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Ação da Oi: OIBR3 chega a oscilar 50% em dia de aprovação no Cade
Papel chegou a cair mais de 25% mais cedo, quando relator votou pela reprovação da venda da Oi Móvel.
A ação da Oi (OIBR3) tem dia de forte volatilidade nesta quarta-feira (9), em dia de julgamento da operação de compra da Oi Móvel pelas empresas TIM (TIMS3), Vivo (Telefônica) (VIVT3) e Claro. Entre a mínima e a máxima do dia, o papel oscilou 50%.
O negócio foi aprovado nesta tarde pelo Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Ecônomica (Cade), em decisão dividida que contou com o chamado “voto de qualidade” do presidente da casa para ser decidida.
O julgamento terminou empatado em 3 a 3 e o presidente do Cade, Alexandre Cordeiro Macedo, acabou votando mais uma vez a favor da operação, conforme sessão transmitida pela internet.
Um dia antes de Cade iniciar o julgamento, as operadoras Algar Telecom e Sercomtel enviaram novas petições ao órgão contra a aprovação do negócio, sem contrapartidas mais duras. As manifestações foram direcionadas ao relator, Luis Braido.
Na segunda-feira, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Cade que reprovasse a compra da operação devido às “violações à concorrência”. O parecer do MPF não é vinculativo, ou seja, os conselheiros não eram obrigados a seguir o entendimento da Procuradoria.
Nesta quarta, os seis conselheiros do Tribunal do Cade aprovaram por unanimidade o requerimento do MPF pela abertura de inquérito administrativo, para investigar a conduta das empresas numa eventual promoção de “prática anticompetitiva” por ocasião do anúncio de acordo para a divisão dos ativos da Oi.
Riscos x oportunidade em OIBR3
Pela manhã, Braido votou pela reprovação do negócio, em decisão seguida de uma forte queda de OIBR3 na bolsa de valores. Na mínima do dia, o papel OIBR3 chegou a R$ 0,77, em baixa de quase 26% em relação ao fechamento anterior. Após a notícia da aprovação, no entanto, o papel voltou a subir e atingiu R$ 1,16, o que representa alta de 11% sobre o fechamento anterior. Mais tarde, no entanto, voltou a operar em queda.
Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, afirma que “essa grande volatilidade se torna um perigo para quem opera day trade“, mas também é “uma oportunidade”.
“Se você tem uma volatilidade somada com bastante liquidez, você consegue fazer operações no curtíssimo prazo. São operações de grande risco, pois são muito especulativas. É natural que um ativo como a Oi, que está em recuperação judicial, tenha toda essa volatilidade. Até mais porque a Oi, neste momento, vale R$ 1″, explica o especialista.
Gonçalvez aponta 3 riscos de tentar pegar um movimento como o que foi feito pelo papel OIBR3 no day trade:
- Risco da volatilidade gerada pelo ativo;
- Risco de utilizar alavancagem – margens disponibilizadas pela corretora com a garantia que se tem em conta;
- Risco de ficar preso comprado em alguma região ruim.
Sobre a questão da garantia, Gonçalvez explica que “uma corretora de valores libera para um cliente, conforme a garantia que ele tem disponível na sua conta, uma certa margem para ele operar o ativo”.
“Ou seja, se você tem X, você pode operar e trabalhar com 100X, por exemplo, ou 10X. Só que a garantia será sempre o seu dinheiro. Se você perde aquele X numa determinada operação, a corretora vai lá e zera a sua operação, mesmo que você esteja numa posição com 10X”, exemplifica.
“O caso da Oi, por exemplo, com essa grande especulação gerada no dia de hoje, trouxe para o ativo muitos day traders. E eles geralmente são profissionais de mercado que trabalham com alavancagem. Então, um grande risco é, sem dúvida, um day trader utilizar uma alavancagem, ficar preso no ativo – ou seja, não ter liquidez suficiente para que ele consiga sair da operação no preço que ele quer -, e ter que zerar no preço que estiver”, complementa Gonçalvez.
Ângela Tosatto, analista de investimentos da NuInvest, explica que, “quando o papel oscila tanto assim no intra day (o que não é um movimento normal), pode acontecer do investidor entrar comprando na emoção por achar que já caiu demais, mas o ativo segue caindo”.
“Às vezes, o investidor não tem saldo suficiente na corretora (por estar alavancado) e é ‘estopado’ pela mesa. Além do prejuízo financeiro, ele ainda paga a corretagem”, afirma.
A especialista comenta que um movimento similar aconteceu com o papel BBDC4 do Bradesco nesta quarta. “Abriu com quase 6% de queda, ensaiou um movimento de alta de quase 2% após a abertura, mas até agora já caiu quase 9%”, afirmou no final do pregão.
“Essas operações são muito perigosas, pois os investidores agem na emoção e entram alavancados na convicção que estão fazendo a leitura certa”, diz Tosatto.
Flávio Conde, head de renda variável da Levante, afirma que os 3 posicionamentos de conselheiros do Cade contrários à aprovação já eram esperados pelo mercado, em meio às notícias que vinham sendo publicadas pela empresa. No entanto, a sequência dos votos “assustou” investidores mais cedo, causando a volatilidade vista da ação de Oi.
“Na verdade, já estava escrito em sites e jornais pela manhã que ia ter 3 votos contra, 3 a favor e o presidente ia decidir. Só que, quando o mercado viu os 3 primeiros votos negativos, ficou inseguro. O negócio foi a ordem”, diz ele, acrescentando em seguida que “acabou dando o que o mercado esperava – e desejava”.
