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ESG

Economia global afeta desempenho de fundos sustentáveis no curto prazo

Maioria dos que possuem objetivo focado em sustentabilidade acumulam retorno negativo.

A maioria dos chamados fundos sustentáveis disponíveis no Brasil para investir acumulavam perdas desde seus respectivos lançamentos até 13 de outubro de 2022, segundo levantamento da TC/Economatica a pedido do InvestNews. De acordo com especialistas, apesar de possuírem características próprias, estes fundos não estão imunes ao momento global econômico de incertezas no curto prazo.

De acordo com a Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), existem hoje 18 fundos que possuem objetivo focado no investimento sustentável.

Foto conceitual ESG
Crédito Oleksandrsh

Lucas Muraguchi, diretor de administração fiduciária da Ouro Preto Investimentos, destaca que, avaliando estes fundos, percebe-se uma predominância de fundos de ação e que eles não estão protegidos dos efeitos do cenário macroeconômico mundial incerto. 

“O mercado acionário vem sofrendo um período de incertezas, impactado por eleições, políticas monetárias do Federal Reserve e da guerra na Ucrânia. Os fundos sustentáveis não deixam de ser como todos os outros. Estão sujeitos aos mesmos fatores macroeconômicos, às mesmas políticas monetárias e às mesmas intempéries que afetam o mercado como um todo. Não é por se tratar de um fundo ESG que ele estaria imune à volatilidade”, explica Muraguchi.

Bruno Tebaldi, analista de risco da Nova Futura Investimentos, lembra que um fundo sustentável procura, de maneira geral, investimentos que atendam aos critérios ESG (Ambiental, Social e Governança, em português). Eles têm sido usados, principalmente no mercado financeiro, para definir se um negócio apresenta sustentabilidade empresarial.

“No longo prazo, os preços das ações tendem a refletir a quantidade de lucro que uma empresa obtém. Como resultado, não se pode aderir aos princípios ESG e esperar que isso não tenha um impacto no lucro. Sendo assim, para tentar equilibrar a competição, subsídios são frequentemente fornecidos para alterar o equilíbrio. Se forem retirados ou reduzidos, isso acaba por reduzir o desempenho das empresas e, consequentemente, o dos fundos”, explica o analista da Nova Futura Investimentos.

Como reconhecer um fundo sustentável

A Anbima considera que os fundos sustentáveis são aqueles que têm o investimento sustentável como tese principal, que pode ser ambiental, social e/ou de governança, e, para isso, podem utilizar o sufixo IS (Investimento Sustentável) no nome.

Ainda de acordo com a Anbima, a carteira de fundo sustentável deve estar alinhada ao propósito e nenhum investimento pode comprometer os requisitos definidos para o registro de um fundo.

Além disso, a associação exige que seja feita a divulgação da estratégia, metodologia e dados que dão suporte à gestão da carteira, assim como ações de diligência e monitoramento dos objetivos. Caso sejam utilizados índices como referência, eles precisam estar igualmente alinhados aos compromissos sustentáveis do produto. 

A Anbima alerta ainda que, para os fundos que integram aspectos ESG, mas não possuem o investimento sustentável como objetivo principal, o investidor poderá reconhecê-lo pela frase “esse fundo integra questões ASG em sua gestão”, que poderá constar nos materiais de divulgação do fundo. 

Confira os fundos sustentáveis disponíveis no Brasil ao investidor, segundo a Anbima, e os respectivos desempenhos acumulados desde a abertura:

Eliz Sapucaia, analista da Terra Investimentos, explica que os fundos que seguem as normas ESG utilizam desses filtros, fazendo parte da sua análise de investimento. Entretanto, de acordo com a analista, em sua maioria, esses fundos possuem ativos conhecidos por todos e, no caso de um fundo de renda variável, de forma geral, irá investir em ações. 

“A temática ESG ganha forma e força pouco depois da pandemia. No caso das ações, a reprecificação do valuation das empresas impacta diretamente o valor do ativo, com o aditivo da incerteza do cenário econômico mundial”, destaca Sapucaia.

Bruno Tebaldi, analista de risco da Nova Futura Investimentos, alerta que o investidor deve ter consciência de que a política de fundos sustentáveis tem um preço e que isso significa que, em geral, a rentabilidade desses fundos é menor. “Os critérios de sustentabilidade podem excluir setores inteiros ou empresas com grandes rentabilidades“, pontua Tebaldi.

Por outro lado, Fabio Alperowitch, sócio fundador da FAMA Investimentos, avalia que “a classificação de fundos sustentáveis IS da Anbima é uma ‘excrescência’ e não reflete o artigo 9 do Sustainable Finance Disclosure Regulation europeu, tampouco as normativas estabelecidas pela própria associação”. Segundo ele, estes fundos não são sustentáveis e não devem ser tratados como tal.

