Após o fim da temporada de balanços do 1º trimestre de 2023, o grupo de comércio eletrônico Mercado Livre (MELI34) foi o que mais ganhou participação de mercado no segmento após o colapso da Americanas (AMER3), em janeiro deste ano.
Analisando o GMV – métrica que se aplica ao volume bruto de mercadorias vendidas no varejo online – a companhia argentina registrou crescimento de 28% em seu GMV total no Brasil nos três primeiros meses do ano, quando comparado ao 1º trimestre de 2022.
Por sua vez, a varejista Magazine Luiza (MGLU3) vem na sequência, com crescimento de 10% no GMV em igual período, para R$ 15,5 bilhões, enquanto a Via (VIIA3) foi quem apresentou a menor alta em seu GMV total: 2,6%, para R$ 10,9 bilhões.
Segundo dados compilados pelo Investnews e confirmados por analistas da VG Research, Mercado Livre e Magalu capturaram os maiores ganhos de mercado após a descoberta do rombo fiscal na Americanas.
“Magazine Luiza ganhou 6,2 pontos percentuais de market share neste trimestre, o que nos mostra a captura relevante pós recuperação judicial da Americanas”.
Carol Sanchez, VG RESEARCH
Mas analisando o balanço financeiro do 1º trimestre entre Via e Magalu, a primeira registrou melhores resultados, na avaliação da analista.
“O resultado do Magalu foi pior do que estava sendo esperado em termos de geração de caixa – mesmo que o trimestre apresente maiores custos para as varejistas (como o pagamento de fornecedores)”, disse ao InvestNews.
Em termos de receita líquida, a companhia registrou alta de 3,5% no período, reflexo da reintrodução do DIFAL (diferença de alíquota de ICMS nas vendas interestaduais), segundo o analista Lucas Lima, também da VG Research.
“A rentabilidade da empresa também foi afetada pelo aumento de carga tributária de 3,2 pontos percentuais (p.p), levando a uma queda da margem bruta no período. O único destaque positivo do Magazine Luiza foi a redução das despesas gerais e administrativas”, disse.
No entanto, as menores despesas são reflexo do fechamento de unidades e de um centro de distribuição, segundo o analista, o que mostra como o mercado não está aquecido.
Vendas 1P e 3P
Analisando as vendas 1P (first-party relationship) das varejistas, isto é, quando o produto vendido é entregue pela própria companhia, uma vez que faz parte do seu estoque, Magalu teve o melhor resultado no 1º trimestre, com alta de 5,6% (R$ 6,9 bilhões) ante queda de 15% da controladora das Casas Bahia (R$ 3,4 bilhões).
Já quando analisadas as vendas por terceiros na loja virtual das companhias (third-party relationship, da sigla 3P), o ranking se inverte: Via registrou alta de 25,6%, ante 20% da companhia liderada pelos Trajanos.
Segundo Lima, a Via vem melhorando em termos de vendas e rentabilidade, mas a estrutura de capital e despesas financeiras continuam destruindo a visão mais positiva para a companhia.
O Mercado Livre não separa em relatório trimestral as vendas diretas em 1P e no marketplace 3P, e por isso, não foi possível fazer essa divisão.
Via lidera vendas em lojas físicas
A Via liderou nos primeiros três meses deste ano as vendas nas lojas físicas. Foram R$ 6,067 bilhões, alta de 10,7% quando comparado a igual período de 2022. Já os R$ 4,2 bilhões registrados por Magazine Luiza representam crescimento de 7,7% em igual período.
Para Lucas Lima, a alta nas vendas nas mesmas lojas (9%) reportada pela Via na comparação com igual período de 2022 é explicada pela melhoria no fluxo das lojas e maior produtividade dos vendedores. “A receita por vendedor registrou alta de 21% na comparação (1T23 vs. 1T22)”, apontou.
Mas por mudança na estratégia, Magalu vem diminuindo consideravelmente suas vendas em pontos físicos, já que sua receita no 1º trimestre de 2023 representa 27% do segmento, ante 47% três anos antes.
