Olhar para a produção de embalagens é uma ótima maneira de entender como anda a economia – em especial, a indústria. Afinal, praticamente tudo o que a indústria vende precisa de algum tipo de caixa. E, nos últimos meses, as encomendas de embalagens cresceram com força, acompanhando a atividade industrial aquecida. Cenário super oportuno para os produtores de caixas de papelão repassarem seus custos para os preços, represados há mais de um ano. E, dessa forma, melhorarem seus resultados.
A Irani, uma das cinco maiores fabricantes de embalagens de papelão do país, diz que foi “pega de surpresa” por ess retomada do mercado. “O primeiro semestre costuma ser um pouco mais fraco, mas estamos operando em capacidade máxima desde o início do ano”, diz Lindomar Lima de Souza, diretor de negócios de embalagem da empresa, unidade responsável por 60% do faturamento da companhia. “Por mais que a demanda fosse crescendo, parecia ser algo apenas pontual. Agora estamos em um segundo semestre que naturalmente é promissor.”
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A procura das indústrias levou o setor de embalagens a melhorar o cenário para este ano: a Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel), espera que as expedições cresçam 5,2% no ano, muito acima do avanço de 1% visto em 2023. A projeção anterior para 2024 era de 4,8% de alta.
Em julho deste ano, o segmento já alcançou a maior taxa de crescimento mensal já medido pela associação, com crescimento de 8% e chegando a 371,4 mil toneladas expedidas.
Com apenas 2% de ociosidade das máquinas – o que é apenas uma margem técnica para evitar problemas – o diretor da Irani diz que a empresa está priorizando os atuais clientes em vez de acelerar a busca por novos. Para dar conta de todos, a companhia passou a produzir as embalagens em cotas e ter “prazos mais elásticos” para que cada cliente consiga ter as caixas a tempo. A Irani tem a maior parte de suas vendas no setor alimentício, atendendo os principais frigoríficos do país.
Atualmente, o parque industrial da Irani, composto por quatro plantas, é capaz de produzir até 320 toneladas de papelão ondulado por dia (180 mil toneladas por ano). A capacidade produtiva de embalagens foi ampliada em mais 50%, com a empresa investindo R$ 131,2 milhões para aumentar sua planta de Santa Catarina, em um projeto chamado Gaia II, que foi iniciado em 2020 e concluído em 2023. “Se não tivéssemos investido seria pior neste momento. Não teríamos como atender todo mundo”, diz Souza.
O executivo diz que o desafio da Irani e do setor no geral – que inclui empresas como Klabin, Suzano e Adami – é melhorar a margem por meio do reajuste de preços, que, no caso da Irani, estariam com defasados em quase 18 meses, levando-se em conta a variação do IPCA, o índice oficial de inflação.
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O cenário, pressionado por um aumento de quase 30% da matéria-prima, fez a margem líquida da empresa cair mais de 20 pontos percentuais no primeiro semestre, para 9,7%. Isso pressionou o lucro líquido da companhia, que recuou para R$ 152,4 milhões, uma queda de 69,1%. “Até optamos por sacrificar volume [no primeiro semestre] em prol da rentabilidade.”
Criada em 1941 no Rio Grande do Sul, a Irani é controlada desde 1994 pela família Druck, fundadora da Habitasul, a empresa responsável pela criação de Jurerê Internacional, em Santa Catarina. A Irani está na bolsa desde a década de 1970, mas passou por uma relistagem (operação para emitir novas ações, captar mais dinheiro e e dar liquidez ao papel) em julho de 2020, quando levantou R$ 860 milhões para tocar o projeto Gaia.
Hoje, o negócio é tocado por Péricles Pereira Druck, filho do fundador, que preside o conselho de administração da Irani.
Indústria quente
A indústria está vivendo seu melhor momento desde 2021 e isso se refletiu em toda cadeia. Outro setor que dá indicações de aquecimento econômico no país é o de cimento – matéria-prima básica para a indústria de construção.
Segundo o Sindicato da Indústria do Cimento (Snic), o setor atingiu em agosto o maior volume de vendas desde outubro de 2014: no período, foram comercializadas 6,2 milhões de toneladas, crescimento de 3,3% em relação a agosto do ano passado. Esse desempenho está alinhado com o avanço do setor industrial do país, que foi o motor do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano. Enquanto o PIB cresceu 1,4% no período, acima do esperado pelos economistas, a indústria avançou 1,8%.
Stéfano Pacini, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra que o ciclo positivo da indústria começou no terceiro trimestre do ano passado e, desde então, o setor opera em um de seus maiores patamares de utilização de capacidade desde maio de 2011.
Os estoques mostram que a atividade começa a chegar em nível “da mão para boca”. O indicador da FGV para estoque está em 96,7 pontos, de uma escala em que vai até 200 e em que 100 é o número considerado “saudável”.
Pacini afirma que, diferentemente de três anos atrás, o aquecimento do setor não está ocorrendo por restrição de matéria-prima e consumo concentrado, como ocorreu nos tempos de pandemia. “É difícil dizer que a indústria voltou a ser o que era, mas há sim um enorme otimismo dos empresários nos últimos meses com tendência de alta”, diz o pesquisador.
Por outro lado, a indústria aquecida ajuda a acelerar a inflação e passa a ser um sinal de alerta para o setor, lembra Stéfano Pacini, embora essa preocupação ainda não possa ser observada nos índices de confiança do setor medidos pela FGV. O ritmo alto da economia foi um dos motivos que levou o Banco Central a retomar o ciclo de aumento de juros, e isso pode ser um detrator para a indústria nos próximos meses.
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