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Negócios

‘Não existe varejo forte em país fraco’, diz Sergio Zimerman, da Petz

Para empresário, taxa de juros bets e competição de produtos asiáticos estão limitando o crescimento do setor no Brasil

Foi visitando uma loja da Cobasi que o empresário Sergio Zimerman decidiu, em 2002, investir no mercado de animais de estimação. Na ocasião, o empresário enfrentava a falência de um negócio – uma distribuidora de alimentos e bebidas. E viu na mega loja de produtos para pets, no bairro da Vila Leopoldina, um bom modelo a ser aplicado em um imóvel de sua família, localizado na zona Leste de São Paulo.

Assim foi feito: Zimerman inaugurou o Pet Center Marginal, loja que deu origem ao que é hoje a rede Petz. E, 22 anos depois, está prestes a se fundir com a Cobasi, negócio que deve dar origem a uma gigante de R$ 7 bilhões em faturamento.

A fusão, assinada pelas duas empresas em agosto deste ano, ainda aguarda a aprovação pelo Cade: segundo Zimerman, juntas, Petz e Cobasi terão aproximadamente 11% do mercado. Ele acredita que a operação vai trazer benefícios para as empresas e também para o consumidor. Hoje, explica, a forte concorrência, inclusive de pet shops de menor porte, tem jogado os preços para baixo. E para quem tem estruturas grandes e caras como Petz e Cobasi, fica muito mais difícil competir.

“A junção vai provocar competitividade dos preços no mundo físico. Quando os custos são mais racionais, tem espaço para melhorar a margem, ,mas também tornar-se mais competitivo”, afirma.

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Na Petz, cerca de 95% do faturamento vem de produtos e 5% de serviços – fatia que inclui também os 15 hospitais da rede Seres.  “É totalmente estratégico e vai ser um objetivo claro de ampliar a atuação de serviços, que acaba fidelizando o cliente também para o consumo de produtos”, explica.

O mercado de animais de estimação vem mostrando taxas fortes de crescimento nos últimos anos. Hoje, o Brasil tem a terceira maior população pet do mundo – 149 milhões -, perdendo apenas para China e Estados Unidos, segundo dados do instituto Quaest. Em cada 10 lares do país, sete têm um animal.

Segundo Zimerman, três fatores explicam esse crescimento: o aumento populacional de pets a uma taxa maior do que a da população de humanos; o fenômeno da humanização do pet; e o acesso à informação sobre as necessidades do animal.

“Somos um país latino, que tem a característica de amor incondicional. Quanto mais estressada estiver a vida, quanto mais o dólar sobe, mais o pet vira um ponto de fuga. Afinal o pet não lê jornal, não sabe como está a guerra no Oriente Médio”, afirma.

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Trajetória

O empresário sempre foi amante de animais. Mas acabou entrando nesse negócio quase sem querer. Um cunhado, que fabricava shampoo para cachorro no quintal de casa, falou sobre a Cobasi e convenceu Zimerman a conhecer uma das lojas. E foi aí que o empresário viu uma possibilidade de iniciar um negócio que replicasse o modelo da megaloja localizada na Zona Oeste da capital paulista, em um local que atendesse aos públicos da Zona Leste e da Zona Norte da cidade.

“Egresso de uma falência e com quatro filhos, eu tinha um único objetivo: sustentar a minha família”, conta. A escolha do nome – Pet Center Marginal – foi uma solução para o baixo orçamento da inauguração. “Quando você não tem dinheiro para investir em marketing , você tem que ter um nome simples. Só não coloquei o telefone no nome porque não deixaram”, brinca.

Nove meses depois, a loja já atingia o breakeven, que é o momento em que o faturamento passa a cobrir as despesas integralmente. Com a empresa rentável, o empresário decidiu iniciar um processo de expansão – o que foi, inicialmente, visto como uma má ideia pela família, que sentiu na pele todo o processo da falência anterior. Nos dez anos primeiros anos, a empresa abriu 27 lojas. Hoje, são 257 unidades no Brasil.

Hoje, a Petz vem enfrentando desafios para manter o ritmo de crescimento. Razão pela qual a fusão com a Cobasi é tão relevante. No segundo trimestre, a companhia registrou  lucro líquido ajustado de R$ 4,968 milhões, 79,8% menor do que a reportada no mesmo período de 2023, de R$ 24,548 milhões. A receita líquida da companhia foi de R$ 817,5 milhões, uma alta anual de 3,3%.

O cenário de juros altos é um dos fatores que explicam o desempenho mais fraco registrado no último trimestre. “O Brasil vem se especializando em produzir problemas adicionais aos que são inevitáveis”, afirma. “O Banco Central está falando em subir os juros, como se a gente estivesse em um cenário de super demanda, que só existe no cenário hipotético dele, porque aqui no varejo a gente não está vendo isso”, afirma.

O fenômeno das bets, que acaba drenando recursos que poderiam estar voltados par ao varejo, e a competição com produtos vindos da Ásia reforçam esse ambiente desafiador.

Zimerman é membro do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) e do Conselho de Desenvolvimento Econômico do governo, o Conselhão. E tem levado ao governo sua visão sobre o efeito das políticas públicas sobre o varejo. “Vejo um pouco de miopia empresarial quando se acha que não temos nada a ver com politicas públicas”, diz.

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