A Petrobras (PETR3 e PETR4) elevará em cerca de 15% o preço médio do diesel nas refinarias e em mais de 10% o da gasolina, a partir de sexta-feira (19), informou a petroleira nesta quinta-feira (18), diante de um avanço do valor do petróleo no mercado externo e de fatores como o câmbio.
Com o movimento, o diesel – combustível mais consumido do país – terá um aumento nas refinarias de em média R$ 0,34 por litro, para R$ 2,58 por litro. Embora o repasse não seja automático e dependa de outros fatores, como impostos, o reajuste que agradou o mercado tem o potencial de aumentar a tensão entre os caminhoneiros, que ameaçaram com uma greve no início do mês.
Já a gasolina terá elevação de cerca de R$ 0,23 por litro, para R$ 2,48.
Foi o segundo reajuste anunciado para ambos os combustíveis em fevereiro e depois da petroleira estatal ter sofrido com temores do mercado sobre possíveis interferências políticas na sua prática de preços.
Em comunicado nesta quinta-feira, a Petrobras reiterou que sua política de preços segue a paridade de importação, sendo influenciada pela variação do preço do petróleo e do câmbio, dentre outras questões.
Além disso, a empresa ressaltou que “o alinhamento dos preços ao mercado internacional é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras”.
O preço do petróleo Brent, referência internacional, subiu cerca de 15% no acumulado de fevereiro.
O repasse dos reajustes nas refinarias aos consumidores finais nos postos não é garantido, e depende de uma série de questões, como margem da distribuição e revenda, impostos e adição obrigatória de biocombustíveis.
De volta à paridade?
O chefe da área de óleo e gás da consultoria INTL FCStone, Thadeu Silva, afirmou à Reuters que o movimento da Petrobras levou os preços de volta à paridade de importação, após vários meses em que a petroleira estaria praticando valores abaixo do mercado externo, de acordo com seus cálculos.
“Foi um reajuste bem alto… para ver como estava defasada a conta de paridade para trazer o produto (do exterior). É um movimento necessário por conta da alta do preço do petróleo e da desvalorização do câmbio”, disse Silva.
“A gente começava a ter risco de falar em desabastecimento de produto a partir de março, porque nenhum agente privado estava trazendo nada… agora abre de novo a paridade para importação, os agentes privados talvez voltem a se movimentar para trazer produto, ou mesmo a própria Petrobras pode trazer produto sem tomar prejuízo.”
Entretanto, mesmo após o anúncio dos reajustes, a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) afirmou que, nos seus cálculos, ainda haverá uma defasagem dos preços da Petrobras, de R$ 0,08 por litro na gasolina e R$ 0,13 por litro no diesel.
Os importadores vêm apontando dificuldades de realizar compras externas devido aos preços da petroleira estatal, dona de quase 100% da capacidade de refino do Brasil.
O presidente da Abicom, Sérgio Araújo, disse que ainda não obteve resposta de ofício encaminhado em 8 de janeiro à reguladora do setor de petróleo ANP, com cópia para o órgão antitruste Cade, questionando as práticas de preços da Petrobras.
Preços nos postos
As críticas dos importadores ocorrem enquanto o governo de Jair Bolsonaro sofre pressão dos caminhoneiros, pelos preços do diesel.
No último levantamento da ANP, a cotação média do diesel nas bombas atingiu R$ 3,811 por litro na semana passada, alta de 1,3% em relação à semana anterior, o que marcou o terceiro aumento consecutivo.
O presidente da República cobrou publicamente, no início do mês, explicações da Petrobras e de ministérios sobre a formação de preços no Brasil.
Após uma reunião, o governo se comprometeu a buscar uma forma de reduzir a exposição do mercado brasileiro à volatilidade das cotações internacionais, mas ao mesmo tempo sem impor medidas que possam abalar a independência e o balanço financeiro da Petrobras.
Na sexta-feira, Bolsonaro encaminhou ao Congresso um projeto de lei que propõe alterar a cobrança do ICMS sobre combustíveis, com o objetivo de estabelecer uma alíquota de imposto uniforme e específica, reduzindo a volatilidade e aumentando a previsibilidade.