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Políticas ambientais de Lula podem atrair mais investimento estrangeiro ao país

Perspectiva é de especialistas, que apontam desafios para governo eleito cumprir promessas.

Enfrentamento das mudanças climáticas, avanço na transição energética, cumprimento das metas de redução de emissão de gases associados ao efeito estufa, defesa da Amazônia da devastação e combate ao desmatamento ilegal estão entre as principais propostas ambientais do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Para especialistas consultados pelo InvestNews, as diretrizes anunciadas podem estimular aportes de investidores estrangeiros no Brasil. 

Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva durante cúpula climática COP27, no Egito
Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva durante cúpula climática COP27, no Egito 16/11/2022 REUTERS/Mohamed Abd El Ghany

Bruno Tebaldi, analista de risco da Nova Futura Investimentos, avalia que, de maneira geral, os investidores estrangeiros devem ver com bons olhos as políticas ambientais de Lula de defesa da Amazônia e de combate ao desmatamento ilegal, o que acabará mostrando que o país tem um comprometimento social, ganhando atenção dos investidores.

Na mesma linha, Victor Inoue, head da área de produtos na WIT Invest, diz acreditar que um governo com discurso mais alinhado às políticas ESG (Ambiental, Social e Governança, em português) deve facilitar o aporte de estrangeiros no Brasil, principalmente quando se olha para os grandes fundos.

“Podemos utilizar como exemplo o fundo soberano da Noruega, que, com mais de US$1,2 trilhão sob gestão, diminuiu sua exposição ao Brasil pela metade desde 2019, citando como motivos a exclusão de companhias que apresentam risco de desflorestamento e diminuição da biodiversidade. Uma postura pró meio ambiente deixa o país mais atrativo ao capital externo”, explica Inoue.

Celso Lemme, professor de Finanças e Sustentabilidade do Coppead/UFRJ, alerta, no entanto, que as ideias ambientais do presidente eleito são boas, mas que não se pode esquecer que, no Brasil, o desafio é a execução destes planos. 

“É animador ouvir que estes são os pontos, fatores, são aspectos que merecem atenção e significam oportunidade, mas, para mim, o passo seguinte é a realização, a concretização que vai dizer se a confiança do investidor continua ou não. Esse é o principal desafio. O  Brasil precisa de estratégia para desenvolver valor. Se não, as coisas se perdem no discurso e a boa vontade desaparece”, destaca Lemme.

Em outubro, a entrada líquida de investimentos estrangeiros na bolsa de valores brasileira totalizou R$ 14,1 bilhões, o oitavo resultado mensal positivo em 2022.

No ano, o fluxo de investimento estrangeiro para a B3 (B3SA3) até outubro foi recorde, com saldo positivo de R$ 101,7 bilhões.

Ja segundo dado mais recente da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre janeiro e junho deste ano, o Brasil foi o terceiro país que mais atraiu Investimento Estrangeiro Direto, ficando atrás somente dos Estados Unidos e da China.

Investimentos ambientais no governo Lula: o que esperar?

Tebaldi avalia que o governo Lula deve expandir ou incentivar os auxílios a empresas com foco em ESG. Isso, segundo o analista da Nova Futura Investimentos, se deve ao plano de investimento no futuro do país, e que uma das maneiras é fazer o investimento em políticas sustentáveis. 

Tebaldi aponta ainda que o governo Lula  costuma ter uma preocupação maior com as regiões Norte e Nordeste do país, permitindo, assim, que incentivos sociais voltados a políticas ambientais sejam implementados.

Lemme alerta, no entanto, que, para uma agenda ESG avançar, depende da integração entre os ministérios do governo.

“Não se faz desenvolvimento sustentável sem articular, por exemplo, áreas como de meio ambiente com de tecnologia, ciência e educação. É preciso integrar as agendas de diversas áreas, isso que é desenvolvimento sustentável e não é cada ministério por si. É integração de políticas públicas, isso é o que pode fazer a diferença”, aponta o professor de Finanças e Sustentabilidade do Coppead/UFRJ.

O ecólogo Renato Paquet explica que, segundo o plano de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, os investimentos no governo Lula devem ser muito voltados às florestas. Ele diz esperar, no entanto, que, somadas às práticas de conservação e restauração de florestas, aconteçam investimentos ainda mais relevantes em saneamento básico e gestão de resíduos sólidos.

“A pauta da conservação das florestas é fundamental e de extrema importância, mas enquanto tivermos brasileiros sem água em casa, sem coleta de esgoto e vivendo em meio a lixões a céu aberto, essa deveria ser a principal preocupação de qualquer governo”, destaca Paquet.

Olhar do investidor

Bruno Tebaldi, da Nova Futura Investimentos, considera que as políticas ambientais de Lula podem mudar, positivamente, a percepção do investidor devido ao fato de elas serem sempre bem-vindas. Tebaldi destaca, contudo, que o investidor também segue atento à situação fiscal do país.

