A Nvidia (NVDA; BDR: NVDC34), um dos principais focos dos investidores que estão de olho nos avanços da inteligência artificial, apresentou resultados e projeções surpreendentes. Como empresa global, a unidade no Brasil também deve se beneficiar, embora três desafios ainda pairem sobre o mercado local para o avanço do uso da IA.
É o que comenta Marcel Saraiva, gerente de vendas da divisão Enterprise da NVIDIA no Brasil, em entrevista ao InvestNews. “A Nvidia é uma empresa global, então por esse fato a gente ‘toma uma carona’ junto nesse mercado”, afirma ele em relação ao otimismo em torno da empresa que chegou a movimentar a cotação das ações em Wall Street nos últimos dias.
No Brasil, Saraiva comenta que a empresa vê muito espaço para crescimento do uso da inteligência artificial pela indústria. “Novas soluções estão aparecendo, novos problemas estão sendo resolvidos e, obviamente, o Brasil a gente vai sofrer o impacto positivo”.
Ele cita, porém, três pontos de atenção que a empresa ainda busca superar localmente: necessidade de mais clareza sobre estratégia no uso da IA por algumas empresas, amadurecimento do mercado e capacitação da mão de obra.
“Você precisa ter algumas etapas cumpridas no processo para realmente ter sucesso”, diz ele, acrescentando que “a primeira etapa é obviamente ter uma estratégia, ter um propósito para aplicar essa tecnologia”. Isso significa saber detectar a atividade que poderia ser beneficiada pelo uso de IA.
“A gente tem que ficar muito atento porque essas tecnologias não são o que a gente chama de ‘plug and play’, que você vai ligar e vai sair funcionando. E às vezes a gente vê algumas empresas que não têm isso muito claro.”
Marcel Saraiva, gerente de vendas da divisão Enterprise da NVIDIA no Brasil
A segunda barreira é a preparação das companhias para trabalhar com inteligência artificial. “Eu tenho os dados suficientes para trabalhar? Eu, empresa, estou digitalmente pronta? Eu estou digitalizada para executar isso? E aí, usando uma comparação com empresas em mercados mais maduros, a gente está um pouquinho para trás”, diz Saraiva.
Ele complementa que o terceiro gargalo é a capacitação, com pouca disponibilidade de mão de obra qualificada para trabalhar na área. Para o executivo, esse é o aspecto “mais complexo”.
Metaverso não morreu
Saraiva compara a “onda” de inteligência artificial, com o mercado só falando neste tema (especialmente após o lançamento do Chat GPT), com outros fenômenos parecidos na área de tecnologia – e, entre eles, o metaverso.
No entanto, ele volta a reforçar que o que difere uma “moda passageira” do advento de uma tecnologia que pode se consolidar na chamada economia real é sua utilização de forma estratégica, com propósitos bem definidos, destaca ele.
“Isso normalmente acontece nas ondas e tecnologias. O ano passado a discussão era o metaverso. Todo mundo queria entrar, participar, agora mudou a inteligência artificial. E, dentro da NVIDIA o metaverso continua firme e forte, só que a gente está trabalhando no metaverso industrial. A indústria está se transformando, a indústria tem um propósito para aplicar aquela tecnologia, ela traz um benefício.”
Marcel Saraiva, gerente de vendas da divisão Enterprise da NVIDIA no Brasil
Nesse sentido, utilizar uma tecnologia somente para não “ficar de fora” da última tendência pode ser um grande equívoco, aponta ele. “A gente sabe que normalmente quando começa assim a chance de dar errado é muito grande”.
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Estratégia da NVIDIA
Saraiva comenta que uma das grandes apostas da NVIDIA – que agora é referência em discussões sobre AI, mas se tornou conhecida anos atrás pela atuação no segmento de games – é a convergência de tecnologias. “A gente continua adorando os games e diversão, tá? Não tem problema nenhum, a gente vai continuar investindo”, brinca ele.
“O que está acontecendo é uma convergência de tecnologias. Então, eu, por exemplo, nas minhas GPUs mais novas, eu coloco uma inteligência artificial dentro dela, desenvolvida na NVIDIA, para acelerar o processamento, para ela criar imagens, frames, pixels de forma mais rápida. para o jogo ficar mais legal, para a reflexão da imagem ficar mais realista.”
Para a empresa, o cenário é promissor. “A gente tem uma visão de médio prazo muito interessante. Não chegamos no topo, pelo contrário, a gente está só no começo dessa revolução”, diz Saraiva.
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