A CSN confirmou, em fato relevante, que renovou mais uma vez o acordo de exclusividade de negociação para a compra da InterCement, empresa do grupo Mover (ex-Camargo Correa). As conversas entre as duas companhias acontecem desde maio, mas estão travadas em um ponto específico: a definição do valor da dívida da cimenteira variável que determinará o tamanho do negócio. E, segundo fontes, o fechamento do negócio não deverá ocorrer tão brevemente quanto se imagina.
Conforme o InvestNews informou em julho, a CSN não tem pressa. Está disposta a esperar a negociação junto aos credores: Bradesco, Itaú e Banco do Brasil. Estima-se que a dívida da cimenteira junto aos três bancos some cerca de R$ 4,7 bilhões.
Na teleconferência para falar sobre o resultado da companhia, realizada na semana passada, o CEO da CSN, Benjamin Steinbruch, disse que a CSN Cimentos opera hoje praticamente com a capacidade de produção plena. E que o crescimento do segmento de construção de moradias populares tem tudo a ver com isso. A expectativa para 2025, segundo a CSN, é de que o PIB da construção civil cresça, pelo menos.
Ao mesmo tempo, são aguardados vários projetos de infraestrutura – como saneamento, estradas e transmissão de energia – para o próximo ano. Até 2033, estão previstos pelo governo projetos que somam investimentos de R$ 1,6 trilhão. Tudo isso vai exigir muito cimento.
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“O cimento tem futuro certo no Brasil”, disse Steinbruch durante a apresentação dos resultados da companhia. “É um produto que está faltando, e só não vendemos mais porque falta capacidade de produção.”
No fato relevante enviado ao mercado, a CSN afirmou que o prazo de exclusividade será encerrado se, a qualquer momento, o plano de recuperação extrajudicial, executado em 16 de setembro de 2024 pela InterCement e certos credores, não estiver mais válido.
A CSN Cimentos fez uma oferta de R$ 10 bilhões pela InterCement, já assumindo uma dívida que a Mover tem com o Bradesco. Mas a InterCement quer um valor mais alto pelo seu portfólio de 15 fábricas no Brasil e outras nove na Argentina.
Outras ofertas
A companhia de Steinbruch tornou-se favorita para a aquisição pelo fato de poder absorver todos os ativos da InterCement sem a necessidade de recorrer a “remédios” mais fortes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segunda maior companhia do setor, com 20% do mercado, a CSN provavelmente não teria de se desfazer de ativos para integrar a concorrente. Isso tornaria o fechamento do negócio mais rápido.
Essa é a dificuldade vivida pela Votorantim Cimentos, que também chegou a namorar a InterCement. Líder do setor, com participação superior a 30% do mercado, segundo estimativas de analistas, a VC poderia ter a compra de 100% da InterCement barrada pelo Cade ou ser obrigada a abrir mão de alguns ativos para ficar com ela.
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Por causa dessa limitação, a Votorantim apresentou uma proposta pela InterCement em meados de fevereiro, mas somente por parte do portfólio. A oferta excluía, por exemplo, a compra de unidades de produção na Argentina. Isso esfriou o interesse inicial da Mover, que prefere vender todos os ativos em conjunto.
No início deste ano, especulou-se no mercado outros interessados para além de Votorantim Cimentos e CSN. A italiana Buzzi Unicem, dona da Brennand, o grupo Polimix, dona da Cimento Mizu, e as chinesas Sinoma e Huaxin Cement – essa última comprou ativos da InterCement na África no ano passado – teriam buscado mais informações sobre o ativo. Nesses casos, a operação também poderia ocorrer de maneira mais célere.
Corrida pela bolsa
A compra da InterCement seria um movimento estratégico para as duas maiores cimenteiras do país, que medem forças pelo acesso à bolsa. As companhias já manifestaram o desejo de buscar uma listagem assim que as condições de mercado se tornem favoráveis.
No pitch aos investidores, soará muito melhor – e, consequentemente, abrirá caminho para uma melhor avaliação de mercado (“valuation”) – aquela que se apresentar como líder de mercado em cimentos, posto hoje pertencente à Votorantim Cimentos. Para a fonte ouvida pelo InvestNews, ter a liderança pode até ajudar, mas não será o único item a ser considerado pelos investidores.
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