No último balanço, foi reportado que 73% das receitas da varejista vieram das vendas online (1P e 3P). E seu crescimento nas vendas totais (10%) no 1º trimestre superou a queda de 14% que o mercado online brasileiro registrou em igual período, segundo dados do Neotrust.
Pode-se dizer que a Via também conseguiu o feito de superar o mercado, mas com um crescimento mais modesto, de 2,6%, segundo relatório aos investidores.
10 lojas concentram mais da metade das visitas
Relatório de abril deste ano sobre os setores de e-commerce no Brasil apontou que apenas 10 das maiores lojas do Brasil detêm 50,5% de toda a audiência do e-commerce no Brasil. O Mercado Livre lidera com 14,8% de share, enquanto Amazon Brasil tem 7,9% e Shopee tem 6,3%. Magazine Luiza vem na sequência com 5,1%, e Casas Bahia (Via) aparece na oitava com 2,7%.
Os dados apuram a audiência dos sites de e-commerce (que é quando o consumidor digita o endereço da loja diretamente no navegador, no mobile ou desktop, além de acesso em aplicativos). A fórmula para cálculo divide o volume de buscas por uma marca pelo volume total de buscas de todas as marcas daquele segmento. Nesta metodologia são usados dados do Google trends. Analistas apontam que as visitas nos sites podem ser consideradas como market share das varejistas.
A Americanas apresentou queda de 45% nos acessos quando levado em consideração dezembro de 2022 até março deste ano. As 112.220.681 visitas mensais do final do ano passado caíram para 62.052.561 no último dado apurado pela Conversion.
Os dados apontam para a perda de interesse ou quebra de confiança de seus consumidores após a descoberta do rombo contábil e posterior pedido de recuperação judicial da varejista, segundo o relatório.
Veja abaixo dados de visitas mensais entre outubro de 2022 até março de 2023 compilados pela Conversion:
Mercado Livre lidera ganhos pós Americanas
Para analistas da VG Research, o Mercado Livre continua com uma performance melhor que os concorrentes no setor de e-commerce, dado o forte resultado reportado no último balanço.
A capacidade de execução da companhia é destacada como acima da média de mercado, o que faz acreditar que a mesma deva continuar como líder do e-commerce nos principais países de atuação (Brasil, Argentina e México). O mercado brasileiro foi o que apresentou maior crescimento no resultado da varejista, com GMV evoluindo 1% na comparação trimestral e 28% na anual.
“O diferencial do Mercado Livre em relação a seus pares é seu crescimento alinhado com a rentabilidade. O take-rate atingiu 17,8% no 1º trimestre, alta de 1,0 ponto percentual (p.p.) na comparação trimestral e 0,5 p.p. na comparação anual, refletindo as maiores tarifas no marketplace e maior penetração da receita de anúncios”
Lucas Lima, analista da VG Research
Logo, no rali entre Mercado Livre e Magalu após o caso Americanas, apesar de a companhia liderada pelos Trajanos estar bem posicionada em seu modelo de negócios multicanal e a despeito da expectativa de queda gradual nas taxa de juros, alguns obstáculos operacionais são considerados uma pedra no caminho da varejista, segundo analistas.
Já as despesas da dona das Casas Bahia e sua atual estrutura de capital ainda nublam o cenário da companhia, ressaltaram os analistas.
Americanas sem balanço
Em recuperação judicial desde janeiro, a Americanas postergou a divulgação dos resultados do 4º trimestre de 2022 e do 1º trimestre deste ano, não sendo possível comparar com o último balanço dos concorrentes Via, Magalu e Mercado Livre.
Em fato relevante divulgado em março, a Americanas justificou o adiamento dado a necessidade de conclusão “dos efeitos das inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta de fornecedores nas demonstrações financeiras da companhia, relativas aos exercícios já encerrados, incluindo o exercício social encerrado em 31 de dezembro de 2022”.
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