“Se os incentivos forem muito altos ou arrisquem de alguma forma a situação fiscal do país, isso pode levar a uma reavaliação por parte dos investidores”, alerta Tebaldi.

Para Victor Inoue, head da área de produtos na WIT Invest, em um primeiro momento com o governo do presidente eleito, o foco de investidores deve ser, por exemplo, na Petrobras (PETR3, PETR4). Segundo Inoue, o mercado já precifica que a estatal deixará de ser uma grande pagadora de dividendos, caso a empresa adote uma política de investimentos em energia renovável com um retorno esperado baixo, e as ações podem passar por mais uma sequência de quedas.

Ainda de acordo com Inoue, setores ligados ao agronegócio também devem ficar no radar de investidores, já que podem ser afetados, caso o governo adote políticas rígidas em relação ao desmatamento.

De acordo com a Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os chamados “Fundos IS/Fundos que integram critérios ESG” apresentavam captação líquida negativa de R$ 394,7 milhões no acumulado de 2022 até 24 de novembro e patrimônio líquido acima dos R$ 5 bilhões.

Políticas ambientais de Lula: desafios dos investimentos

Região desmatada na Amazônia
Vista aérea de regoão desmatada da floresta amazônica, em Manaus. Crédito: 08/07/2022 REUTERS/Bruno Kelly

Tebaldi avalia que o governo do presidente eleito começará com um crescimento econômico  ‘machucado’,  tendo que ‘batalhar’ contra a inflação do pós-pandemia, em paralelo tendo um desafio em implementar políticas ambientais que abranjam todas as empresas de forma justa e igualitária sem penalizar o crescimento econômico do país. 

Victor Inoue, head da área de produtos na WIT Invest, alerta que, como se tem observado na Europa, a transição para uma matriz energética limpa é um processo lento e custoso. Assim, segundo Inoue,  caso o agronegócio também seja afetado, é possível que, como consequência, o Brasil tenha que lidar com um custo de energia e alimentos mais altos, trazendo consequências diretas para a inflação.

Já Lemme aponta que, se as propostas ambientalistas do governo Lula derem certo, o Brasil vai ter uma oportunidade histórica de assumir um papel relevante na economia internacional, diferente do que tentou assumir durante outros anos, em governos diferentes.

“A hora que reconhecerem que o desenvolvimento social, ambiental, junto com o desempenho econômico e financeiro, é um tripé fundamental, o Brasil tem vantagens competitivas espetaculares, toda a riqueza vai aparecer como é. Se estas questões forem conduzidas corretamente, aí está uma oportunidade histórica, que é assumir um papel relevante na sociedade e na comunidade internacional”, afirma o professor de Finanças e Sustentabilidade do Coppead/UFRJ.

ESG: estímulos às empresas de capital aberto?

Pesquisa realizada em junho pela Deloitte em parceria com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) mostrou que 87% das empresas listadas na bolsa afirmam não apenas ter aumentado o envolvimento e o conhecimento da área de relações com investidores nos temas ESG nos últimos 12 meses até junho, como também disseram discutir questões sociais ou ambientais nos conselhos de administração.

Inoue afirma que a grande maioria das empresas listadas na bolsa brasileira já possui iniciativas ligadas ao ESG, mas, segundo ele, caso o novo governo adote uma política de benefícios, é possível esperar uma maior intensidade de envolvimento das empresas com estas questões.

Tebaldi, por outro lado, avalia que este cenário dependerá do tipo de política ambiental que o novo governo adotará. Segundo ele, alguns incentivos podem gerar valor para o acionista, mesmo que no longo prazo, e pode ser motivo para aumentar o envolvimento de empresas com ESG. Contudo, de acordo com o analista, algumas políticas podem acabar penalizando empresas e, neste caso, para a companhia, é melhor adiar o envolvimento com estas questões.

Lemme defende que as empresas que já vinham fazendo um trabalho voltado ao ESG em um ambiente mais difícil terão um estímulo em um cenário mais propício para trabalhar esta agenda. O professor aponta, no entanto, que o impulso está muito claro e ele é muito importante, mas caso aconteça alguma contradição, a intenção não vai se concretizar, podendo ser tempos difíceis. 

Já Paquet diz avaliar essa questão de forma bastante pragmática. Segundo o ecólogo, os investimentos em ESG por parte das empresas são mais fortes por causa da pressão dos investidores. De acordo com o ecólogo, trata-se de uma decisão de alta relevância para as empresas e que, sistematicamente, quanto mais a companhia segue parâmetros ESG, menor é a exposição que terá a riscos e maior o valor de mercado da ação na bolsa de valores. “Esse é o maior estímulo que podemos ter”, conclui.

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