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Negócios

Lady Driver quer ser a nova van escolar e ter mulheres entregadoras na Rappi

Com o objetivo de gerar renda para mulheres e três projetos ambiciosos, a companhia espera faturar R$ 89 milhões até 2024.

Com 3 anos e meio de operação e mais de 58 mil motoristas cadastradas, o aplicativo de transporte Lady Driver, voltado exclusivamente para mulheres, parece estar convicto de que é na crise que estão as oportunidades. E por isso, aproveitando as mudanças que a pandemia provoca nas empresas agora o Lady Driver vai apostar também em novos nichos de mercado: ter mulheres entregadoras na Rappi, por meio de uma parceria fechada recentemente com a empresa. E focar no transporte individual de crianças na volta às aulas, se tornando assim a nova van escolar brasileira, mas com uma dose extra de segurança.

Com operação apenas na cidade de São Paulo, onde já possui 1,3 milhão de passageiras cadastradas no aplicativo, o Lady Driver agora tem como meta expandir para 50 cidades nos próximos 2 anos. Por este motivo, lançou recentemente uma campanha de equity crowdfunding para arrecadar R$ 1,4 milhão.

Por meio dessa prática, uma pessoa pode investir em uma startup. É uma espécie de empréstimo que o investidor faz para a empresa acreditando em sua expansão ou para ajudar na implementação de um plano de negócios.

Com isso, o investidor recebe em troca uma pequena participação na startup (cota) que lhe garante fazer parte do sucesso futuro da companhia. Após o contrato do financiamento vencer, o investidor pode cobrar seu dinheiro com juros acrescidos ou transformar este capital em participação efetiva da companhia.

Segundo dados da companhia, em 2019 o faturamento era de quase R$ 10 milhões. Com a pandemia, a fundadora do Lady Driver, Gabryella Corrêa afirma que no começo do isolamento, as receitas caíram quase 80%. Até o momento, de acordo com analise financeira do aplicativo, o faturamento em 2020 é cerca de R$ 660 mil reais. Mas a empresa acredita em uma recuperação rápida. Em 2021, por exemplo, o faturamento esperado é de R$ 4,28 milhões e em 2022, a projeção é de R$ 14,31 milhões.

Esta não é primeira campanha de captação de recursos da companhia. Até o momento, desde sua fundação em 2017, o Lady Driver já captou R$ 7,5 milhões com investidores anjo ou financiamentos coletivos. Também realizou a primeira captação na modalidade equity crowfunding em 2019, quando levantou R$ 2,5 milhões.

Agora, a fundadora da companhia afirma que está é a última oportunidade para quem procura investir no Lady Driver. “Agora executaremos um processo de expansão para 50 cidades nos próximos 2 anos, e depois as conversas serão apenas como fundos de investimento venture capital”, explica Gabryella.

Para onde vão os recursos?

Segundo a fundadora da empresa, os recursos desta captação serão destinados para a expansão e diversificação do negócio por meio de três projetos:

O primeiro é a expansão para 50 cidades brasileiras, por meio de um sistema de licenciamento semelhante a uma franquia. Segundo Gabryella, qualquer cidade a partir de 30 mil habitantes pode optar por levar a marca Lady Driver. “Emprestamos a estrutura do nosso software, treinamos o empreendedor para usar a nossa marca na cidade dele e cobramos uma porcentagem da receita”, explica a empresária.

O processo de licenciamento e expansão pelo Brasil deve começar em 2021, quando serão escolhidos os empresários parceiros. Alguns estados no radar são Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A expectativa é pelo menos gerar mais 10 mil empregos.

O segundo projeto é inovar em um novo nicho de mercado: o transporte individual de crianças. Com isso o Lady Driver passa a concorrer também com vans escolares.

Segundo Gabryella Corrêa , a iniciativa é inédita no Brasil, mas é inspirada em duas startups americanas: o Zum e o Hope Skip Drive, que conseguiram se fortalecer no mercado de transporte individual de crianças.

Transporte individual de crianças

Com a pandemia, a empresária enxerga uma oportunidade perfeita para garantir segurança na volta às aulas, evitando contaminação por Covid-19. “Infelizmente a van escolar se tornou um ambiente de contaminação. Trouxemos esta iniciativa para o Brasil por ter um grande potencial atendendo as dores dos pais. Muitas vezes vão além da escola, é enviar o filho para o curso de inglês, de judô, de Ballet”, explica.

Ainda segundo a fundadora do aplicativo, a demanda já existia antes da pandemia com mães pedindo para levarem os filhos para alguns locais, confiantes na segurança que elas mesmo experimentaram como passageiras.

A iniciativa deve chegar ao mercado até o final de 2020, atualmente está terminando uma fase de teste de 3 meses e já conta com algumas escolas interessadas como o colégio Bandeirantes, Rio Branco e Pueri Domus.

O terceiro destino dos recursos é uma parceria já existente, mas que deve ser potencializada. Com a queda de 80% das receitas da companhia na pandemia, não restou outra alternativa para o aplicativo que diversificar. Por isso o Lady Driver fechou uma parceria com o aplicativo de entregas Rappi para que motoristas mulheres que estavam paralisadas possam também fazer entregas de carro.