Situação da Oi
Conde afirma que a aprovação da venda da Oi Móvel pelo Cade era mais do que esperada pelo mercado, e sim “desejada”. “Era desejada porque vai tirar a Oi de uma situação financeira muito complicada. Porque a empresa não tinha como pagar R$ 30 bilhões em dívidas. Porque ela gera R$ 5 bilhões de caixa. Agora, vai entrar R$ 16,5 bilhões no caixa dela. A dívida vai reduzir para R$ 13 bilhões. Com R$ 5 bilhões de caixa, ok, dá para viver”, explica.
O analista Fabiano Vaz, da Nord Research, explica que, se houvesse uma negativa do Cade, a situação ficaria “bem difícil para a Oi”. “Em teoria, ela teria que voltar atrás e abrir de novo a venda da Oi Móvel, o que demoraria muito tempo. E tempo para a Oi é muito dinheiro. Então, a perspectiva ficaria bem ruim.”
A ação da Oi vale a pena?
Vaz comenta que a ação da Oi pode ser um investimento “interessante” para o longo prazo, mas alerta que “é uma tese com bastante risco” e recomenda que o investidor faça uma “alocação menor no portfólio” – ou seja, destine uma pequena parte de seus recursos para esse investimento.
“A gente tem uma recomendação de Oi aberta, de compra. É uma tese de risco. Tem vários pontos que a gente precisa acompanhar com bastante atenção”, afirma o analista.
Após a aprovação da venda da Oi Móvel, a expectativa para a empresa é de que, “ela conseguindo estruturar as dívidas, (possa) colocar uma pequena parte no caixa para continuar investindo”, e então “ela já fica muito próxima de sair da recuperação judicial“, comenta Vaz.
“E aí, a partir disso, provavelmente em 2023 ela já muda totalmente de cara. Já vira uma outra empresa, muito mais enxuta, sem a Oi Móvel, com os custos bem menores, focando totalmente na fibra”, comenta o analista da Nord.
Mas o analista diz que, por mesmo que a venda da Oi Móvel seja importante, o investidor deve lembrar que a empresa ainda “tem muitos desafios”. “Ela ainda vai ter um caminho bem longo para voltar a crescer e, se ela continuar com esse bom trabalho, eu acredito que é uma tese bem interessante para o longo prazo, sim. Mas precisa ter paciência. Muita paciência”, diz Vaz.
Histórico e argumentos
A Oi está em recuperação judicial desde 2016 e o juízo deu prazo até o fim de março para concluir o processo. Três conselheiros do Cade, incluindo o relator Luis Henrique Braido, entenderam que as partes não comprovaram riscos de danos ao mercado se a Oi vier a falir diante de uma rejeição da venda dos ativos móveis, uma das principais partes do plano de recuperação da empresa.
Mas prevaleceu a tese de que o colapso da antiga “campeã nacional”, criada nos governos petistas e fornecedora de serviços de telecomunicação para múltiplas instâncias da União, poderia prejudicar o mercado e reforçar a dominância das outras três operadoras. O entendimento ocorreu apesar da possibilidade de que o espectro utilizado pela Oi Móvel poder ser devolvido para a realização de um leilão com interessados.
Telefônica Brasil, Claro e TIM, esta uma das principais beneficiárias da transação ao obter a maior parte do espectro da Oi Móvel, ganharam direito aos ativos da empresa no final de 2020, com uma oferta conjunta de R$ 16,5 bilhões, em um leilão que contou apenas com a oferta do grupo.
Em meados do mesmo ano, a Highline do Brasil, empresa de soluções de infraestrutura para a indústria de telecomunicações, chegou a fazer uma oferta bilionária pela Oi Móvel, mas a companhia rejeitou a proposta que poderia manter a existência da operadora.
Em seu voto, Braido considerou incompreensível o fato da Oi ter rejeitado a oferta da Highline para optar pelo risco de se sujeitar a passar pela complexidade de análise da oferta das três maiores rivais para divisão de ativos por um valor que embutia, segundo ele, um “prêmio de apenas 10%” em relação à proposta anterior.
Na época, em meados de 2020, a Oi não divulgou o valor da oferta da Highline, mas disse que superava R$ 15 bilhões.
Na avaliação dos conselheiros Paula Azevedo e Sérgio Ravagnani, que acompanharam o voto do relator, remédios que não preveem a venda de espectro são “cosméticas” e não reduzem as preocupações sobre impactos da operação sobre a concorrência.
Votaram a favor os conselheiros Lenisa Prado, Luiz Hoffmann e o próprio presidente do Cade, que entenderam que os remédios para reduzir receio sobre competição no setor são suficientes. As medidas incluem compartilhamento de espectro com interessados, apresentação de oferta pública de venda de estações rádio base (ERB) e oferta de produtos de roaming.
“Os remédios em negociação aprofundam as condições que facilitam a atuação de terceiros interessados no mercado”, disse a conselheira Prado, citando o compromisso de venda de praticamente metade das ERBs adquiridas da Oi.
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou a transação no fim de janeiro. Mas a Copel Telecomunicações, do empresário Nelson Tanure, que já participou do conselho de administração da Oi e foi contrário ao plano definido para a recuperação judicial da empresa, defendeu que a decisão da agência seja anulada, alegando que o conselheiro Emmanoel Campelo não poderia ter presidido interinamente as reuniões que deram anuência prévia para o negócio.
(* com informações da Reuters)
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