Alperowitch explica ainda que a sustentabilidade não “dialoga” com curto prazo e, portanto, qualquer medição de performance deve ser feita a partir de um ciclo longo, sendo de, no mínimo, 5 anos.

“Interpretar resultados de curto prazo em ESG/sustentabilidade significa ferir a essência do conceito”, afirma o sócio fundador da FAMA Investimentos.

Desafios aos gestores

Por precisarem satisfazer critérios prévios, os fundos sustentáveis acabam gerando desafios aos gestores.

Eliz Sapucaia, analista da Terra Investimentos, avalia que o principal desafio é pulverizar ou diversificar o investimento, exigindo uma diligência por parte dos gestores para não concentrar uma grande posição em um único emissor ou empresa.

Outra questão desafiadora, segundo Lucas Muraguchi, da Ouro Preto Investimentos, é o fato de o gestor de um fundo sustentável ter uma parcela menor de ativos em que pode investir. 

“Este limite oferece menor liberdade para o gestor e ele ainda precisa se preocupar com o enquadramento dos ativos às normas da classificação”, destaca Muraguchi.

Já Tebaldi, da Nova Futura Investimentos, alerta que um dos maiores desafios para o gestor é analisar o perfil dos negócios das empresas para definir quais farão parte do fundo. 

“O gestor deve não apenas considerar as informações financeiras da empresa como rentabilidade, futuros projetos e diferencial estratégico no setor, mas também se tem projetos que atendam aos critérios de sustentabilidade, os impactos dos projetos futuros e os planos de sustentabilidade. A seleção pode considerar, ainda, fatores que indicam a capacidade de apresentar tais características”, destaca o analista da Nova Futura.

Atenção dos investidores

Para investir em fundos sustentáveis, Sapucaia, da Terra Investimentos, recomenda que o investidor faça uma análise do posicionamento da gestora e se ela tem ações eficientes relacionadas à temática, além da realização de uma análise tanto qualitativa e quantitativa a gestora. 

“Na análise qualitativa, deve-se verificar a idoneidade da gestora, composição da equipe, tempo de vida da gestora. Quantitativamente, é preciso analisar as métricas de retorno, tempo de recuperação do fundo em relação a sua pior performance e qual é a relação risco-retorno”, sugere Sapucaia.

Já Lucas Muraguchi, da Ouro Preto Investimentos, recomenda que, por estes fundos terem uma política mais restritiva de investimento, os investidores devem atentar para quais são os ativos que compõem a carteira. 

“Estas classificações ainda são, de certa forma, ‘nebulosas’ e não fica claro para o investidor quais as vantagens relevantes, tanto monetárias quanto sociais, de se investir em fundos com classificação ESG ou sustentável em detrimento dos demais”, destaca  Muraguchi.

Tendência?

sustentabilidade

Muraguchi, da Ouro Preto Investimentos, lembra que os fundos sustentáveis, de forma geral, são novos e isso se deve ao fato desse tipo de classificação ser recente. 

“O termo ESG nasceu no Fórum Econômico Mundial em janeiro de 2020 na cidade de Davos. A partir desta data, o mercado começou a estudar estratégias para a estruturação de fundos que atendessem a esta nova demanda. Assim como todo produto ou serviço, é necessário um processo de maturação para que o público sinta maior segurança ao investir”, destaca Maraguchi.

Ele avalia que a tendência é que este mercado cresça, pois possui um apelo psicológico e está só começando. 

Na mesma linha, Sapucaia, da Terra Investimentos, afirma que estes fundos são tendência que começa a ganhar forma e força, uma vez que a temática está cada vez mais forte no mercado financeiro e, por vezes, com clientes que exigem que seus investimentos sigam a preocupação que eles, possivelmente, possuem.

Já Tebaldi, da Nova Futura Investimentos, destaca que os desafios de sustentabilidade global, que vão desde aumento do nível do mar a segurança de dados digitais, estão introduzindo novos fatores de risco que podem não terem sido vistos. Isso, segundo ele, abre espaço para fundos que tem como objetivo não somente obter rentabilidade, mas também atuar, de forma direta ou indireta, nesses temas.

“As razões por trás do aumento repentino no fluxo de capital para investimentos sustentáveis estão, em sua maioria, relacionadas a uma mudança na conscientização dos investidores sobre questões ambientais e sociais. Embora o investimento em fundos sustentáveis seja um movimento em crescimento, ainda existe muita resistência por parte dos investidores devido à rentabilidade mais baixa dos fundos sustentáveis”, afirma Tebaldi.

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