Inicialmente, a parceria começou com uma fase piloto onde foram escolhidas 100 motoristas para fazer entregas do mercado atacadista Giga. Mas, neste segundo semestre de 2020, o projeto deve andar para a segunda fase, na qual qualquer motorista cadastrada no aplicativo possa fazer entregas também de compras em supermercados, comida, entre outros.

Fonte de renda para mulheres

Gabryella aponta que as entregas serão feitas pelas motoristas apenas de carro. No momento, ela descarta outros meios de transporte como bicicletas e patinetes. Segundo ela, a parceria com a Rappi permitirá com que as mulheres cadastradas possam ter mais uma fonte de renda com segurança. “A Rappi faz entrega na casa das pessoas, em áreas mais centralizadas, o que não coloca as mulheres em locais de risco”, defende.

Outro aspecto que agrada a fundadora é a presença da Rappi em 117 cidades brasileiras, o que acredita vai ajudar ainda mais a acelerar o processo de expansão. Gabryella também não descarta expandir para América Latina antes dos 2 anos estabelecidos no plano de negócios. “Estou em conversas para fechar uma parceria com um país de lá”, revela.

Os pedidos serão realizados inicialmente pela plataforma da Rappi, mas há planos da startup que no futuro o próprio aplicativo do Lady Driver também receba chamados. Embora o crescimento da empresa no mercado de entregas não vá mal, Gabryella não enxerga que o aplicativo passe a concorrer com outros entregadores como Ifood ou Uber Eats. “Não vejo como concorrentes, mas sim como um meio de valorização do trabalho feminino pela Rappi, para que mais mulheres que eram invisíveis no mercado trabalhem com segurança”, afirma.

Como funciona o crowdfunding

O primeiro esclarecimento ao investidor é que startups são consideradas empresas em estágio inicial, por isso, aplicar nelas oferece um risco alto e só deve ser feito como estratégia de diversificação do seu portfólio, segundo especialistas.

O contrato oferecido pelo equity crowfunding da Lady Driver é um Contrato de Investimento Coletivo (CIC) com 466 cotas disponíveis. Até o momento, apenas 26,79% das cotas já foram adquiridas. A captação iniciou no dia 25 de maio e tem como data de encerramento prevista o dia 23 de agosto.

Para adquirir 1 cota, o investidor deve pagar o valor mínimo de R$ 3 mil. O pagamento pode ser feito no boleto ou no cartão de crédito por meio da plataforma.

O contrato deste investimento coletivo é de 3 anos e o formato é o “Mútuo Conversível”. Ou seja, o investidor (mutuário) faz um empréstimo para a Lady Driver mas tem a opção de converter o valor em participação na companhia a partir do segundo ano de contrato.

A participação futura do investidor na companhia será de entre 3,8% e 4,4% do capital social da Lady Driver, com uma redução de 25% sobre o valuation (valor da empresa) futuro. E esta participação não dá direito a voto na companhia.

O professor de finanças da FIA, Marcos Piellusch, explica que este tipo de título oferecido pelo Lady Driver da direito ao investidor de comprar ações da empresa daqui há dois anos, e que pode ser prorrogado por mais um em caso do Lady Driver abrir o capital ou vender as cotas para um fundo. “Este título da direito a comprar ações com 25% de desconto. Então se as ações forem negociadas a R$ 20, por exemplo, o investidor terá o direito de comprar por R$ 15”, explica Piellusch.

Além disso, estes títulos adquiridos pelo investidor são corrigidos a 20% de juros ao ano. Por exemplo, se a cota aplicada for R$ 3000, a remuneração com 20% para o primeiro ano seria de R$ 600.

O especialista exemplifica: Suponhamos que o investidor faz um investimento mínimo de R$ 3000. Em 2 anos, os juros dariam 20% (R$ 600) no primeiro ano + 20% (R$ 720) no segundo ano. No prazo final de 2 anos, o valor final seria de 4320. Caso o investidor decidir resgatar seu dinheiro neste prazo, este será o retorno.

Agora, caso ele decida transformar esse dinheiro em ações da companhia. Suponhamos que cada ação seja negociada a R$ 20. Isso totalizaria 216 ações (4320/20). Mas, o investidor possui um desconto de 25% sobre o valuation futuro, então pode comprar essas ações a R$ 15. Isso daria 288 ações (4320/15).

Se ele optar por adquirir ações seu patrimônio será de R$ 5760 (288 X 20) . Com isso, como ele fez um investimento inicial de R$ 3000, seu retorno final será de 92%.

Caso a companhia seja vendida no período, o investidor recebe uma quantidade de cotas que serão vendidas ao novo dono da empresa. E caso a Lady Driver se torne uma companhia de capital aberto, as cotas serão transformadas em ações preferenciais.

Qual o risco?

Contudo, também existem riscos para o investidor como em toda operação. Caso a Lady Driver encerre as atividades sem opções de recuperação, o investidor perderá todo o dinheiro investido. E caso, após o término dos 3 anos, a companhia não atinja as metas estabelecidas e o investidor não opte por transformar sua participação em cotas, também não receberá o dinheiro de volta.

A companhia pretende captar R$ 1,4 milhão e, no mínimo, R$ 933 mil. Até o momento o faturamento de 2020 é de R$ 656 mil. Mas as metas são ambiciosas. As metas para o ganho anual para 2021 esperado pela companhia é de R$ 4,278 milhões. Para 2024, de R$ 89.165 milhões.

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