova Energia, a ideia é aproveitar a infraestrutura ociosa no complexo eólico Alto Sertão III para receber mais demanda local, com a instalação de data centers convencionais ou mesmo de mineração de bitcoin, disse o CEO, Sergio Brasil.
Mas especialistas e executivos observam que alguns pontos podem ser impeditivos para que os projetos saiam do papel com facilidade, como o alto custo de importação de equipamentos e a dificuldade de se prever o nível dos cortes de geração no futuro.
“Para esse tipo de investimento, você precisa ter uma certa previsibilidade de quanto efetivamente vai ter de energia disponível. Acho que é uma solução criativa. Mas é um movimento de altíssimo risco e que eu não acredito que vai acontecer em escala suficiente para mudar o cenário que a gente tem”, afirmou o CEO da CPFL Energia, Gustavo Estrella.